SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL: ABORDAGEM TERAPÊUTICA DA SINTOMATOLOGIA REFRATÁRIA

Abstract

A síndrome do intestino irritável, uma das patologias gastrointestinais mais frequentes, é atualmente considerada um distúrbio da interação cérebro-intestino. O seu diagnóstico baseia-se em critérios bem definidos, sendo sobretudo um diagnóstico positivo. Os critérios baseiam-se essencialmente na sintomatologia do doente. A abordagem terapêutica inicial passa pela relação médico-doente, medidas de estilo de vida, dietéticas e farmacológicas. A definição de síndrome do intestino irritável refratária não é consensual, mas considera-se refratária toda a sintomatologia que não apresenta melhoria clínica após 12 meses de terapêutica de primeira linha. A abordagem da sintomatologia refratária deve ter em vista a melhoria da qualidade de vida do doente, evitando a iatrogenia. Os fármacos neuromodeladores, como os antidepressivos tricíclicos e os inibidores seletivos da recaptação de serotonina, bem como as abordagens psicoterapeutas, tais como a terapia cognitivo- comportamental e hipnoterapia dirigida aos sintomas gastrointestinais, têm demonstrado a sua eficácia na abordagem dos sintomas refratários. São ainda necessários estudos que efetuem a comparação entre as eficácias dos vários tipos de abordagens psicoterapêuticas, bem como a sua implementação em fases mais precoces na abordagem do doente. A terapia cognitivo-comportamental por telemóvel ou internet e a hipnoterapia em grupo podem vir a ser alternativas para expandir o acesso de mais doentes a este tipo de tratamento. As futuras abordagens terapêuticas, com destaque para a farmacogenómica e para o transplante da microbiota fecal, podem vir a ser muito úteis na abordagem dos doentes.

Irritable bowel syndrome, one of the most frequent gastrointestinal disorders, is nowadays considered a disorder of gut-brain axis. The diagnosis is based on well-defined criteria, being mostly a positive diagnosis, based on the patient's symptoms. The initial therapeutic approach involves a doctor-patient relationship, lifestyle, dietary and pharmacological measures. The definition of refractory irritable bowel syndrome is not consensual. Generally, the disease is considered refractory when the patient does not improve after 12 months of first-line therapies. The approach to refractory symptoms should always be evaluated with the aim of improving the patient's quality of life, avoiding the iatrogenic nature of unnecessary approaches. Neuromodulator drugs, such as tricyclic antidepressants and selective serotonin reuptake inhibitors, as well as psychotherapeutic technics, such as cognitive behavioural therapy and hypnotherapy focused on gastrointestinal symptoms, have demonstrated their effectiveness in refractory symptoms. Nevertheless, a comparison of the effectiveness of the various types of psychological therapies, as well as an assessment of their role earlier in the disease pathway, remains to be evaluated. Mobile or internet-based cognitive-behavioural therapy and group hypnotherapy may become alternatives to expand access to these therapies. Future therapeutic approaches, in particular pharmacogenomics and faecal microbiota transplantation, may be very helpful in the therapeutic management of patients with irritable bowel syndrome.