Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/23292
Title: Significado e emoção
Authors: Pinto, Rui Filipe 
Orientador: Gonçalves, José Fernando
Keywords: Lewerentz, Sigurd, 1985-1975, obra; Arquitectura, estudos
Issue Date: Jan-2013
Citation: Pinto, Rui Filipe Gonçalves - Significado e emoção : a partir da arquitectura de Sigurd Lewerentz. Coimbra, 2013
Abstract: Do latim significatus, que significa sentido ou sinal, o significado é um termo que, de uma forma ou de outra, tem figurado em um grande número de disputas filosóficas durante a segunda metade do séc. XX. Sem a mesma profundidade de um estudo filosófico, a questão do significado é uma problemática que me acompanha desde um tempo que já não consigo recordar. Ainda antes do meu percurso académico comecei a indagar-me sobre o significado das coisas, sobre a relação entre a experiência de um objecto e o sentido que lhe deu origem. Interroguei-me continuamente sobre o porquê. Porque seria mais agradável a cadeira de meu avô que a da minha escola? Porque sabia melhor a água naquela caneca de barro que a minha avó teimava em deixar fora do meu alcance? Porque razão me sentiria tão abraçado e protegido sempre que brincava no velho casão? Há qualquer coisa de intrigante, de misterioso, neste sentimento que alguns objectos despertam em nós. Com a entrada no curso de arquitectura estas dúvidas apenas se intensificaram. Eu não só pensava enquanto sujeito de uma acção sobre um objecto, mas também enquanto indivíduo que lhe podia dar origem, isto é, sobrepunha-se nessa altura um problema directo preso com a minha intencionalidade, com a mensagem que eu queria transmitir. O que significa isto? O que pretende isto ser? O que vão sentir aqui as pessoas? Nestas perguntas que me surgiam diariamente durante o processo de projecto havia muito esta arrogância, quanto a mim natural e inocente, de querer fazer sentir algo, ou seja, de querer transmitir a alguém (um ser imaginário porque afinal de contas tratavam-se de projectos académicos), através de um qualquer recurso, uma determinada sensação projectada a partir de mim mesmo. Havia sempre uma vontade pessoal, centrada em cumprir as necessidades funcionais de um programa, à qual sentia necessidade de juntar algo mais; à razão quis juntar emoção. Acredito que, e tomo de empréstimo as palavras de Zumthor, O processo de projectar baseia-se numa cooperação contínua entre o sentimento e o intelecto. As emoções, preferências, ânsias e cobiças que surgem e tomam forma devem ser examinadas com um raciocínio crítico. É depois o sentimento que nos transmite se os pensamentos abstractos são coerentes. (…) a verdadeira substância da arquitectura é originada, no meu entender, pela emoção e inspiração.1 A esta forma pessoal de fazer, ou melhor, de pensar sobre arquitectura, juntavamse os projectos que fui conhecendo nos livros e a experiência das visitas de estudo: durante todos os anos do curso percorri, com amigos e professores, edifícios fantásticos (e outros nem tanto); relembro pormenorizadamente alguns deles, sendo que de outros pouco mais que uma imagem me resta. Voltava agora, de forma mais madura e intelectual, a questão que já se abatia sobre mim há muito tempo: que qualidade, ou que características possuem estes edifícios, ou objectos, que os tornam tão apetecíveis à minha memória? Porque diabo me tocam estas obras?2 Este sentimento, de que, de alguma forma, havia objectos com os quais me identificava, coisas pelas quais nutria uma especial empatia incomodava-me, porque de repente, parecia-me imperceptível essa associação, isto é, eu não conseguia perceber o porquê desse fenómeno. Das piscinas de Leça, ao museu dos Judeus em Berlim, várias foram as obras que me impressionaram de uma forma particular; pareciam-me carregadas de significado, de emoção, mas como se constrói objectos assim? Como se constrói o significado e a emoção? Perguntei-me eu a mim mesmo tantas vezes. A leitura do livro As Built, uma monografia do ateliê inglês Caruso St. Jonh, mostroume a obra de um outro arquitecto: pertencia a outro tempo, chamavam-lhe de mestre, Sigurd Lewerentz de seu nome. Aquele texto, Sigurd Lewerentz y una base material de la forma, captou a minha atenção. As palavras de Adam Caruso, e as imagens das obras de Lewerentz, produziram em mim uma sensação de estranheza; ainda não era a obra na sua totalidade que ali estava presente, mas aquela mistura de palavras e imagens, juntamente com a minha imaginação, tiveram em mim um impacto que, tal como aconteceu em alguns edifícios, eu não conseguia explicar. Com o tempo fui aprofundando o meu conhecimento da obra deste arquitecto, embora não tivesse experienciado a sua obra fisicamente, comecei a compreender algumas coisas: as formas albergavam de forma funcional os programas que lhes correspondiam, eram edifícios bonitos, eu pelo menos sentia-me fascinado pela aparência estética daqueles objectos; mas não era só isso, comecei a denotar, mesmo antes de lá ter estado, que havia questões que trespassavam a simples realidade física; a forma, com Lewerentz, dava lugar a uma emoção, isto é, era possível depreender naquelas obras significados que não estavam fisicamente ali – tudo parecia revelar o seu sentido. Ao partir para este trabalho de dissertação pareceu-me importante aproveitar a oportunidade para pensar sobre estas questões que me acompanhavam. Na obra de Lewerentz encontrei um amparo e um objecto de estudo. Visitei as obras e congratulei-me com a satisfação de tudo ser como esperava, melhor, de ser melhor do que esperava. Quando se tem demasiadas expectativas, ou se conhece muito de uma coisa, o medo da desilusão é uma questão que está marcadamente presente (mas não foi este o caso). Assim este trabalho terá como objectivo retomar um assunto pendente no meu percurso (o que não invalida que se possa indexar ao percurso de outros), a partir de um momento pessoal marcante: a experiência do significado na obra de Lewerentz. Definir a questão e a sua génese é o ponto de partida. Percebendo primeiro a origem da colocação do problema, isto é, porque existe esta diferença entre objectos que parecem refundir-se numa abstracção intangível, e outros nos quais o sujeito se revê e depreende significados. Os primeiros prendem-se numa abstracção que leva ao descomprometimento para com o sujeito enquanto habitante do mundo. Por oposição, temos uma outra qualidade de edifícios, que se conectam com o ser humano, que evocam emoções; usando as palavras de Dan Graham, este tipo de arte irradia ante un testigo (sujeto) que debe dar cuenta de ella, acogiéndola, reconociéndola. Tal testimonio constituye la intervención y la instalación de la cual puede derivar un mundo transfigurado.3 O significado em arquitectura parece começar neste processo, da interacção entre um sujeito e uma obra. Partindo desta ideia, este trabalho centra a questão a partir das condições que podem definir, em certa medida, a interacção que o Homem estabelece com o mundo que o envolve, relacionando-as com a arquitectura de Sigurd Lewerentz, onde se foram encontrando materializadas algumas dessas proposições. Naturalmente, seguir-se-ão questões que, apoiadas pelos textos de alguns autores, e pela experiência deste próprio autor, buscarão hipóteses de explicação para esta problemática. Sem nunca promover uma espécie de verdade irrefutável, este trabalho almeja apenas alcançar uma visão, justificada, de um problema que é adstringente à potência da construção arquitectónica.
Description: Dissertação de Mestrado Integrado em Arquitectura, apresentada ao Departamento de Arquitectura da F. C. T. da Univ. de Coimbra.
URI: https://hdl.handle.net/10316/23292
Rights: openAccess
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FCTUC Arquitectura - Teses de Mestrado

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