Educação contemplativa, mindfulness e compaixão: Uma revolução silenciosa num mundo em transformação

Abstract

O modo de conhecimento dominante nas sociedades contemporâneas, informado pela racionalidade instrumental, tem gerado problemas de grande gravidade à escala global. Temos cada vez mais consciência que é necessário e urgente infletir esta tendência, mudando e educando em função de paradigmas e epistemologias distintos. Com este artigo pretendemos fundamentar a importância dos saberes contemplativos na educação bem como chamar a atenção para o seu papel profundamente transformador nos planos mais vastos da sociedade e do mundo. Para o efeito, denunciamos o antropocentrismo e aceleração, característicos da sociedade atual, destacamos a ciência contemplativa, enquanto reabilitadora de saberes de tradições milenares, e o seu contributo único para melhor compreendermos e valorizarmos o conhecimento experiencial de imersão na experiência direta e, ainda, para a edificação de sociedades humanizadas e respeitadoras dos ecossistemas. A compreensão dos processos metacognitivos autorregulatórios e dos modos de consciência existencial que o treino em mindfulness e compaixão possibilitam, profundamente emancipatórios e questionadores do sentido de eu e de realidade são igualmente abordados. Finalizamos sublinhando como a educação, reabilitando o peculiar construto da atenção, deve desempenhar um papel fundamental na reconfiguração radical dos modos como pensamos sobre o nosso lugar e agência no mundo interdependente de que fazemos parte.

The dominant mode of knowledge in contemporary societies, informed by instrumental rationality, has generated serious problems on a global scale. We are increasingly aware that it is necessary and urgent to inflect this trend, changing and educating according to different paradigms and epistemologies. In this article, we intend to substantiate the importance of contemplative knowledge in education, as well as draw attention to its profoundly transforming role in the broader spheres of society and the world. To this end, we denounce anthropocentrism and acceleration, characteristic of today's society, we highlight contemplative science, as a rehabilitator of knowledge from ancient traditions, and its unique contribution to better understanding and valuing the experiential knowledge of immersion in direct experience and, furthermore, for the construction of humanized societies that respect ecosystems. The understanding of self-regulatory metacognitive processes and modes of existential awareness that training in mindfulness and compassion make possible, which are profoundly emancipatory and questioner of the sense of self and reality, are also addressed. We end by underlining how education, rehabilitating the peculiar construct of attention, must play a fundamental role in radically reconfiguring the ways in which we think about our place and agency in the interdependent world of which we are a part