Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/114330
Title: Para lá dos Silenciamentos: Sofrimento mental, integralidade e (im)possibilidades de uma ecologia de cuidados
Other Titles: Beyond Silencings: Mental suffering, integrality and (im)possibilities of an ecology of care
Authors: Nogueira, Cláudia Inês de Carvalho Silva
Orientador: Hespanha, Pedro Manuel Teixeira Botelho
Keywords: Diversidade Epistemológica na Saúde; Ecologia de Cuidados; Equipa de Saúde Mental Comunitária; Integralidade; Sofrimento Mental; Community Mental Health Team; Ecology of Care; Epistemological Diversity in Health; Integrality; Mental Suffering
Issue Date: 25-Jan-2024
Project: info:eu-repo/grantAgreement/FCT/FARH/SFRH/BD/63242/2009/PT 
Serial title, monograph or event: Para lá dos Silenciamentos: Sofrimento mental, integralidade e (im)possibilidades de uma ecologia de cuidados
Place of publication or event: FEUC - Faculdade de Economia
Abstract: Apesar de orientações políticas defensoras de um modelo de cuidados de saúde mental de base comunitária e multidisciplinar, o modelo público português continua marcadamente biomédico e hospitalocêntrico, concentrando as suas respostas, quase que exclusivamente, no diagnóstico psiquiátrico, em psicofármacos e em serviços hospitalares. O presente estudo parte do reconhecimento da inequívoca urgência de se caminhar para um novo modelo de cuidados dirigidos ao sofrimento mental; um modelo que, rompendo com os silenciamentos e reducionismos produzidos pelo modelo biomédico hegemónico, se regule pelo ideal ético-político da integralidade e pela promoção de uma efetiva cidadania no cuidado. Tomando por base a asserção teórica de que a prossecução da integralidade só se torna possível mediante a construção de uma ecologia de cuidados – i.e., reconhecendo a presença de diferentes epistemologias/práticas de cuidado e promovendo um diálogo entre as mesmas –, definiu-se como objetivo geral da pesquisa contribuir para a ampliação do campo de possibilidades de ação no domínio dos cuidados dirigidos ao sofrimento mental, visibilizando: “vozes”, explicações/conceções, práticas, racionalidades e formas de cuidar, que, por via da hegemonização biomédica/científica, foram (e continuam a ser) subalternizadas ou até mesmo deslegitimadas enquanto agentes terapêuticos válidos. Mais especificamente, objetivou-se conhecer as condições existentes para a construção desse (novo) modelo ecológico/integral ao nível de serviços públicos de saúde mental, identificando, nesses contextos, quer as condições favoráveis (que se constituem como “sinais de esperança”), quer as condições desfavoráveis (que se constituem como obstáculos). Objetivou-se, ainda, analisar em que medida as pessoas transcendem as respostas de caráter biomédico, mobilizando (alternativa ou simultaneamente) epistemologias/práticas “outras” de cuidado fora do Serviço Nacional de Saúde. A estratégia metodológica consistiu numa combinação de técnicas qualitativas: entrevista em profundidade e pesquisa etnográfica. A tese privilegiou, enquanto objeto de estudo, a análise de experiências vividas de um conjunto de homens e mulheres (com diagnósticos psiquiátricos), cujas trajetórias passam, em determinado momento, por serviços públicos de saúde mental (serviços hospitalares e Equipa de Saúde Mental Comunitária). Complementarmente, a pesquisa tomou, como seu objeto, o estudo aprofundado (etnográfico) de uma das raras Equipas de Saúde Mental Comunitária a operar em Portugal. Decidiu-se estudar esse contexto em virtude de o mesmo se constituir (no âmbito do Plano de Ação para a Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental) como a proposta política mais auspiciosa, que, teoricamente, transporta maiores condições de esperança de rutura com o modelo biomédico/hospitalocêntrico atualmente hegemónico. Numa antecipação muito genérica de alguns dos principais resultados da pesquisa, há que referir que ela aponta para a prevalência de múltiplos obstáculos à construção de um modelo ecológico/integral de cuidados; obstáculos relacionados, em grande medida, com a manutenção de um elevado poder biomédico e com a supremacia de lógicas hospitalares no seio dos serviços públicos de saúde (inclusivamente nos serviços comunitários). Ao analisar-se aprofundadamente o contexto de uma Equipa de Saúde Mental Comunitária, verificou-se, enquanto elemento contra-hegemónico, protagonizado pelos/as profissionais, um elevado espírito de missão e compromisso com uma visão holística e com a ética do cuidado – facto que nos leva a perspetivar um horizonte de esperança e de possibilidades de transformação no sentido da construção de um modelo ecológico/integral de cuidados. Porém, paradoxalmente, constatou-se o quanto uma forte dependência relativamente ao modelo hospitalar/biomédico pesa no funcionamento dessa Equipa, pela forma como lhe impõe lógicas reducionistas que lhe retiram capacidade de responder holisticamente às necessidades (multidimensionais) das pessoas. Foram ainda analisadas narrativas de pessoas que, tendo passado por “pesados” processos de biomedicalização/hospitalização psiquiátrica, buscaram, em determinado momento, respostas “outras” de cuidado fora do Serviço Nacional de Saúde. Neste âmbito, um conjunto de epistemologias/práticas “outras” emergiu com grande propriedade e vigor, desvelando resultados emancipatórios que contrariam a ideia de que as “verdadeiras” respostas ao sofrimento mental se situam exclusivamente ao nível da racionalidade científica/biomédica. Olhando as narrativas, claramente se percebe a densidade de possibilidades e potências de cuidado existentes no âmbito dessa diversidade epistemológica (e.g., Arteterapia, Yoga, Naturopatia, Grupo de Suporte de Pares, Hipnoterapia, práticas espirituais/energéticas num Centro Espírita), o que vem corroborar a enorme importância da edificação de uma ecologia de cuidados no campo dos cuidados de saúde.
