As Perspectivas de Jovens Adultos Sobre a Separação dos Pais e os Regimes de Residência: Um Estudo Qualitativo

Abstract

The growing number of separations and divorces in recent decades has triggered extensive debate and research into the implications of marital dissolution and the experiences of residence arrangements for children. Literature has identified emotional and developmental consequences of marital dissolution on children. However, it seems necessary to add the contribution of a qualitative approach to quantitative empirical research in order to gain a more comprehensive understanding of this issue. There are also few studies with young adults that provide a retrospective approach to their experiences. The aim of this study is therefore to identify the perspectives of young adults aged between 19 and 25 on their experiences associated with their parents' separation/divorce and residence arrangements. The sample consisted of nineteen participants, eleven female and eight male, descendants of separated or divorced parents. The information collected was analyzed using Interpretative Phenomenological Analysis (IPA), which allows us to examine the participants' world in detail by exploring their individual experiences and perceptions. The analysis reflects transversal aspects, but also the singularities of each participant. The main results reveal that children want to be included in decisions that directly involve them in the process of marital dissolution and the establishment of the residence arrangement. Cooperative parenting between parents emerges as an essential mechanism in children’s adjustment to marital dissolution and the transitions arising from it. More specifically, they demonstrate that exposure to inter-parental conflict, the departure of one of the parents and the loss of family relationships appear to be challenging circumstances, with an impact on the children’s adjustment to the marital dissolution.

O aumento do número de separações e divórcios nas últimas décadas despoletou um extenso debate sobre as implicações da dissolução conjugal e da vivência dos regimes de residência nos filhos. A literatura tem vindo a identificar consequências emocionais e desenvolvimentais da dissolução conjugal nos filhos. No entanto, afigura-se necessário adicionar à investigação de carácter quantitativo o contributo da abordagem qualitativa, para uma compreensão mais abrangente desta temática. Também são escassos os estudos com jovens adultos, que providenciem uma abordagem retrospectiva das suas vivências. Assim, o presente estudo objectiva identificar as perspetivas de jovens adultos, entre os 19 e os 25 anos de idade, sobre as vivências associadas à separação/divórcio dos pais e aos regimes de residência. A amostra foi constituída por dezanove participantes, onze do sexo feminino e oito do sexo masculino, filhos de pais separados ou divorciados. A informação recolhida foi analisada através da Análise Fenomenológica Interpretativa (AFI), que permite examinar detalhadamente o mundo dos participantes pela exploração da sua experiência e percepção individual. A análise permitiu aceder a aspectos transversais, mas também às singularidades de cada jovem. Os resultados principais revelam que os filhos desejam ser incluídos nas decisões que os implicam directamente no processo de dissolução conjugal e no estabelecimento do regime de residência. A parentalidade cooperativa entre os pais emerge como um mecanismo essencial no ajustamento dos filhos à dissolução conjugal e às transições advindas desta. Também se verifica que a exposição ao conflito inter-parental, a saída de um dos pais de casa e a perda de relações familiares são percebidas pelos/as jovens como desafiantes, com impacto no seu ajustamento à dissolução conjugal dos seus pais.