Reconstrução Mamária e Qualidade de Vida: um estudo comparativo dos métodos reconstrutivos

Abstract

Introdução: O impacto da reconstrução mamária na qualidade de vida de doentes com história de cancro da mama, é atualmente um importante elemento a ser integrado na sua abordagem e tratamento. O objetivo deste estudo foi avaliar os efeitos da reconstrução mamária na qualidade de vida das doentes, comparando diversas modalidades de reconstrução, assim como avaliar o impacto das comorbilidades nesta.Métodos: Estudo observacional tipo cross-sectional cohort em que o questionário BREAST-Q foi aplicado a doentes com história de carcinoma da mama, mastectomia, e submetidas a reconstrução mamária nos últimos 10 anos pelo serviço de Cirurgia Plástica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Os dados foram submetidos a análise descritiva e inferencial, utilizando o teste exato de Fisher, Student t test, de Mann-Whitney U, teste de Wilcoxon e regressão linear uni e multivariada. Um valor de p<0,05 foi considerado como significativo.Resultados: Obtivemos 122 respostas, das quais 96 (78,7%) com reconstrução autóloga e 26 (21,3%) aloplástica. A média de idades foi de 51,23 anos, sendo as submetidas a reconstrução autóloga mais novas (50,27; p=0,002). Cerca de 20,5% colocaram expansor e subsequentemente prótese, 1,6% apenas prótese, 22,1% retalho LD pediculado, 3,3% TRAM pediculado, TDAP em 1,6%, DIEP em 43,4% e 0,8% neurotizado, retalho livre MsTRAM em 3,3%, LAP em 1,6% e TMG e PAP 0,8% cada um. O score médio geral do BREAST-Q foi de 69,43. A reconstrução com retalho DIEP resultou em maior satisfação com a mama no pós-operatório, em comparação com outros tipos de reconstrução (63,49 ± 21,83 vs. 54,25 ± 21,49; p=0,023). No geral, houve melhoria da satisfação com a mama e com o abdómen após a reconstrução (p<0,001). A presença de comorbilidades (p=0,038), de patologia psiquiátrica (p=0,013), ser divorciada (p=0,024), associam-se a um pior score, sendo divorciada um preditor independente (p=0,027).Discussão: Os resultados do presente estudo estão, na generalidade, em concordância com a evidência atual. A reconstrução autóloga mostra qualidade de vida superior à reconstrução aloplástica, apesar de estar acompanhada de maior morbilidade da zona dadora. O retalho DIEP mostrou melhores resultados, em comparação com os outros métodos de reconstrução. A reconstrução imediata poderá estar associada a maior bem-estar psicossocial e sexual do que a reconstrução diferida.Conclusão: A reconstrução mamária em si, a reconstrução autóloga, imediata e, particularmente com retalho DIEP, demonstram níveis superiores de qualidade de vida e satisfação com a mama. A presença de comorbilidades, patologia psiquiátrica e ser divorciada poderá afetar negativamente a satisfação destas doentes. A sua avaliação mais rotineira poderá contribuir para compreender e melhorar os cuidados de saúde prestados e a qualidade de vida das mulheres submetidas a reconstrução mamária.

Introduction: The impact of breast cancer treatment on the health-related quality of life of woman submitted to mastectomy and breast reconstruction is nowadays a fundamental element to consider and understand. This study aimed to evaluate the effects of breast reconstruction on the quality of life, whilst comparing the different methods of reconstruction and secondarily assessing comorbidities possible effects on their quality of life.Methods: Cross-sectional study in which the BREAST-Q questionnaire and a sociodemographic questionnaire were applied to patients who underwent breast reconstruction at the Plastic and Reconstructive Surgery and Burn Service of CHUC in the last 10 years. The obtained data was submitted to descriptive and inferential analysis using Fisher exact test, Student t test, Mann-Whitney U test, Wilcoxon signed-rank test and linear regression. A p<0.05 was considered for statistical significance.Results: We obtained 122 responses, in which 96 (78,7%) were autologous reconstruction and 26 (21,3%) alloplastic. The mean age was 51,23 years, and autologous patients were younger (50,27; p=0,002). Breast expander and implant was used in 20,5%, breast implant in 1,6%, LD flap in 22,1%, pedicled TRAM in 3,3%, TDAP in 1,6%, free DIEP flap in 43,4% and 0,8% neurotized, free MsTRAM in 3,3%, LAP in 1,6% and TMG and PAP in 0,8% each. The mean general BREAST-Q score was 69,43. DIEP flap was associated with higher breast satisfaction compared with the other types of reconstruction (63,49 ± 21,83 vs. 54,25 ± 21,49; p=0,023). Breast and abdomen satisfaction after reconstruction has significantly increased (p<0,001). Comorbidities (p=0,038), psychiatric pathology (p=0,013), being divorced (p=0,024), were associated with a worse score, and divorced being an independent predictor (p=0,027).Discussion: The results of the present study are, in general, in line with current evidence. Autologous reconstruction shows superior quality of life compared to alloplastic reconstruction, despite being accompanied by greater morbidity of the donor site. The DIEP flap showed better results compared to other reconstruction methods. Immediate reconstruction may be associated with better psychosocial and sexual well-being than delayed reconstruction.Conclusion: Breast reconstruction itself, autologous, immediate and specially reconstruction with DIEP flap had higher levels of quality of life and breast satisfaction. Comorbidities, psychiatric pathology and being divorced may negatively affect their satisfaction. Routine evaluation of patient-reported outcomes may be importantly helpful to better understand and improve the healthcare provided and quality of life of women undergoing breast reconstruction.