CUIDADOS PALIATIVOS E QUALIDADE DE VIDA EM IDOSOS DA COMUNIDADE EM FIM DE VIDA: REALIDADE A NÍVEL EUROPEU

Abstract

Due to age progression and related development of comorbidities, quality of life (QoL) preservation acquires a higher importance, especially in the elderly in the last years of life, in which they may need Palliative Care (PC).The present study aimed to 1) analyze the QoL of elderly people (≥65 years old) from the community in the last years of life (i.e., up to 2 years) and compare the QoL of those who died or seek PC in the last years of life compared to those who did not seek PC at an European level; as well as 2) to analyze the influence of socioeconomic factors (i.e., gender, age, marital status, education and financial difficulties), mental/emotional health (i.e., presence of depressive symptoms, loneliness, satisfaction with life and satisfaction with social support), cognitive function (i.e., temporal orientation, numeracy, verbal fluency and memory), physical health (i.e., limitations in activities of daily living, limitations in instrumental activities of daily living, perceived health, presence of chronic diseases, polypharmacy and nutritional status) and physical activity can affect the QoL of these elderly people.Data from 2,252 participants (47.1% women), with a mean age of 81.4 (±8.1) years, from 18 countries, included in waves 6 and 7 of the SHARE project (Survey of Health, Aging and Retirement in Europe) were analyzed using descriptive analysis, independent sample t-tests and regression models.Of the total sample, 37.1% of the participants died or seek PC in the last years of life. A meaningful heterogeneity was observed between countries, not only in the number of participants (e.g., Luxembourg n=25; Spain n =333), but also in the proportion of participants who died or seek PC in the last years of life (e.g., France 58.0%; Czech Republic, Germany or Slovenia 19.9%, 18.2% and 10.4% , respectively; p<.05), on QoL (max. Switzerland 35.3 ± 8.0; min. Greece 26.5 ± 1.2; p<.001), and on the difference in QoL between participants who died or seek PC and those who did not seek PC. In Germany and Switzerland, a higher QoL was observed in participants who died or seek PC in the last years of life (MD= 4.4 ± 2.0; p=.040; MD= 5.7 ± 2.3; p=.015). In contrast, in France, a lower QoL was observed in participants who died or seek PC in the last years of life (MD= -3.0 ± 1.4; p=.030). PC was shown to predict QoL only in the unadjusted model (β=0.04; 95%CI: 0.01 to 0.33; p=.049), losing its significance when adjusted, for example, for the country (p=.051). The mental/emotional health variables the best association with QoL, explaining 42% of the QoL variance. Of these, the presence of depression symptoms stands out, explaining in isolation 31% of QoL variance. The presence of depression symptoms showed to be inversely associated with QoL (β=-0.55; 95%CI: -9.17 to -8.10; p<.001).The results of the present study highlight the complexity of QoL in the elderly in the last years of life, emphasizing the need for holistic approaches to improve QoL in this life stage. The associations between socioeconomic factors, mental and physical health, physical activity, social support, cognitive function, and seek PC highlight the importance of understanding these aspects in an interdisciplinary way. Although the use of PC can influence the QoL of elderly people in the last years of life, this influence is small, compared to other factors such as culture, access and availability of PC (associated with the country), as well as mental/emotional health, physical health, cognitive function, physical activity and socioeconomic factors (in the individual domain). These aspects highlight the crucial importance of psychological dimensions in determining QoL, thus underlining the need for interventions that consider mental health to promote a satisfactory QoL in the elderly during the last years of life. More studies, namely with a longitudinal design, are needed to better understand this relationship.

