Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/24027
Title: Por um novo corpo, por um novo olhar
Authors: Neto, Ana Filipa 
Orientador: Providência, Paulo
Keywords: Loos, Adolf, 1870-1933, obra
Issue Date: Jun-2013
Citation: Neto, Ana Filipa Madeira de Oliveira - Por um corpo, por um olhar : uma análise da obra de Adolf Loos. Coimbra, 2013
Abstract: Introdução As mudanças intelectuais demoram o seu tempo a maturar pelo que a origem do que chamamos Modernidade não está tão próxima como podemos crer. Aprendemos ao longo do curso de Arquitectura, nomeadamente na cadeira de História da Arquitectura Contemporânea, que, de forma simplificada, o Movimento Moderno tem o seu gérmen na época Arts and Crafts/Arte Nova ou na produção singular de arquitectos como Adolf Loos. Estas abordagens enfatizam aspectos de natureza estilística mas, na nossa experiência de projecto, sabemos que aquilo que nos diferencia ou aproxima desses inícios do modernismo está mais relacionado com aspectos decorrentes de como concebemos a arquitectura tais como o significado da construção, o papel da função no projecto ou o espaço arquitectónico enquanto desejo de adequação ao uso e vivência. Entre esses aspectos, o espaço é porventura, do ponto de vista ontológico, o que adquire predominância. O presente trabalho pretende volver até esse início de século XX, de modo a perceber onde se encontra raiz da moderna ideia de espaço. Gottfried Semper (1803-1879), “o melhor arquitecto da sua época”2, abordava o espaço em muitos dos seus escritos e, ainda que não lhe tenha dado uma importância destacável, despertava a consciência nos seus sucessores, levando a que o primeiro reconhecimento de uma ideia consciente de espaço arquitectónico fosse formulada, entre 1873 e 18933, por autores como: Robert Vischer (1847-1933) em “Sobre o Sentido Óptico da Forma: uma contribuição para a Estética” (Über das Optische Formgefühl: Ein Beitrag zur Aesthetik, 1873), onde introduzia o termo Einfühlung; Heinrich Wölfflin (1864-1895), que questionava como poderia a arquitectura expressar emoções ou estados de espírito em “Prolegómenos para a Psicologia da Arquitectura” (Prolegomena zu einer Psychologie der Architektur, 1886); Adolf Hildebrand (1847-1921) que, em “O problema da Forma nas Belas Artes” Das Problem der Form in der Bildenden Kunst 1893), estabelecia a dicotomia entre cinestésico e visual. A obra deixava, neste contexto, de ser interpretada como algo estático para ser algo que responde às diferentes formas de percepção4. O movimento do corpo é encarado como central pois é ele que define o espaço o que levou August Schmarsow (1853-1936), em “A Essência da Criação Arquitectónica” (Das Wesen der architektonischen Schöpfung, 1893), a defender que a arquitectura não pode ser entendida excepto quando experimentada, algo que não se resume a uma questão de percepção visual mas ao corpo em movimento, à cinestesia.5 A obra de Adolf Loos (1870-1933) constitui um novo entendimento da arte de projectar, algo que a sua teoria do Raumplan parece realçar: esta dissertação pretende, assim, demonstrar os fundamentos bem como as consequências dessa concepção, que incorpora o movimento como terceiro elemento. O objectivo passa por explorar a origem do subjectivismo e intencionalidade kantiana, da simbologia e dinamismo da visão de Arthur Schopenhauer (1788-1860) e Gottfried Semper, da Teoria da Empatia e da corporeidade de Schmarsow e perceber as suas consequências no campo da arquitectura. Pretende-se abordar as teorias em torno dos conceitos de Raum (espaço) e Bekleidung (revestimento), enunciadas nas últimas três décadas do século XIX, e perceber as implicações que tiveram na prática arquitectónica, nomeadamente na formulação do conceito de Raumplan e em particular nas habitações projectadas por Loos, numa posição que valorize as atitudes subjectivas de apreensão espacial e a sua respectiva inclusão no acto de projectar. Paralelamente, neste século, as mudanças no campo da fisiologia levavam a um novo entendimento da percepção e do corpo, algo que, de igual modo, se reflectiria nestas teorias. Posteriormente, tendo o corpo e o seu ritmo como ponto de partida6, ou seja, encarando o movimento como elemento de concepção do espaço, demonstra-se pertinente estudar a obra de Adolf Loos como figura presente no