“Acessibilidade Geográfica aos Serviços de Saúde na Província de Sofala, Moçambique”

Abstract

ResumoA acessibilidade de todos aos serviços de saúde é um imperativo e um passo fundamental para a redução das iniquidades em saúde. Numerosos estudos têm vindo a demonstrar que o desigual acesso aos serviços causa a persistência de discrepâncias em termos de resultados em saúde. Esta questão ganha contornos ainda mais prementes no caso dos países em desenvolvimento, caracterizados por elevados graus de pobreza, de desigualdades sociais e até de isolamento geográfico.Esta tese teve por objetivo analisar a acessibilidade aos serviços de saúde na Província de Sofala, Moçambique (Distrito da Beira, Dondo e Búzi) nos últimos 20 anos (1997-2017). Foram analisadas as condições que influenciam positiva e negativamente a acessibilidade e a utilização dos serviços de saúde, tendo em conta as variações espaciais e demográficas, as dimensões dos serviços, as características da oferta, a distribuição territorial das unidades, a qualidade dos serviços prestados. Este trabalho de investigação combinou métodos de natureza qualitativa e quantitativa. Os procedimentos metodológicos qualitativos envolveram a realização de entrevistas semiestruturadas com dois grupos: o primeiro composto por representantes da saúde e representantes de ONGs, o segundo composto por médicos e enfermeiros. Quanto aos procedimentos quantitativos, foram aplicados questionários à população residente em três distritos mencionados. Foram empregues técnicas de sistema de informação geográfica(SIG) para modelação e análise espacial da dinâmica e localização geográfica das unidades de saúde. Os dados recolhidos foram cruzados com a evolução da população a partir de dados Censos, de modo a avaliar a cobertura real das unidades de saúde.Os resultados desta investigação apontam para as seguintes conclusões:(i) A evolução da distribuição geográfica dos serviços de saúde não reflete o crescimento da população, principalmente nas áreas rurais. Nos três distritos, observa-se que as unidades de saúde estão mais concentradas nas áreas urbanas e nas vilas, demonstrando claramente maior proximidade face às áreas mais desfavorecidas.(ii) Apesar da melhoria no acesso geográfico da população às unidades de saúde, ainda subsistem territórios onde o obstáculo constituído pela relação distância-tempo é significativo. Observa-se, dessa forma, que em muitas localidades a população ainda viii Acessibilidade Geográfica aos Serviços de Saúde na Província de Sofala Moçambiqueprecisa de percorrer em média quase 20 km de distância para alcançar a unidade de saúdemais próxima.(iii) Tendo em conta os domínios de acessibilidade, embora o serviço primário tenha uma relativa cobertura espacial, existem muitas áreas com diversas vulnerabilidades (vias de acesso degradas, baixa densidade). Se tivermos em conta as condições económicas da população residente, esta situação pode traduzir-se em desistências e maior risco de mortalidade entre os utentes menos acessíveis.(iv) Quanto a alocação de serviços, observa-se que há serviços que, embora próximos dos centros populacionais, não são requeridos ou têm baixa procura, enquanto outras unidades sofrem maior pressão e procura, mesmo estando mais distantes

AbstractAccessibility for all to health services is an imperative and a fundamental step towards reducing health inequities. Numerous studies have shown that unequal access to services causes persistent discrepancies in terms of health outcomes. This issue becomes even more pressing in the case of developing countries, characterised by high levels of poverty, social inequalities and even geographic isolation.This thesis aimed to analyse the accessibility to health services in Sofala Province, Mozambique (Beira, Dondo and Búzi District) in the last 20 years (1997-2017). The conditions that positively and negatively influence the accessibility and use of health services were analyzed, taking into account the spatial and demographic variations, the dimensions of the services, the characteristics of the offer, the territorial distribution of the units, the quality of the services provided.This research combined qualitative and quantitative methods. The qualitative methodological procedures involved conducting semi-structured interviews with two groups: the first composed of health representatives and representatives of NGOs, the second composed of doctors and nurses. As for the quantitative procedures, questionnaires were applied to the population residing in the three mentioned districts. Geographic information system (GIS) techniques were used for modeling and spatial analysis of the dynamics and geographic location of health facilities. The collected data were crossed with the evolution of the population from Census data, in order to assess the real coverage of the health units.The results of this investigation point to the following conclusions:(i) The evolution of the geographic distribution of health services does not reflect the growth of the population, mainly in rural areas. In the three districts, it is observed that the health units are more concentrated in urban areas and in towns, clearly demonstrating greater proximity to the most disadvantaged areas.(ii) Despite the improvement in the population's geographic access to health facilities, there are still territories where the obstacle constituted by the distance-time relationship is significant. Thus, it is observed that in many locations the population still needs to travel, on average, almost 20 km to reach the nearest health unit.x Acessibilidade Geográfica aos Serviços de Saúde na Província de Sofala Moçambique(iii) Taking into account the accessibility domains, although the primary service has a relative spatial coverage, there are many areas with different vulnerabilities (degraded access roads, low density). If we take into account the economic conditions of the resident population, this situation can translate into dropouts and a greater risk of mortality among less accessible users.(iv) Regarding the allocation of services, it is observed that there are services that, although close to population centers, are not required or have low demand, while other units suffer greater pressure and demand, even though they are further away