Pelas lentes de quem cuida: o acolhimento residencial de crianças e jovens em perigo na perspetiva dos profissionais das equipas educativas

Abstract

O presente estudo, de natureza qualitativa e desenvolvido com recurso à metodologia da Grounded Theory, teve como principal objetivo averiguar qual a percepção que os agentes educativos de casas de acolhimento de crianças e jovens em perigo possuem relativamente à sua realidade profissional, às crianças e jovens acolhidos e à relação que estabelecem com os mesmos. Foi desenvolvido com 14 cuidadores, na sua maioria do sexo feminino, entre os 27 e os 70 anos de idade (M=36,9; DP=11,6). Os resultados organizam-se em três domínios principais – “Crianças e Jovens”, “Relação” e “Trabalho” – com categorias respectivas que refletem a perceção dos cuidadores no que concerne à sua profissão, à relação que mantêm com os menores acolhidos e à caracterização que fazem dos mesmos. Os dados que emergiram no presente estudo permitiram constatar que os cuidadores colocam os menores no cerne do seu trabalho, estando envolvidos nas diferentes vertentes do processo de cuidar destas crianças e jovens, desde as vertentes mais básicas e assistenciais até às de índole mais educativo e/ou emocional. Os resultados mostraram que, muitas vezes, o seu trabalho acaba por ser bastante exigente, sendo pouco reconhecido. Emergiu, por isso, a necessidade de apoio psicológico e formação dos cuidadores, uma vez que estes reconhecem nem sempre possuir conhecimentos adequados e suporte emocional para responder e satisfazer as necessidades desenvolvimentais quotidianas dos menores acolhidos. Podemos concluir que, independentemente do acolhimento residencial assumir o lugar das famílias de origem dos menores, este pode transformar o risco em oportunidade, se providenciar um ambiente no qual os cuidadores tenham condições para realizar um cuidado de qualidade, habilitando-os para um trabalho assente no desenvolvimento e bem-estar afectivo e educacional das crianças e jovens acolhidos, com vista a um verdadeiro acolhimento terapêutico.

This qualitative study, developed using the methodology of Grounded Theory, aimed to investigate the perception that caregivers of residential treatment centers for children and youth at risk have about their professional reality, the children and youth in care and the relationship they establish with them. It was developed with 14 caregivers, mostly female, between 27 and 70 years old (M = 36.9, SD = 11.6). The results are organized in three main areas - "Children and Youth", "Relationship" and "Work" - with its categories that reflect the perception of caregivers in relation to the minors in care, to the relationship they have with them and to their profession. The data that emerged in this study have recognized that caregivers lay the minors in the center of their work and are involved in different aspects of the process of taking care of these children and young people, from the most basic and welfare aspects to the more educational or emotional. The results showed that, often, the caregiver’s work turns out to be quite demanding, and not correctly recognized. Therefore, emerged the need for psychological support and training of caregivers, since they recognize that they not always have adequate knowledge and emotional support to respond and satisfy the everyday developmental needs of minors in care. We can conclude that, apart the residential care take the place of the origin families of the children and youth, it can turn risk into opportunity, by providing an environment in which caregivers are able to conduct quality care, enabling them to a work based on development, emotional and educational welfare of children and young people in care with a view to a real therapeutic care.