Impacto da Pandemia COVID-19 no acompanhamento de doentes pós-cirurgia bariátrica

Abstract

Introdução: A Organização Mundial de Saúde, define obesidade como uma acumulação anormal ou excessiva de gordura corporal, que apresenta riscos para a saúde. A cirurgia bariátrica e metabólica é destinada a indivíduos com obesidade mórbida. A pandemia de COVID-19 emergiu como um desafio a nível global, com implicações para a saúde pública e para a sociedade em geral. As estratégias de contenção implementadas, incluindo confinamentos, produziram mudanças no estilo de vida das populações, levantando questões sobre o seu impacto no acompanhamento de doentes submetidos a cirurgia bariátrica. Objetivo: quantificar a percentagem de perda de peso e a remissão de comorbilidades associadas à obesidade em doentes submetidos a cirurgia bariátrica primária cujo primeiro ano pós-operatório incluiu o período de confinamento da pandemia COVID-19 em Portugal. Materiais e métodos: Estudo longitudinal retrospetivo, realizado num hospital central em Portugal, onde se recolheram dados retrospetivos de doentes submetidos a cirurgia bariátrica: Bypass Gástrico em Y de Roux (BGYR) ou Sleeve Gástrico. Completou-se uma base de dados pré-existente onde constavam dados antropométricos, percentagem de perda de peso (%PP), número total de consultas presenciais e telefónicas no primeiro ano pós-operatório e comorbilidades existentes no pré e pós-operatório, aos quais foram acrescentados dados analíticos e prática de atividade física (AF). Os doentes foram separados em quatro grupos: um grupo pré-pandemia e três durante a pandemia: 1º confinamento, 2º confinamento e período de restrições. Resultados: foram avaliados 297 doentes submetidos a cirurgia bariátrica primária, sendo 81,1% do sexo feminino, e 44,4% submetidos a BGYR. Separando a amostra em dois grupos - pré-pandemia e pandemia - verificamos que a %PP média é significativamente superior no grupo pandemia (p=0,040). Verificando a prevalência de remissão das comorbilidades, observa-se que, em todas as patologias, há uma remissão estatisticamente significativa no período de restrições comparativamente aos restantes grupos durante a pandemia COVID-19. Na DM2 concluímos, através da regressão logística, que os doentes com menor percentagem de consultas telefónicas e maior percentagem de consultas presenciais têm maior possibilidade de remitir a doença (p=0,047). Conclusões: Durante os períodos de confinamento obrigatório, observou-se uma menor %PP e uma menor taxa de remissão de comorbilidades em comparação com os grupos pré-pandemia e período de restrições. Apesar das consultas presenciais terem um impacto positivo no acompanhamento de doentes submetidos a cirurgia bariátrica, os resultados deste estudo destacam a importância de se manter o seu acompanhamento, mesmo que não presencial, garantindo o acesso aos cuidados pós-operatórios necessários.

Introduction: The World Health Organization defines obesity as an abnormal or excessive accumulation of body fat, posing risks to health. Bariatric and metabolic surgery is intended for individuals with morbid obesity. The COVID-19 pandemic has emerged as a global challenge, with implications for public health and society at large. Containment strategies implemented, including lockdowns, have brought about lifestyle changes in populations, raising questions about their impact on the follow-up of patients undergoing bariatric surgery. Objective: To quantify the percentage of weight loss and remission of obesity-associated comorbidities in patients undergoing primary bariatric surgery whose first postoperative year included the confinement period of the COVID-19 pandemic in Portugal. Materials and Methods: Retrospective longitudinal study conducted at a central hospital in Portugal, where retrospective data were collected from patients undergoing bariatric surgery: Roux-en-Y Gastric Bypass (RYGB) or Sleeve Gastrectomy. A pre-existing database containing anthropometric data, percentage of weight loss (%WL), total number of in-person and telephone consultations in the first postoperative year, and pre- and postoperative comorbidities was completed, to which analytical data and physical activity (PA) practice were added. Patients were divided into four groups: a pre-pandemic group and three during the pandemic: 1st lockdown, 2nd lockdown, and restriction period. Results: 297 patients undergoing primary bariatric surgery were evaluated, with 81.1% being female, and 44.4% undergoing RYGB. By separating the sample into two groups - pre-pandemic and pandemic - it was found that the average %WL is significantly higher in the pandemic group (p=0.040). Regarding the prevalence of remission of comorbidities, it is observed that, in all pathologies, there is a statistically significant remission in the restriction period compared to the other groups during the COVID-19 pandemic. In DM2, we concluded, through logistic regression, that patients with a lower percentage of telephone consultations and a higher percentage of in-person consultations are more likely to have remission of the disease (p=0.047). Conclusions: During the periods of mandatory confinement, a lower percentage of weight loss and a lower rate of comorbidity remission were observed compared to the pre-pandemic groups and the restriction period. Despite the positive impact of in-person consultations on the follow-up of patients undergoing bariatric surgery, the results of this study emphasize the importance of maintaining their follow-up, even if non-presential, ensuring access to necessary postoperative care.