O Dramaturgo-Encenador: Conceito e Estudo de Poéticas

Abstract

O presente trabalho busca fundamentar o conceito de dramaturgo-encenador, entendido como uma função de dupla autoria, tanto cênica como literária; a se afetarem reciprocamente, resultando, entretanto, autônomas entre si. O conceito será chave para nossa abordagem sobre o desenvolvimento desta modalidade de escrita expandida, nas duas primeiras décadas deste século, a qual pudemos seguir de perto; seja na América Latina como na Europa. A diversidade dos objetos de nossa análise modula as possibilidades poéticas destes dispositivos de escrita, ao mesmo tempo que atende os enunciados gerais sobre a função ceno-dramatúrgica, que pretendemos aqui estabelecer. Nosso corpus de estudo se concentra, em um segundo momento, através de uma escrita entre ensaística e científica; nas poéticas do dramaturgos-encenadores Patrícia Portela, Sergio Blanco e Alexandre dal Farra. A escolha destes casos se baseia, em parte, na sua variedade cultural, respectivamente portuguesa, franco-uruguaia e brasileira; bem como por repercutirem modalidades poéticas complementares entre si. Ademais, devemos ressaltar que, por um lado, este trabalho situa o conceito do dramaturgo-encenador em uma perspectiva histórica, deflagrada pela crise do drama, tratada por Peter Szondi, seguida pela cisão entre literatura dramática e encenação, observada por autores como Bernard Dort, Patrice Pavis, Hans-Thies Lehmann e Josette Féral. Atribuindo, entretanto, maior atenção à sua interlocução com pensadores mais recentes do problema, que reconsideram formas de articulação entre drama e cena, como Bruno Tackels, Anne-Françoise Benhamou, Cathy Turner, Jean-Pierre Sarrazac, Joseph Danan e Carles Battle. Como decorrência de nosso conceito, entendemos os dispositivos ceno-dramatúrgicos como funções de escrita, em que pese consideramos suas contribuições performativas, pós-dramáticas e de acontecimento fenomênico; sempre estéticos, como buscaremos fundamentar. Assim como reconsideramos, no dramaturgo-encenador, sua função autoral; tendo em vista certa linhagem linguística que considera suprimida a ideia de autoria como autoridade expressiva. Finalmente, debatemos os dispositivos ceno-dramatúrgicos pelo seu caráter de representação. Isto é, como produtores de ficção, a fim de organizar a aparência fenomênica da realidade, em busca da revelação, ou reconhecimento, do seu Real ausente, pelo espectador. Este último conforma o que dessigamos nesta tese como Comunidade Teatral; coautora da escrita ceno-dramatúrgica.

The present work seeks to ground the concept of the dramatist-director, understood as a function of double authorship, both scenic and literary; affecting each other reciprocally, resulting, however, autonomous from each other. This concept will be key to our approach about the development of this modality of expanded writing in the first two decades of this century, which we have been able to follow closely; both in Latin America and in Europe. The diversity of the objects of our analysis modulates the poetic possibilities of these writing devices, at the same time that it answers the general statements about the scenic-dramaturgical function, which we intend to establish here. Our corpus of study focuses, in a second moment, by means of a writing between essayistic and scientific; on the poetics of dramatist-directors Patrícia Portela, Sergio Blanco and Alexandre dal Farra. The choice of these cases is based, in part, on their cultural variety, respectively Portuguese, French-Uruguayan, and Brazilian; as well as because they reflect complementary poetic modalities. Furthermore, this work situates the concept of the dramatist-director in a historical perspective, triggered by the crisis of drama, dealt with by Peter Szondi, followed by the schism between dramatic literature and staging, observed by authors such as Bernard Dort, Patrice Pavis, Hans-Thies Lehmann and Josette Féral. However, we pay more attention to its interlocution with more recent thinkers of the problem, who reconsider forms of articulation between drama and scene, such as Bruno Tackels, Anne-Françoise Benhamou, Cathy Turner, Jean-Pierre Sarrazac, Joseph Danan and Carles Battle. As a consequence of our concept, we understand the scenic-dramaturgical devices as writing functions, despite considering their performative, post-dramatic and phenomenic contributions; always aesthetic, as we will seek to substantiate. Also we reconsider, in the dramatist-director, his authorial function; having in mind a certain linguistic lineage that understands suppressed the idea of authorship as expressive authority. Finally, we discuss the scenic-dramaturgical devices by their character of representation. That is, as producers of fiction, in order to organize the phenomenal appearance of reality, in search of revelation, or recognition, of its absent Real, by the spectator. The latter conforms what we call in this thesis as Theatrical Community; coauthor of the scenic-dramaturgical writing.