A Guerra do Paraguai na Imprensa Portuguesa (1864-1870): entre a neutralidade oficial e o apoio à causa brasileira

Abstract

The Paraguayan War or The War of the Triple Alliance is known as the greatest armed conflict that ever happened in South America which began a delicate military alliance between the Brazilian Empire and the Republics of Argentina and Uruguay against the Republic of Paraguay. Delicate and unlikely, since, besides the clear dichotomy between monarchy against republic which already separated these new allies, there were old colonies with similar past from the Spanish culture against each other, while on one side the Brazilian monarchy was seen as an ally, with Lusitanian origin, traditionally involved in matters that contradicts the other republics objectives. Howsoever, such great conflict extended for more than five years (from November of 1864 to March of 1870) and greatly marked the countries whose fought when it settled the geopolitical scenario in the Platina region. Because of your totalizing caliber, this war developed in many different fields, the objective to fulfill in this thesis is to explore the unfolding of the press at the time, in Brazil and Portugal. In fact, the newspapers at the time evince not only the battles that were fought, as also, all the suffering, the contradiction and the nationalism enthusiasm propagated in the contender countries. Within this perspective the presented essay seeks to make possible an interface between the press history and the war, because of such magnitude the press had on reporting the Paraguayan war showing an original transatlantic feature which had been born to give support for the production and the circulation of the news about the conflict. In this regard, I seeked to evinced the existence of a communication network where newspaper owners, writers, war journalists, politicians and diplomats of both countries. I noticed a great relationship between the editors and the newspaper owners with the war journalists, many of them being officers of the Brazilian army and of the imperial armada (marine), employed by those newspapers to bring news from the battlefront to the Rio de Janeiro’s royal court, Brazil’s capital, then they would spread for the other provinces and also, beyond the sea, reaching the ports of Lisboa. The information that reached Portugal by the main periodicals from the brazilian capital, in particular the “Jornal do Commercio”, were directly transcribed or were used as reliable sources, for the news that would be published by some of the most well-known Portuguese newspapers at the time, such as “Commercio do Porto”, from the city of Porto, “O Bracaense” from Braga, “O Campeão das Províncias”, from Aveiro and the “Commercio de Lisboa” and “O Diário de Notícias”, from the portuguese capital. Soon, the reception of the news in Europe had Portugal and the city of Lisboa in particular as a prime strategy point for the knowledge of everything that happened in the war between the people of the Platina region, on South America. For sure, the Brazilian government under D.Pedro II during your war efforts had used such network to disseminate the Brazilian’s narrative about the conflict, using Portugal as their entrance in Europe.

A Guerra do Paraguai ou Guerra de Tríplice Aliança foi o maior conflito bélico existente na América do Sul que inaugurou uma delicada aliança militar entre o Império do Brasil e as repúblicas da Argentina e do Uruguai contra a república do Paraguai. Delicada e improvável, pois além da dicotomia monarquia versus república que separava esses novos aliados, colocava também, em campos opostos, países de colonização e passados comuns de ascendência espanhola, em aliança à monarquia brasileira, de origem lusitana, tradicionalmente envolvida em interesses divergentes e em campos opostos. Seja como for, esse grave conflito se estendeu por mais de cinco anos (de novembro de 1864 a março de 1870) e marcou profundamente os países nele envolvidos ao transformar definitivamente o cenário geopolítico da região Platina. Por seu caráter totalizante, essa guerra se desenvolveu em outros cenários, cumpre-nos nessa tese explorar seus desdobramentos na imprensa de época, tanto no Brasil quanto em Portugal. De fato, os jornais do período analisado repercutiram em suas páginas não só as batalhas travadas, como também, todo sofrimento, toda contradição e todo entusiasmo nacionalista propagado nos países contendores. Nessa perspectiva, o presente trabalho procurou fazer a possível interface entre a história da imprensa e a história da guerra ou do acontecimento militar, na medida que foi problematizado o papel que os impressos tiveram ao retratar a Guerra do Paraguai evidenciando o original caráter transatlântico que se formou para dar suporte à produção e à circulação das notícias de guerra, do Brasil para Portugal. Nesse sentido, procurei evidenciar a existência de uma rede de informações e notícias que envolvia diversos atores, entre eles, donos de jornais, literatos, correspondentes de guerra, políticos e diplomatas dos dois países. Constatei ainda a existência de uma forte ligação entre os editores e donos de jornais com os correspondentes de guerra, muitos deles oficiais brasileiros do exército e da armada imperial (marinha), contratados por esses periódicos para trazerem notícias do front da guerra para Corte do Rio de Janeiro, capital do Brasil, que depois se irradiavam para as outras províncias e, também, para além-mar, chegando aos portos de Lisboa. As informações que chegavam em Portugal, por intermédio dos principais periódicos da capital brasileira, em especial o Jornal do Commercio, eram transcritas diretamente ou serviam como informações fidedignas, base para as notícias publicadas nas páginas dos principais jornais portugueses, como O Commercio do Porto, da cidade do Porto, O Bracarense, de Braga, O Campeão das Províncias, de Aveiro e o Commercio de Lisboa e o Diário de Notícias, da capital portuguesa. Logo, a recepção das notícias que chegavam na Europa tinha Portugal e a cidade de Lisboa, em especial, como ponto estratégico primordial para o conhecimento de tudo que se desenrolava na guerra entre os povos da região Platina, na América do Sul. De certo, o governo brasileiro de D. Pedro II em seu esforço de guerra se utilizou dessa rede para disseminar a narrativa brasileira sobre conflito, usando Portugal como porta de entrada para toda a Europa.