A anedonia no período-pós parto: Fatores de risco e o papel das dificuldades de regulação emocional na relação entre a solidão e a anedonia em mulheres portuguesas

Abstract

Objetivos: O presente estudo procurou explorar os níveis de anedonia em mulheres portuguesas no período pós-parto, com e sem sintomatologia depressiva clinicamente relevante. Para além disso, explorou a associação entre características sociodemográficas e clínicas e os níveis de anedonia e procurou examinar a relação entre solidão e anedonia, bem como o efeito indireto das dificuldades de regulação emocional nesta relação. Método: Este estudo transversal utilizou uma amostra composta por 525 mulheres portuguesas que tinham tido um bebé nos últimos 12 meses. As participantes responderam a um questionário online que integrava os instrumentos de autorresposta Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo (EPDS), Escala de Prazer de Snaith-Hamilton (SHAPS), Escala de Solidão (ULS-6) e a Escala de Dificuldades na Regulação Emocional - Versão curta (DERS-SF). Resultados: Observaram-se níveis mais elevados de anedonia em mulheres no período pós-parto com sintomatologia depressiva clinicamente relevante (M = 30.76, DP = 8.14). Além disso, verificou-se que o nível educacional, a existência de história prévia de perturbação psicológica/psiquiátrica, a presença atual de psicopatologia e a presença de sintomatologia depressiva clinicamente relevante se correlacionaram significativamente com os níveis de anedonia. Adicionalmente, verificou-se que a solidão se associou significativamente com a anedonia, tanto de forma direta como de forma indireta através das dificuldades de regulação emocional (efeito indireto = 0.17, SE = 0.02, 95% BCaCI = [0.05, 0.14]). Conclusões: A anedonia parece assumir um papel relevante na gravidade da depressão pós-parto e um nível educacional mais baixo, a existência de história prévia de perturbação psicológica/psiquiátrica, a presença atual de psicopatologia e a presença de sintomatologia depressiva clinicamente relevante verificaram-se como possíveis fatores de risco para um aumento desta sintomatologia. Para além disso, a solidão e as dificuldades de regulação emocional poderão, igualmente, ser fatores de risco que contribuem para o aumento dos níveis de anedonia. Este estudo enfatiza a relevância de avaliar os níveis de anedonia isoladamente durante a triagem e intervenção em mulheres no período pós-parto, quer estas apresentem ou não sintomatologia depressiva clinicamente relevante, como forma de prevenir e/ou diminuir a prevalência e impacto do mesmo.

Objectives: This study aimed to explore anhedonia levels in Portuguese postpartum women, both with and without clinically relevant depressive symptoms. Furthermore, it sought to explore the association between sociodemographic and clinical characteristics and anhedonia levels and to examine the relationship between loneliness and anhedonia, as well as the indirect effect of emotional regulation difficulties on this relationship. Method: This cross-sectional study used a sample consisting of 525 Portuguese women who had had a baby in the last 12 months. Participants completed an online questionnaire that included self-report measures such as the Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPDS), Snaith-Hamilton Pleasure Scale (SHAPS), Short-form UCLA Loneliness Scale (ULS-6) and Difficulties in Emotion Regulation Scale - Short Form (DERS-SF). Results: Higher anhedonia levels were observed in postpartum women with clinically relevant depressive symptoms (M = 30.76, SD = 8.14). Furthermore, it was found that the educational level, the existence of a previous history of psychological/psychiatric disorder, the current presence of psychopathology and the presence of clinically relevant depressive symptoms were significantly correlated with anhedonia levels. Additionally, it was found that loneliness was significantly associated with anhedonia, both directly and indirectly through emotional regulation difficulties (indirect effect = 0.17, SE = 0.02, 95% BCaCI = [0.05, 0.14]). Conclusions: Anhedonia appears to play a relevant role in the severity of postpartum depression and a lower educational level, the existence of a previous history of psychological/psychiatric disorder, the current presence of psychopathology and the presence of clinically relevant depressive symptoms were found to be possible risk factors for an increase in this symptomatology. Additionally, loneliness and emotional regulation difficulties may also be risk factors that contribute to an increase in anhedonia levels. The study highlights the relevance of evaluating anhedonia levels separately during screening and intervention in postpartum women, whether they present clinically relevant depressive symptoms or not, as a way of preventing and/or reducing its prevalence and impact.