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Title: O sistema de coros nas sés portuguesas dos séculos XV e XVI
Authors: Gomes, Paulo Fernando Sequeira Varela 
Keywords: Sistema de coros -- séc. XV e XVI; Catedrais portuguesas -- séc. XV e XVI
Issue Date: Apr-2012
Citation: GOMES, Paulo Fernando Sequeira Varela - O sistema de coros nas sés portuguesas dos séculos XV e XVI . Coimbra : [s.n.], 2012. LIÇÃO incluída nas Provas para o título académico de Agregado.
Abstract: Introdução O objectivo desta lição é mostrar que se criou nas catedrais portuguesas durante a Primeira Idade Moderna um modo ou sistema de coros específico e diferente daqueles que existiram nas catedrais de outras regiões da Europa. Este sistema caracteriza-se pela existência simultânea de um coro baixo situado no presbitério e de um coro alto suspenso na retro-fachada ocidental, não sendo este último uma tribuna para a música mas um coro completo com funções partilhadas com o coro de baixo. O sistema teve origem em igrejas monásticas e funcionava desde pelo menos o século XI no sul da França actual e em algumas regiões da Península Ibérica mas só em Portugal parece ter sido sistematicamente utilizado em catedrais, não existindo nos outros reinos ibéricos (há apenas uma mão cheia de casos na Catalunha, em Castela e na Estremadura espanhola, quase todos em igrejas colegiadas), e menos ainda nas catedrais de França, da Inglaterra, dos estados da Europa central e dos estados italianos (pelo menos no centro e norte da Itália). O sistema de coros a que me refiro pode portanto ser designado legitimamente por sistema português, embora a sua instalação nas sés portuguesas não tenha sido linear nem, em alguns casos, irreversível. A razão pela qual este sistema foi criado é da mesma ordem daquela que levou a alterações mais ou menos profundas dos sistemas de coro medievais nas catedrais europeias no quadro da chamada Pré-Reforma, um processo multifacetado que decorreu entre o século XIV e o século XVI, culminando no Concílio de Trento (1545-1563). Durante esse processo procurou reformar-se o funcionamento das catedrais no sentido de uma mais eficaz separação entre os cónegos e os leigos e de uma maior centralidade no culto eucarístico. As medidas postas em prática para tal começaram muito antes do concílio de Trento e tiveram início nos reinos ibéricos entre os séculos XIV e XV, antes do norte da Itália onde a reforma também ocorreu muito cedo (início do século XVI). Não existe publicado até ao momento qualquer estudo geral sobre a relação entre arquitectura e liturgia nas catedrais portuguesas, quer dizer, sobre a disposição do seu espaço interno e os usos das diversas partes da catedral. O presente texto tem como única pretensão estimular futuras investigações sobre este tema - que tem sido alvo de muitas publicações em vários países da Europa na última década. Restrinjo a minha análise à alteração pela qual passou o sistema de coros das catedrais portuguesas entre os séculos XV e XVII, no quadro da Pré-Reforma e da Reforma Católica, ficando de fora a Idade Média e o essencial da Idade Moderna. Na primeira parte da lição, resumo de forma abreviada as principais funções do coro catedralício e distingo esquematicamente os sistemas de coros existentes na Europa no século XVI de modo a destacar aquela que me parece ter sido a originalidade do sistema que, no início desse século, se afirmou em Portugal. Seguidamente, começo a discutir o caso da Sé Velha de Coimbra, a catedral portuguesa sobre cujo sistema de coros há mais dados publicados mas da qual sabemos ainda pouco do ponto de vista da organização do espaço interno, e examino as sés portuguesas construídas até ao século XVI de modo a sublinhar que a alteração que deu origem ao sistema português de coros sucedeu entre meados do século XV e meados do século XVI. Esta alteração decorreu de modo ainda muito mal esclarecido nos seus pormenores mas de resultado sem ambiguidade: no final desse período de transição, todas as catedrais portuguesas existentes excepto Leiria contavam com dois coros, um deles situado sobre a entrada ocidental e outro em baixo, quase sempre confinado à abside. No ponto seguinte, resumo o que entre nós se publicou sobre a origem monástica deste sistema de dois coros e sugiro que a reforma ocorrida no convento de Cristo de Tomar no primeiro terço do século XV pode ter tido muita importância na criação do sistema. Por fim descrevo brevemente o funcionamento do sistema de dois coros. A segunda parte da lição começa por analisar as sés construídas de novo no século XVI – em particular as de Leiria e Angra. Em cinquenta anos, entre 1550 e 1600, sete novas catedrais correspondendo a sete novas dioceses vieram juntar-se às dez existentes em Portugal até então, oito fundadas na Idade Média, uma no século XV (Guarda), outra no início do século XVI (Funchal). Além disso, quase todas as sés pré-quinhentistas foram remodeladas, por vezes muito profundamente, entre o final do século XV e a primeira metade do século XVI. As catedrais criadas após 1550 foram Leiria, Portalegre e Miranda-do-Douro no território continental e europeu da monarquia portuguesa, Angra nos Açores, Ribeira Grande em Cabo Verde, Salvador da Baía no Brasil e Goa na Índia. Discuto apenas os casos de Leiria e Angra, porque na primeira catedral pode ter surgido um sistema de coros excepcional (um coro único situado no presbitério), e na segunda foi construída uma cabeceira relacionada com o coro que é única no panorama português da Idade Moderna. Concluo a lição regressando à Sé Velha de Coimbra depois de Trento para examinar alguma documentação parcialmente nunca estudada sobre as alterações pelas quais passou o sistema de coros desta catedral entre o final do século XVI e o início do século XVIII, no sentido de deixar pistas para futuras investigações e de modo a clarificar que o sistema de coros português não ficou fixado em Quinhentos, antes passou por várias alterações subsequentes cuja evolução não é conhecida nos seus traços gerais.
Description: Lição apresentada para Provas de Agregação em Arquitectura, especialidade de Teoria e História da Arquitectura
URI: https://hdl.handle.net/10316/19991
Rights: openAccess
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