Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/23337
Title: Martyrologium Lamecense
Authors: Barradas, Aurélio Paulo da Costa Henriques 
Orientador: Silva, Saúl António Gomes da
Ribeiro Rebelo, António Manuel
Issue Date: 23-Apr-2013
Citation: BARRADAS, Aurélio Paulo da Costa Henriques - Martyrologium Lamecense. Coimbra : [s.n.], 2013. Tese de doutoramento.
Abstract: Martinho Gonçalves terminou, em 1262, o trabalho que Afonso Pais, a expensas próprias, lhe havia encomendado, o Martyrologium Lamecense . Escolar de Bolonha, o exdeão decerto teria conhecido, por essas paragens por onde andou, belos exemplares desse livro litúrgico que não sendo destinado ao ofício divino, tinha importância para a memória dos bem-aventurados de Deus que a Igreja, desde os primórdios, tinha tido o cuidado de preservar. Não era um livro que se encontrasse em todos as libraria monásticas e capitulares, porque o exercício dessa memória venerável poderia ser alcançado através do auxílio de um calendarium. Daí que a existência de um martirológio como liber Capituli no Cabido de Lamego do século XIII, levamos a considerar o grau de erudição desta comunidade que teve prelados e clérigos ilustres. Um martirológio não é um livro isolado. Sendo uma realidade autónoma, geralmente surge no mesmo códice que o obituário, parceria decorrente de ambos terem a sua leitura no capitulum. No caso particular sobre o qual fazemos comentário, o martirológio, além de se encontrar coligido com o obituário, está inserido num códice compósito, o Livro 1. do Registos de Óbitos do Cabido da Sé de Lamego (Torre do Tombo, PT/TT/CSLM/012/0001). Nele foram compendiados vários documentos de natureza e finalidade diversas. Aí encontramos testamentos, doações, formulários, orações da hora prima, descrição de legados pios, texto musical de antifonário, uma inquirição episcopal e uma “relação de cera”, um texto sobre os «quindecim signa diei iudici» e o «Chronicon lamecensis». É um códice que nos traz até 1556, data do último documento assinado pelo bispo D. Manuel de Noronha. O Martirológio da Sé de Lamego é um martirológio completo que se compõe em 86 fólios. Está escrito numa bela gótica librária e é texto de uma só mão, tendo recebido, em fase posterior, contributos colocados nas margens dos fólios, mas em número reduzido. A sua estrutura de calendário, de acordo com o normativo do calendário romano, não difere dos seus congéneres. Ainda assim, fugindo à prática mais comum, inicia-se no dia 1 de janeiro com a Circumisio Domini e não no dia 24 de dezembro com a Vigilia Domini, como era usual. Os seus elogios dividem-se em dies natales e commemorationes (festae, depositiones, translationes e inventiones). Relativamente ao seu universo onomástico, contabilizam-se 1949 nomes. No âmbito da toponímia, registam-se cerca de 400 nomes de regiões, províncias, cidades, ilhas e rios. O Martyrologium Lamecense é herdeiro de uma larga tradição deste género de livro litúrgico. Não é o único em Portugal, mas é verdadeiramente singular pelas caraterísticas que nele podemos observar. Ao contrário de outros, não teve uma fonte exclusiva que tivesse formatado o seu texto. Deste ponto de vista, poderíamos considerá-lo uma compilatio. De facto, tendo como base os martirológios de Ado e Usuardo, resulta de um nem sempre identificado corpus de fontes que ao longo do tempo foram tecendo uma rede, que hoje não é fácil estratificar com clareza. Na globalidade do santoral presente no martirológio, o santoral português evidencia-se pela sua expressão diminuta. Uma das particularidades mais relevantes do Martyrologium Lamecense é a presença, verdadeiramente invulgar num documento desta natureza, de tantos elementos do cômputo: os versos relativos à entrada do Sol nas constelações do zodíaco; os versos dos dies aegyptiaci; o cálculo do equinócio e do solstício relativo à duração do período diurno e do período nocturno; os dias do mês solar e do mês lunar. Martinho Gonçalves, «publicus Tabellio domni Regis Portucale in Lameco», escreveu o Martyrologium Lamecense para a leitura dos cónegos do Cabido na hora prima. À sua novidade, nesse ano de 1262, seguiram-se muitos anos, muitos dias do seu normal uso, muitas vezes indiferente à cor das suas letras que o atril mal iluminado não deixava sobressair. Hoje, depois de ele próprio ter fugido à memória durante muito tempo, aparece diante de nós já não como um livro litúrgico, mas como um livro capaz de oferecer múltiplas leituras sobre as pessoas e os seus quotidianos, sobre o tempo em que o tabelião fez dele o primeiro dos libri Capituli.
