Borderline features in adolescense: Contributions to assessment understanding inner self-to-self relationship and identifying trajectories for borderline personality disorder

Abstract

IntroduçãoA Perturbação Borderline da Personalidade (PBP) é uma condição severa relationada com instabilidade emocional, na auto-imagem e nas relações sociais, sentimentos de abandono e vazio, marcada impulsividade, comportamentos autolesivos e ideação suicida. Pacientes com PBP frequentemente apresentam reduzida qualiade de vida e bem-estar e apresentam uma das maiores taxas de suicídio das perturbações mentais. Esta perturbação tem um percurso desenvolvimental que muitas vezes começa na infância e se manifesta no final da adolescência ou início da idade adulta. A identificação de sintomatologia borderline marcada em idade precoce é valiosa para referenciar adolescentes para tratamentos adequados e prevenir o crescimento destes sintomas. Ademais, a investigação de processos psicológicos na adolescência é escassa mas crucial para compreender o desenvolvimento da PBP e fundamentar o desenho de intervenções psicoterapêuticas. Neste sentido, esta dissertação de doutoramento teve como objetivos (1) fornecer instrumentos válidos e adaptados para a avaliação precoce de sintomas borderline na população portuguesa, (2) descrever e caracterizar os sintomas borderline em jovens portugueses, identificar fatores internos protetores e de risco e analisar as relações entre eles e, por fim, (3) explorar longitudinalmente differentes trajetórias dos traços borderline e testar a influência da autoaversão e autocompaixão ao longo do tempo. MétodosEsta investigação incluiu dez estudos, dos quais quatro são psicométricos, quatro transversais e dois longitudinais. A maioria dos estudos utilizou amostras de conveniência de adolescentes da população geral. Um estudo incluiu uma amostra de pais, dois estudos utilizaram painéis de especialistas em saúde mental, e outro estudo utilizou uma amostra de adolescentes com histórico de comportamentos autolesivos não suicidários. Os dados foram recolhidos em escolas e online, maioritariamente através de questionários de autorresposta. Também foram utilizados questionários para pais e entrevista clínica. As análises estatísticas foram realizadas no SPSS (e PROCESS Macro), AMOS e MPLUS.ResultadosOs estudos psicométricos indicaram que (I) a Escala de Traços de Personalidade Borderline para Adolescentes (ETPB-A) e para Pais (ETPB-P) são questionários breves, válidos e fidedignos para avaliar sintomas borderline em jovens; (II) a Escala Multidimensional da AutoAversão para Adolescentes (EMAA-A) mostrou boa qualidade psicométrica, boa validade convergente e estabilidade temporal; (III) a Entrevista Clínica para a Perturbação Borderline da Personalidade para Adolescentes (CI-BOR-A) foi bem aceite pelos/as jovens e o painel de especialistas classificou o instrumento como bom na generalidade, dando importantes comentários e sugestões para melhorar a sua qualidade; (IV) a versão inglesa da CI-BOR-A foi aprovada por especialistas ingleses e está também disponível para ser utilizada noutros países. Por sua vez, os estudos transversais mostraram que (V) os traços borderline mais prevalentes entre adolescentes portugueses são os sentimentos de abandono, intensidade emocional e autoimagem instável; e que o impulso, ideação suicida, stress e depressão foram preditores significativos da sintomatologia borderline: (VI) as raparigas apresentaram traços borderline e autoaversão mais elevados do que os rapazes e menor autocompaixão; (VII) o mindfulness, isolamento e autojulgamento foram os fatores da autocompaixão que mediaram a relação entre memórias de subordinação e ameaça na infância e os traços borderline; (VIII) a autocompaixão entrepôs-se na relação entre a autoaversão e a sintomatologia borderline, mostrando o seu efeito mediador. Os estudos longitudinais revelaram que (IX) a autocompaixão protegeu adolescentes com comportamentos autolesivos não suicidários de desenvolverem sintomatologia borderline em seis meses; e (X) adolescentes que apresentam traços borderline elevados tendem a revelar uma trajetória crescente, e os sentimentos de autoaversão parecem aumentar a sintomatologia borderline ao longo de um ano.ConclusõesA avaliação precoce de sintomas borderline, de PBP e construtos relacionados é essencial para identificar adolescentes que necessitam de tratamento. A ETPB-A, ETPB-P, EMAA-A e a CI-BOR-A podem ser utilizadas para esse fim na população portuguesa. A autoaversão aumenta o risco de adolescentes desenvolverem sintomas borderline e a autocompaixão poderá contrariar este efeito e evolução. Combater a autoaversão e cultivar a autocompaixão em adolescentes com sintomas subclínicos de PBP poderá mitigar o desenvolvimento de traços borderline, diminuindo a ocorrência de PBP na idade adulta, com importantes implicações para pacientes, famílias, comunidades e sociedade.

