Ver, jogar e criar - projeto para um espetador fazedor

Abstract

Sight, as well as the other senses, mediates a relationship between the human being and theexterior and interior worlds they can access. Their survival depends on that. On the one hand, there are different ways of seeing which, when transformed into knowledge, are determinant to making those worlds more familiar and recognizable. On the other hand, there are other ways of seeing,submerged in the playing domain, which enable humans to access the impossibleand unfold their creative ability. The first, the practical one, guarantees that they learn, for example, how to walk, to identify a color or to write a sentence; the second one,the more subjective one, allows them to decide to deviate from their path, to imagine colors that do not exist or create a verse. The human being depends on both, but is taught to suspect from the second quite early on.The "Instants Recording Machine" is a theater project designed in the context of the Master’sDegree in Artistic Studies from the Faculty of Letters of University of Coimbra, that not only brings the spectator closer to the place where they see but also challenges them to open themselves up to the exercise of watching in order to find different meanings. Inspired by a Portuguese literary classic, a device similar to a photobooth was created – made up of a wooden box, a set of mysterious mechanisms and three playing chances. Just like in the text by José Gomes Ferreira, in which adventures obey nonsense, inside this device the spectator-doer is encouraged to recklessly jump over a wall, read tiny sentences and, without a body, find distorted objects, testing their sight. This creation was aimed, from its conception, at two specific audiences (the general public and students of the 3rd cycle and secondary) and it takes its space in the public space to disrupt the spectator’s everyday life, inviting them to watch and do theatre.

A visão, a par dos restantes sentidos, medeia a relação entre o ser humano e os mundos - exterior e interior - a que ele tem acesso. A sua sobrevivência depende desse gesto. Porém, se há modos de ver que, transformados em conhecimento, são determinantes para tornar esses mundos mais familiares e reconhecíveis, há outros que, submersos no jogo, permitem aceder ao impossível e desdobrar a capacidade criativa. O primeiro, de domínio prático, garante que aprenda, por exemplo, a caminhar, a identificar uma cor ou a escrever uma frase; o segundo, mais subjetivo, permite que decida desviar-se do caminho, imaginar cores que não existem ou inventar um verso. O ser humano depende de ambos, mas do segundo é ensinado a desconfiar desde muito cedo.“Máquina de gravar instantes” é um projeto de teatro desenhado no contexto do Mestrado em Estudos Artísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que aproxima o espetador do lugar onde (se) vê e desafia-o a entregar-se ao exercício de ver para que lhe possa encontrar múltiplos significados. Constrói um dispositivo semelhante a uma cabine de fotografias - composta por uma caixa em madeira, um conjunto de mecanismos misteriosos e três hipóteses de jogo - inspirando-se num clássico da literatura portuguesa. Tal como na obra de José Gomes Ferreira, em que as aventuras obedecem ao disparate de pernas para o ar, dentro dela, também o espetador pode saltar um muro à laia de um verdadeiro João Sem Medo, ler frases minúsculas e sem ser, encontrar objetos distorcidos ou nem por isso, testando a sua capacidade de ver. É pensada, desde a sua criação, para dois públicos distintos (o público em geral e os alunos do 3º ciclo e secundário) e instala-se no espaço público para interromper o quotidiano do espetador, convidando-o a ver e a fazer teatro.