Despite political orientations defending a community-based and multidisciplinary model of mental health care, the Portuguese public model remains markedly biomedical and hospital-centric, concentrating its responses, almost exclusively, on psychiatric diagnosis, psychotropic drugs and hospital services. The present study starts from the recognition of the unequivocal urgency of moving towards a new model of care aimed at mental suffering; a model that, breaking with the silencing and reductionism produced by the hegemonic biomedical model, is led by the ethical-political ideal of integrality and promotion of effective citizenship in care. Based on the theorical assertion that the pursuit of integrality in the field of mental health only becomes possible through the construction of an ecology of care – i.e., recognizing the presence of different epistemologies/practices of care and promoting a dialogue between them –, the general objective of this work is to contribute to expanding the field of possibilities for action, making visible “voices”, conceptions, practices, rationalities and forms of care which were (and continue to be) subalternized or even delegitimized (as valid therapeutic agents) because of the biomedical/scientific hegemony. More specifically, the research aimed to know – at the level of public mental health services – the existing conditions for the construction of this (new) ecological/integral model of care, identifying either the favorable conditions (i.e., “signs of hope”) or unfavorable conditions (i.e., obstacles). The aim was also to analyse to what extent people transcend the responses of public biomedical services, mobilizing (alternatively or simultaneously) “other” epistemologies/practices, outside the National Health Service. The methodological strategy combined qualitative techniques: in-depth interviews and ethnographic research. As an object of study, the thesis privileged the analysis of experiences lived by a group of men and women (with psychiatric diagnoses), whose trajectories pass, at a given moment, through public mental health services (hospital services and Community Mental Health Team). In addition, the research also analyses (through an ethnographic study) the context of care provided by one of the rare Community Mental Health Teams operating in Portugal. It was decided to study this context because it represents (within the scope of the Action Plan for the Restructuring of Mental Health Services) the most innovative political proposal, which, theoretically, provides greater conditions for hope of breaking with the biomedical model/hospital-centric currently hegemonic. In a general anticipation of some of the main results of the research, it should be noted that it suggests the prevalence of multiple obstacles to the construction of an ecological/integral model of care; these obstacles are mainly related to the maintenance of high level of biomedical power and the supremacy of hospital logics in public health services (including community services). When analyzing in depth the context of a Community Mental Health Team, it was verified, as a counter-hegemonic element led by professionals, a high spirit of commitment to a holistic vision and the ethics of care – a fact which leads us to envision a horizon of hope and possibilities for transformation towards the construction of an ecological/integral model of care. However, paradoxically, it was noted how much a strong dependence on the hospital/biomedical model is reflected in its functioning, due to the way it imposes reductionist logics that deprive them to respond holistically to people's (multidimensional) needs. Narratives of people who sought other care responses outside the National Health Service were also analysed – people who went through “heavy” processes of biomedicalization and psychiatric hospitalization. In this context, a set of “other” epistemologies/practices emerged with great propriety and vigour, revealing emancipatory results that contradict the idea that the “true” responses to mental suffering lie exclusively at the level of scientific/biomedical rationality. Looking at the narratives, one can clearly see the density of possibilities and potentialities of care existing within the scope of this epistemological diversity (e.g., Art Therapy, Yoga, Naturopathy, Peer Support Group, Hypnotherapy, Spiritual/Energetic practices in a Spiritist Center), which confirms the enormous importance of building an ecology of care in the field of health care.
Description: Tese de Doutoramento em Sociologia apresentada à Faculdade de Economia
URI: https://hdl.handle.net/10316/114330
Rights: openAccess
Appears in Collections:UC - Teses de Doutoramento

Files in This Item:
Show full item record

Page view(s)

31
checked on Apr 24, 2024

Google ScholarTM

Check


This item is licensed under a Creative Commons License Creative Commons