IntroductionBorderline personality disorder (BPD) is a severe condition related to emotion, self-image and relationships instability, feelings of abandonment and emptiness, marked impulsivity, self-harm behaviors and suicide ideation. Patients with BPD often show decreased quality of life and well-being, and present one of the highest suicide rates of mental disorders. This disorder has a developmental path that often begins in childhood and the onset usually occurs in late adolescence or early adulthood. Identifying marked borderline features at early ages would be valuable to refer adolescents for appropriate treatment and prevent these features’ growth. Moreover, research on psychological processes in adolescence is scarce but crucial to understand the development of BPD and sustain and design psychotherapeutic interventions. Thus, this doctoral dissertation aimed (1) to provide valid and adapted instruments for early assessment of borderline symptoms in the Portuguese population, (2) to describe and characterize youth borderline features in Portugal, identify internal risk and protective factors and examine the relationships between them and finally, (3) to longitudinally explore different trajectories of borderline features and test the influence of self-disgust and self-compassion over time.MethodsThis research included ten studies, of which four are psychometric, four cross-sectional and two longitudinal. Most studies were conducted with convenience adolescent samples from the general population. In one study was used a sample of parents, in two studies were used panels of experts in mental health, and in another was used a sample of adolescents with non-suicidal self-injury (NSSI) history. Data were collected in schools and online, mostly through self-report questionnaires. Additionally, data from parent-rated questionnaires and a clinical interview was also collected. Statistical analyses were conducted using the SPSS (and PROCESS Macro), AMOS and MPLUS.ResultsThe psychometric studies indicated that (I) the Borderline Personality Features Scale for Children (BPFS-C) and for Parents (BPFS-P) are valid, reliable and brief questionnaires to assess borderline features in youth; (II) the Multidimensional Self-Disgust Scale for Adolescents (MSDS-A) showed good psychometric quality, with good convergent validity and also temporal stability; (III) the Clinical Interview for Borderline Personality Disorder for Adolescents (CI-BOR-A) was accepted by youth and the expert panel classified the instrument as generally good, providing important suggestions and comments to improve its quality; (IV) and the English version of the CI-BOR-A was approved by English experts and is now also available to be used in other countries. In turn, cross-sectional studies showed that (V) the more prevalent borderline features amongst Portuguese youth were feelings of abandonment, emotional intensity, and an unstable self-image; and that impulse, suicide ideation, stress and depression were significant predictors of borderline features; (VI) girls exhibited higher borderline features and self-disgust than boys, and lower self-compassion; (VII) mindfulness, isolation, and self-judgement were the self-compassion factors that mediated the relationship between memories of subordination and threat in childhood and borderline features; (VIII) self-compassion stood in the way of self-disgust and borderline features, highlighting the mediating role of self-compassion. Longitudinal studies revealed that (IX) self-compassion protected adolescents with NSSI from developing borderline features over six months; and (X) adolescents who already had higher borderline features seem to present a gradually rising trajectory, and feelings of self-disgust increased borderline features over one year.ConclusionsEarly assessment of borderline features, BPD and related constructs is essential to identify adolescents that need appropriate treatment. The BPFS-C, BPFS-P, MSDS-A, and the CI-BOR-A can now be used for this purpose in the Portuguese population. Self-disgust increases the risk of adolescents growing borderline symptoms and self-compassion might counter this effect and evolution. Targeting self-disgust and cultivating self-compassion in adolescents with subthreshold BPD symptoms could mitigate the development of borderline features, decreasing BPD occurrence in adulthood, with significant implications for patients, families, communities, and society.