Martinho Gonçalves ended, in 1262, the work which Afonso Pais, on his own expenses, had asked him, the Martyrologium Lamacense. Being a scholar from Bologna, the former dean would for sure had seen, in all the places he had been, beautiful examples of that liturgical book. Though it was not meant to church use, it was important for the memory of those blessed by God and which the Church, for so long, had had the task to preserve. It was not a book you could find in all the monastic and capitular libraria because the exercise of the honorable memory could be reached with the help of a calendarium. That’s why the existence of a martyrologic like liber Capituli in the eighteenth Cabido of Lamego makes us assume that there was a high level of knowledge in this community that had prominent prelates and clerks. A martyrologic is not an isolated book. Being a separate reality, it often comes in the same codex of the obituary, due to both of them having their reading in the capitulum. In the specific case we are commenting on, the martyrologic, besides being connected with the obituary, it is also inserted in a codex with various elements, Book 1 from the obituary register of the church of Lamego (Torre do Tombo, PT/TT/CSLM/012/0001). In it, several documents of different origins and nature were put together. There we can find wills, donations, forms, prayers of the hora prima, the description of devout legacies, an Episcopalian questioning and a “wax account”, a text about the «quindecim signa diei iudici» and the «Chronicon lamecensis». It is a codex that brings us until 1556, date of the last document signed by the bishop D. Manuel de Noronha. The martyrologic of the Church of Lamego is a complete book with 86 pages. It is written in a beautiful, black, librarian gothic style, and it is a one-hand book, having received, later on, contributes placed on the sheets margins but in reduced number. Its structure of a calendar, according to the normative roman calendar, does not differ from its counterparts. Nevertheless, skipping the most common practice, it begins on the 1st of January with the Circumsio Domini and not on the 24th of December with the Vigilia Domini, as usual. Their praises divide in dies natales, the Festae (commemorations) and depositiones (translationes e inventiones). Regarding the universe of names, we can count 1949 of them. Related to toponymy, 291 names and cities are registered. The Martyrologium Lamecense is the heir of a large tradition of this kind of liturgical book. It is not unique in Portugal but it is truly singular by the features we can observe. Unlike the others, it did not have an exclusive source that had restrained its text. From this point of view, we could consider it a compilation. In fact, having as base the martyrologic of Ado and Usuardo, it results of a not always identified cluster of sources that over time have woven a net and which today is not easy to clarify. The Portuguese set of saints has a slim expression. One of the most relevant particularities of the Martyrologium Lamecense is the presence, truly unusual in a document of this nature, of so many elements related to the counting of time: the verses related to the entrance of the sun in the zodiac constellations; the verses of the dies aegyptiaci; the calculus of the equinox and of the solstice, regarding the length of the day and night periods; the days of the solar and lunar months. Martinho Gonçalves, “publicus Tabellio domni Regis Portucale in Lamego”, wrote the Martyrologium Lamecense for the reading of Cabido canons in the hora prima. After its novelty, in that year of 1262, many years and days of common use followed, quite often indifferent to the colour of its letters that the poorly illuminated lectern didn’t let shine. Nowadays, after having escaped for so long the memory of time, this book appears to us not just as a liturgical book but as a book capable of offering multiple readings about people and their daily routine, about a time where the notary made it the first of the libri Capituli.
Description: Tese de doutoramento em Letras, área de História, na especialidade de História da Idade Média, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
URI: https://hdl.handle.net/10316/23337
Rights: openAccess
Appears in Collections:FLUC Secção de História - Teses de Doutoramento

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