enredo desta amálgama cultural e de produção filosófica, tentando apreender como funciona uma das primeiras obras arquitectónicas consciente do moderno conceito de espaço. Em suma, Loos assume uma importância primordial como intelectual, teórico e escritor, além de criador. É nos seus escritos irónicos, os quais demonstram o seu espírito inquieto, que nos é possível encontrar origens filosóficas de determinados conceitos e transportá-las para as suas obras arquitectónicas, para a sua teoria do Raumplan, segundo a qual, em arquitectura, o que comanda, o que realmente vale é o espaço, pois requer a vivência que resulta do movimento influenciado pelas distâncias, volumes, luzes, cores, projecções, além das expectativas do habitante. A apreciação estética e técnico-construtiva dos edifícios é, de longe, tema predominante nas discussões da teoria da arquitectura. A condição espacial7 surge, demasiadas vezes, como descritiva. “Todo o resto é importante, ou melhor, pode sê-lo, mas é função da concepção espacial. Todas as vezes que, na história e na crítica, se perde de vista essa hierarquia de valores, gera-se a confusão e se acentua a desorientação em matéria de arquitetura.”8 Assim, urge recuperar o tema da condição espacial e as suas implicações na vida humana, não limitando o entendimento do espaço arquitectónico aos seus aspectos utilitários e tecnológicos mas percebendo os seus valores sensoriais e intuitivos. A dissertação está dividida em três momentos principais, sempre suportados por ideias de Adolf Loos que se destacarão, em itálico, ao longo do texto. Os dois primeiros, cultura e euritmia, introduzem os conceitos para o desenvolvimento do terceiro, onde se apresentam aspectos da obra de Adolf Loos à luz do que é tratado anteriormente. O primeiro pretende constatar o nascimento de uma nova visão artística através do enquadramento das transformações culturais e filosóficas que se iniciam no século XVIII e se estendem ao século XIX. Para ilustrar o contexto sobre o qual trabalhamos socorremo-nos da ideia loosiana de que o corpo é cultura, e de que a maneira como este se adorna é símbolo do avanço/atraso cultural de um povo. Posteriormente, demonstra-se importante perceber a origem do conceito de espaço (Raum) como entidade e os princípios gerados a partir do seu estudo; é essencial, no âmbito da arquitectura, uma avaliação da forma dos espaços e da interacção destes com o nosso corpo, uma vez que a dimensão e o valor da espacialidade são naturalmente dados pelo corpo - pelo modo como ocorre a acomodação do corpo ao espaço e pelo modo como este corpo, objecto inserido no espaço, o percepciona enquanto se move. Para isso, na segunda parte, exploram-se os conteúdos teóricos em torno das ideias de percepção e espaço, de corpo e ritmo e as consequências filosóficas que tiveram na época. Nesta linha de pensamento, aborda-se o conceito de Euritmia, que se traduz no tempo e no espaço, e procura-se um paralelo entre as obras de Adolph Appia (1862-1928) e os cenários de Loos, buscando provar que em ambas as obras o espaço é determinado pelo ritmo. A última parte é referente ao estudo do Raumplan, como conceito contaminado por estas teorias. Partindo do pressuposto que "o único legado que o arquitecto pode deixar é o que foi construído"9, faz-se uma análise da obra de Loos segundo as características que acreditamos defini-la.10 Procura-se, portanto, demonstrar que a modernidade da sua arquitectura é fruto de um ambiente cultural e filosófico muito próprio, dando origem a uma obra pura, de carácter simbólico, em que o plano do habitar é notoriamente produto de um esquema sensorial construído através da forma do espaço arquitectónico e pelo modo como este é “vestido”. Por fim, em jeito de conclusão, pretende-se demonstrar a importância da sua obra, tanto teórica como prática, na História da Arquitectura – uma obra que se propõe recuperar o curso natural da História, “não obstante” da apologia por uma modernidade.
Description: Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, apresentada ao Departamento de Arquitectura da F. C. T. da Univ. de Coimbra
URI: https://hdl.handle.net/10316/24027
Rights: openAccess
Appears in Collections:UC - Dissertações de Mestrado
FCTUC Arquitectura - Teses de Mestrado

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