Adesão à Terapêutica não Farmacológica na HTA em Portugal em Cuidados de Saúde Primários

Abstract

Introdução: A Hipertensão Arterial apresenta uma prevalência crescente, representando um desafio de saúde pública global, com uma prevalência estimada em Portugal de 36%. Esta patologia exige um tratamento farmacológico e não farmacológico, impondo o desafio da mudança de hábitos dos utentes. A nível não farmacológico, são escassos os estudos que focam a opinião do doente sobre a adesão à terapêutica. Objetivos: Identificar os obstáculos à adesão à terapêutica não farmacológica na Hipertensão Arterial e quais as melhores estratégias para a aumentar, segundo utentes portugueses com Hipertensão Arterial seguidos nos Cuidados de Saúde Primários.Métodos: Estudo qualitativo composto por 3 focus groups online com utentes adultos com Hipertensão Arterial, de diferentes regiões do país, recrutados pelos seus médicos de família. Os dados foram recolhidos durante os focus groups gravados, utilizando um guião. Após transcrição, os dados foram analisados por análise de conteúdo através do programa MAXQDA®2022. Foram recolhidas variáveis sociodemográficas por questionário online. Foi obtido o consentimento informado escrito dos participantes e o estudo foi aprovado pela Comissão de Ética da ARS Centro. Foram seguidas as recomendações COREQ.Resultados: Amostra de conveniência constituída por 22 utentes com Hipertensão Arterial, com média de 60 anos (mínimo: 40 e máximo: 82), tendo a maioria escolaridade igual ou inferior ao 12º ano (54,6%). Os utentes referiram barreiras à adesão, incluindo fatores externos — stress, falta de tempo ou recursos, falta de controlo sobre o modo de confeção, emprego sedentário — e fatores internos — falta de motivação, comodidade da toma de fármacos em comparação com a mudança de hábitos. Foram propostas medidas para o aumento da adesão, como a promoção de workshops de confeção de alimentos com pouco sal, o aumento de legislação acerca da restrição de sal em diversos produtos e na restauração, a alocação de nutricionistas e psicólogos nos Cuidados de Saúde Primários e o apoio à mensalidade de ginásios mediante prescrição pelo médico de família. Discussão: Este estudo identificou barreiras à adesão à terapêutica sentidas pelos hipertensos portugueses, que ainda não estavam descritas na literatura nacional, como a falta de motivação e de recursos para uma melhor adesão, indiciando uma possível perceção desfasada sobre a adesão à terapêutica. Foram reunidas propostas para colmatar estas barreiras. A principal limitação foi a amostra compor-se de doentes seguidos por médicos de família cuja literacia é elevada, pelo que pode não representar todos os hipertensos portugueses. Conclusão: Este estudo foi o primeiro a reunir a perspetiva dos utentes com HTA sobre a adesão à terapêutica não farmacológica em Portugal, permitindo identificar possíveis estratégias para a aumentar, que poderão ser estudadas e testadas em Cuidados de Saúde Primários em Portugal, no futuro.

Introduction: Arterial hypertension has increased prevalence, representing a global public health challenge, with an estimated prevalence in Portugal of 36%. This pathology demands both pharmacological therapy and lifestyle modifications, commanding the challenge of changing the habits of patients. There is scarcity of qualitative studies in Primary care in Portugal that focus on patients' views on therapy adherence. Objectives: To identify the obstacles to patient adherence to lifestyle modifications in Arterial Hypertension and assemble the best strategies to increase it, according to Portuguese patients with this disease.Methods: Qualitative study composed of 3 focus groups with adult patients with Arterial Hypertension, of different regions of Portugal, recruited by family doctors. The data were collected during the recorded focus groups, using a script. After the transcription of the focus groups, the data were analyzed by content analysis, using the program MAXQDA®2022. Socio demographical variables were collected via an online form.The written informed consent of the participants was obtained, and the study was approved by the ARS Centro Ethics Committee. The COREQ recommendations were followed. Results: Convenience sampling was used to select 22 participants with Arterial Hypertension, with a mean of 60 years (minimum: 40, maximum: 82) The majority had completed the 12th grade or less (54.6%). The patients mentioned obstacles to therapy adherence related to external factors — stress, lack of time or resources, lack of control over cooking the meals, having a sedentary job — and internal factors — lack of motivation, ease related to taking medication compared to changing habits.Strategies to increase adherence were proposed, such as the organization of workshops that teach how to cook healthy, the extension of laws to limit the amount of salt in foods and restaurants, the presence of nutritionists and psychologists in Primary Care settings and subsidies to prescribed gym memberships.Discussion: This study identified obstacles to therapy adherence felt by Portuguese patients with Arterial Hypertension, not yet described in national literature, namely the lack of motivation and resources for better adherence, as well as indications of inaccuracy in perception of such adherence. Suggestions to overcome these obstacles were collected. The sample was composed of patients who were followed by their family doctor and had high level education, representing the main limitation of this study.Conclusion: This study was the first to collect the perspectives of patients with Arterial Hypertension about non pharmacological therapy adherence in Portugal, enabling the recognition of strategies to increase it, which can be further studied and tested I Primary Care in Portugal in the future.