Padrões de concordância nominal em alunos do 1.º ciclo do Ensino Secundário em Angola

Abstract

Nesta pesquisa avaliámos o conhecimento linguístico dos alunos do I ciclo do ensino secundário (7.ª, 8.ª e 9.ª classes) do Complexo Escolar n.º 706 – “1 de Junho” (ADRA), em Angola, para verificar (i) se há variação na realização e identificação da concordância nominal de número e de género; se, havendo variação, (ii) observar quais os padrões que se manifestam nas ocorrências e (iii) que relação esses padrões têm com (iii’) fatores linguísticos, como a localização do desvio na estrutura interna do sintagma nominal e o índice temático do nome que funciona como núcleo de sintagma, e com (iii’’) fatores extralinguísticos, como a classe de escolaridade, a língua materna e a idade dos informantes. Para tal, participaram da pesquisa 120 alunos (51 tinham como língua materna o português, 38 uma língua bantu e 31 são bilingues precoces – português e língua bantu), distribuídos pelas três classes do ciclo de estudos. Os participantes foram submetidos a um questionário sociolinguístico, a uma tarefa de elicitação, a um teste de produção escrita e a um teste de juízos de gramaticalidade. Analisados, os dados demonstraram que a concordância de género nominal plena se apresenta, tendencialmente, como uma regra semicategórica, com manifestações acima de 98% no teste de elicitação e no teste de produção escrita. Os resultados relativos a esse mesmo padrão baixam ligeiramente nos resultados do teste de juízos de gramaticalidade, em que a percentagem de não reconhecimento de frases com desvios, i.e., sem concordância de género nominal plena, é de 7,9%. Em relação à concordância nominal de número, registámos alguma variação e os desvios sobem para 3,6% no teste de elicitação e para 6,4% no teste de produção escrita, havendo, ainda, uma taxa de 22,9% de não reconhecimento de frases agramaticais no teste de juízo de gramaticalidade. Estes resultados confirmam, em certa medida, a variação descrita pela literatura, pois, ao contrário do que se regista na concordância nominal de número, os desvios de concordância nominal de género têm sido associados à menor escolarização. No caso da concordância nominal de género, as dificuldades registam-se sobretudo por alteração no especificador, seja ele determinante ou quantificador, mas também, e em números menos expressivos, no adjetivo e no próprio nome. Por seu turno, as dificuldades relacionadas com o número nominal manifestam-se essencialmente no nome, núcleo do sintagma, mas também simultaneamente no nome e no adjetivo ou ainda apenas no adjetivo. Em relação ao índice temático, nomes masculinos de tema -o (livro) e nomes femininos de tema -a (cadeira) apresentaram-se como mais problemáticos no teste de produção escrita, em que a redação é mais ou menos espontânea, mas não no teste de elicitação ou no reconhecimento de agramaticalidades, em que as dificuldades se manifestam em sintagmas contendo nomes masculinos com tema -a (mapa) e femininos com tema -o (foto). Os nomes de tema Ø e os atemáticos, masculinos (gerador; café) ou femininos (colher; maçã) são os únicos que representaram alguma dificuldade para os informantes em todos os testes. Em relação às variáveis extralinguísticas, os resultados demonstraram que os efeitos da idade e da escolarização são sentidos a médio prazo, pois há diferenças expressivas quando comparados os dados dos informantes da 7.ª classe (que integra a grande maioria dos que têm 12 anos de idade), com os dos informantes da 9.ª classe (em que se integram quase todos os que têm 15 anos), mas não registamos influências relevantes da língua materna nos resultados apurados.

In this research, we assessed the linguistic knowledge of secondary school pupils (7th, 8th and 9th grades) of Complexo Escolar n.º 706 - "1 de Junho" (ADRA), in Angola, to verify (i) if there is variation in the realization and identification of number and gender agreement; variation provided, (ii) observe which patterns are manifested in the occurrences and (iii) what relation these patterns have with (iii') linguistic factors, such as the location of non-target occurences in the internal structure of the nominal phrase (NP) and the thematic index of the noun that functions as the NP nucleus, and with (iii'') extralinguistic factors, such as the informants' school level, native language and age. To this end, 120 pupils participated in the research (51 had Portuguese as their native language, 38 a Bantu language and 31 are early bilinguals - Portuguese and Bantu language), distributed by the three levels of the cycle of studies. The participants were administered a sociolinguistic questionnaire, an elicitation task, a written production test and a grammatical judgments test. When analyzed, the data showed that full nominal gender agreement tends to be a semi-categorical rule, with manifestations above 98% in the elicitation test and in the written production test. The results relative to this same pattern are slightly lower in the grammatical judgments test, in which the percentage of non-recognition of sentences with non-target occurrences, that is without full nominal gender agreement, is 7.9%. Regarding nominal number agreement, we recorded some variation as non-target occurrences increased to 3.6% in the elicitation test and to 6.4% in the written production test, with a 22.9% increase of non-recognition of ungrammatical sentences in the grammatical judgment test. These results confirm, to a certain extent, the variation described in the literature, since, contrary to what is registered in nominal number agreement, non-target nominal gender agreement has been associated with lower levels of schooling. In the case of gender agreement, the difficulties are mainly due to changes in the specifier, be it a determinant or a quantifier, but also, and in less expressive numbers, in the adjective and the noun itself. In turn, the difficulties related to the nominal number manifest themselves essentially in the noun, the nucleus of the NP, but also simultaneously in the noun and the adjective, or only in the adjective. Regarding the thematic index, masculine theme names -o (livro) and female theme names -a (cadeira) were more problematic in the written production test, in which writing was spontaneous, but not in the elicitation test or in the recognition of ungrammaticalities, in which the difficulties were manifested in NP containing -a theme (mapa ‘map’) masculine nouns and with -o theme (foto ‘photo’) feminine nouns. The theme Ø and athematic nouns, both masculine (gerador ‘generator’; café ‘coffee’) and feminine (colher ‘spoon’; maçã ‘apple’) are the only ones that represented some difficulty for the informants in all tests. Regarding extralinguistic variables, the results showed that the effects of age and schooling are felt in the medium term, as there are significant differences when comparing data from 7th grade informants (the vast majority of 12-year-olds), with those of 9th grade informants (almost all 15-year-olds). L1 effects were not recorded in the results obtained.