O Panorama da Escassez de Medicamentos em Farmácias Comunitárias e o seu Impacto na Perspetiva dos Utentes

Abstract

A interrupção no abastecimento de medicamentos é um assunto atual e de extrema importância na saúde pública e na prestação de cuidados médicos, tanto a nível nacional como internacional, sendo a disponibilidade de medicamentos um tema central para a Organização Mundial de Saúde e Autoridades Europeias. Desde o último trimestre de 2022 que a Associação Nacional das Farmácias registou uma exacerbação da escassez de medicamentos em Portugal, mas garante que existem alternativas no mercado para os fármacos em falta.O objetivo principal deste estudo é avaliar o impacto da escassez de medicamentos em farmácias comunitárias na ótica dos utentes. Em termos de objetivos específicos pretende-se: i) estudar a dimensão da escassez e grupos de fármacos mais afetados, ii)identificar de que modo a escassez de medicamentos está a ser ultrapassada; iii) avaliar as consequências da indisponibilidade auto-reportadas pelos utentes; iv) investigar a sua predisposição para substituir um medicamento em falta por outro. Para alcançar estes objetivos, foi administrado nos meses de maio e junho de 2023 um questionário a utentes em farmácias comunitárias. O questionário foi desenvolvido para o presente estudo e teve por base literatura prévia, tendo sido também revisto por uma Farmacêutica Diretora Técnica, sendo aplicado em 4 farmácias comunitárias da Zona de Lafões. Os dados foram inseridos, analisados e tratados no programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS®) na versão 28.A amostra final é composta por 124 utentes. Os resultados mostram que 30,6% dos inquiridos tiveram algum tipo de falta de medicamentos nos últimos 12 meses e que 6,5 % ficou sem tomar o respetivo medicamento. A maioria dos participantes afirma não ter tido qualquer inconveniente relativo à falta do medicamento. No que respeita ao atendimento atual, apenas 11,3 % não conseguiu levar o medicamento que pretendia. Praticamente em todos os casos em que foi indicada uma alternativa, tal foi favoravelmente acolhido pelos utentes. Os fármacos mais afetados são os do aparelho cardiovascular, sistema nervoso central e hormonas e medicamentos usados no tratamento de doenças endócrinas. Outro aspeto a referir é que mais de metade dos utentes não manifesta qualquer opinião sobre o aumento ou diminuição dos medicamentos esgotados em Portugal no último ano. A escassez/indisponibilidade de medicamentos continua a ser um problema bastante presente em Portugal nas farmácias comunitárias e apesar de já terem sido adotadas diversas ações para combater estas falhas, é necessário continuar a monitorizar o problema e a desenvolver esforços para atenuar as consequências negativas que ainda persistem.

The interruption in the supply of medicines is a current issue of extreme importance in public health and in the provision of medical care, both nationally and internationally, with the availability of medicines being a central issue for the World Health Organization and European Authorities. Since the last quarter of 2022, the Associação Nacional das Farmácias has registered an exacerbation of the shortage of medicines in Portugal but guarantees that there are alternatives on the market for the missing medicines.The main objective of this study is to evaluate the impact of drug shortages in community pharmacies from the perspective of users. In terms of specific objectives, the aims are to: i) study the dimension of scarcity and the most affected groups of drugs, ii) identify how the shortage of drugs is being overcome; iii) evaluate the consequences of unavailability self-reported by users; iv) investigate their predisposition to replace a missing medication with another.To achieve these objectives, a questionnaire was administered in May and June 2023 to users of community pharmacies. The questionnaire was developed for the present study and was based on previous literature, having also been reviewed by a Technical Director Pharmacist, being applied in 4 community pharmacies in the Lafões area. Data were entered, analyzed, and processed using the Statistical Package for Social Sciences (SPSS®) version 28.The results show that 30.6% of respondents had some type of lack of medication in the last 12 months and that 6.5% did not take the respective medication. Most participants did not report any inconvenience related to the lack of medication. Regarding current care, only 11.3% were unable to take the medicine they intended. Basically, in all cases where an alternative was proposed, patients accepted the suggestion. The most affected drugs are those for the cardiovascular system, central nervous system and hormones and drugs used in the treatment of endocrine diseases. Another aspect to be mentioned is that more than half of the users do not express any opinion about the increase or decrease of medicines sold out in Portugal in the last year.The shortage/unavailability of medicines continues to be a very present problem in Portugal in community pharmacies and even though several actions have already been adopted to combat these failures, it is of utmost relevance to keep monitoring the problem and to try to mitigate the negative consequences which still remain.