Com a progressão da idade e o aparecimento de comorbilidades, a preservação da qualidade de vida (QV) adquire uma elevada importância, principalmente em idosos nos últimos anos de vida, em que poderão vir a precisar de Cuidados Paliativos (CP).O presente trabalho teve como objetivos 1) analisar a QV de idosos (≥65 anos) da comunidade nos últimos anos de vida (i.e., até 2 anos) e comparar a QV daqueles que faleceram ou recorreram a CP nos últimos anos de vida comparativamente aos que não recorreram a CP, a nível europeu; bem como 2) analisar a influência dos fatores socioeconómicos (i.e., género, idade, estado civil, escolaridade e dificuldades financeiras), saúde mental/emocional (i.e., presença de sintomas depressivos, solidão, satisfação com a vida e satisfação com o suporte social), função cognitiva (i.e., orientação temporal, numeracia, fluência verbal e memória), saúde física (i.e., limitações para as atividades da vida diária, limitações nas atividades instrumentais da vida diária, saúde percebida, presença de doenças crónicas, polimedicação e estado nutricional) e a atividade física podem afetar a QV destes idosos.Os dados de 2,252 participantes (47,1% mulheres), com uma idade média de 81,4 (±8,1) anos, oriundos de 18 países, incluídos nas waves 6 e 7 do projeto SHARE (Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe) foram analisados através de análise descritiva, testes-t para amostras independentes e diversos modelos de regressão.Do total da amostra, 37.1% dos participantes faleceu ou recorreu a CP nos últimos anos de vida, tendo-se observado uma grande heterogeneidade entre as amostras de cada país, não só no número de participantes (ex. Luxemburgo n=25; Espanha n=333), mas também na proporção de participantes que faleceram ou recorreram a CP nos últimos anos de vida (ex. França 58,0%; República Checa, Alemanha ou Eslovénia 19,9%, 18,2% e 10,4%, respetivamente; p<,05), na QV (max. Suíça 35,3 ± 8,0; min. Grécia 26.5 ± 1,2; p<,001), e na diferença da QV entre participantes que faleceram ou recorreram a CP e aqueles que não recorreram a CP. Na Alemanha e Suíça observaram-se valores de QV superiores nos participantes que faleceram ou recorreram a CP nos últimos anos de vida (MD= 4,4 ± 2,0; p=,040; MD= 5,7 ± 2,3; p=,015). Contrariamente, na França observaram-se valores de QV inferiores nos participantes que faleceram ou recorreram a CP nos últimos anos de vida (MD= -3,0 ± 1,4; p=,030). O recurso a CP mostrou predizer a QV apenas no modelo não ajustado (β=0,04; IC95%: 0,01 a 0,33; p=,049), perdendo a sua significância quando ajustado, por exemplo, para o país (p=,051). As variáveis de saúde mental/emocional foram aquelas que melhor se associaram com a QV, explicando na sua globalidade 42% da variância da QV. Destas, destaca-se a presença de sintomas de depressão que se mostrou associar de forma inversa com a QV (β=-0,55; IC95%: -9,17 a -8,10; p<,001), explicando isoladamente 31% da sua variância.Os resultados do presente estudo destacam a complexidade da QV em idosos nos últimos anos de vida, enfatizando a necessidade de abordagens holísticas para melhorar a QV nesta fase. As associações entre fatores socioeconómicos, saúde mental e física, atividade física, suporte social, capacidade cognitiva e circunstâncias da morte realçam a importância de compreender estes aspetos de forma interdisciplinar. Embora o recurso aos CP possa influenciar a QV em idosos nos últimos anos de vida, esta influência é de pequena magnitude, comparativamente a outros fatores como cultura, acesso e disponibilidade de CP (associado ao país), bem como à saúde mental/emocional, saúde física, função cognitiva, atividade física e fatores socioeconómicos (no domínio individual). Estes aspetos destacam a importância crucial das dimensões psicológicas na determinação da QV, sublinhando assim a necessidade de intervenções que considerem a saúde mental para promover uma QV satisfatória nos idosos durante os últimos anos de vida. Mais estudos, nomeadamente com um desenho longitudinal, são necessários para melhor compreender esta relação.