Pneumonia da comunidade Severa : definição, particularidades e factores preditivos para admissão em unidade de cuidados intensivos

Abstract

A pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é uma doença que revela morbilidade e mortalidade significativas. Os doentes mais graves necessitam de hospitalização e por vezes reúnem critérios de gravidade que condicionam o seu internamento na unidade de cuidados intensivos (UCI), constituindo uma das entidades mais frequentes nestes serviços. Apesar de controverso, o termo “severa” é frequentemente atribuído à doença que requer internamento na UCI, constituindo a definição mais comum. Pelos recursos exigidos com o internamento quer ao nível da enfermaria, quer na UCI, reconhece-se como uma entidade com impacto socioeconómico significativo, daí a importância de escalonar correctamente os doentes que reúnem critérios de severidade e que necessitam de internamento. Objectivo do trabalho Propõe-se a realização de uma revisão da literatura que permita elucidar à luz dos conhecimentos actuais diversos aspectos relativos a esta entidade, designadamente clarificar a sua definição, caracterizando aspectos particulares da sua prevalência e história natural, e congregar diferentes directivas já existentes visando definir claramente o grau de severidade, o que determinará um melhor prognóstico e rentabilização de recursos pela instituição precoce da terapêutica adequada. Pretende-se ainda um esclarecimento quanto à identificação sistematizada dos doentes que reúnem critérios para admissão em UCI bem como quanto às implicações em termos de prognóstico resultante da condição de severidade. Desenvolvimento Para definir a PAC severa (PACS) há que atender a parâmetros que incluem a fisiopatogenia, os factores risco/co-morbilidades associados e o processo diagnóstico em termos clínicos, PAC Severa: Definição, Particularidades e Factores Preditivos para Admissão em Unidade de Cuidados Intensivos R Ferreira, S Freitas 3 laboratoriais (diagnóstico etiológico) e imagiológicos. Desenvolveram-se vários scores/índices de gravidade para escalonar apropriadamente os doentes que requerem internamento. A sua aplicação estratifica a severidade e prediz o prognóstico. Vários factores estão implicados no prognóstico, nomeadamente a maior duração do internamento ou um timing de admissão mais tardio. Avaliou-se igualmente a utilidade prognóstica de biomarcadores como a pró-calcitonina, proteína C reactiva, algumas interleucinas e o cortisol plasmático, bem como o status socioeconómico, variabilidade genética, toma de anti-inflamatórios não esteróides, ventilação mecânica e o seguimento das guidelines. Conclusões A definição mais consensual de PACS continua a ser a que implica internamento em UCI, apresentando-se o Streptococcus pneumoniae como o agente etiológico mais frequente. Dos diversos scores de gravidade disponíveis, as directivas IDSA/ATS 2007 revelaram-se como as mais equilibradas, pelo que a sua aplicação se traduziu num impacto prognóstico positivo significativo. Em termos futuros, prevê-se que o desenvolvimento da investigação na área dos biomarcadores inflamatórios poderá incrementar a acuidade diagnóstica e prognóstica nesta patologia

The community-acquired pneumonia (CAP) is a disease responsible for significant morbidity and mortality. The most critical patients require hospitalization and sometimes meet severity criteria that determine their admission in the intensive care unit (ICU), being one of the most common situations in these services. Although controversial, the term "severe" is often attributed to the disease that requires admission to ICU, being the most common definition. Given the amount of resources it requires, not only in the ward but also in the ICU, the CAP is recognized as an entity with significant economic impact, hence the importance of properly scaling the patients who meet the criteria for severe CAP and require hospitalization.

This article seeks to review the literature to clarify the current knowledge over several aspects of this entity, including its definition, its prevalence and natural history, and to sum up various existing directives in order to clearly define the degree of severity, which determines the prognosis and allows a faster appropriate response as well as a better resources management. This review also aims at establishing a method of identifying the patients that meet the ICU admission criteria and at assessing the prognosis implications of their severity level.

To define severe CAP (SCAP) one should consider parameters that include the pathophysiology, risk factors/comorbidities and associated diagnostic elements such as clinical, laboratory (etiology) and imaging findings. Several severity scores were developed to scale appropriately patients requiring hospitalization. Their application stratifies the severity and predicts prognosis. Several factors are implicated in worse prognosis, including length of stay in ICU and delayed admission. The prognostic value of biomarkers such as procalcitonin, C-reactive protein, plasma cortisol and some interleukins, as well as socioeconomic status, genetic variability, anti-inflammatory drugs intake, mechanical ventilation and monitoring of guidelines was also assessed. In conclusion, the most commonly agreed definition of SCAP continues to be a CAP that requires hospitalization in ICU, being the Streptococcus pneumoniae the most frequent etiologic agent. Among the various severity scores available, the directives IDSA / ATS 2007 turned out to be the most balanced and its application has resulted in a significant positive impact on prognosis. It is expected that future research on inflammatory biomarkers may improve the diagnostic accuracy and prognosis in this disease