Papel dos Corticoesteroides na Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica

Abstract

A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) é uma doença comum, prevenível e tratável caraterizada por uma limitação continua do fluxo aéreo causada pela existência de anormalidades das vias respiratórias ou alveolares. A abordagem ao doente com DPOC deve ter em conta vários elementos de modo a prever o impacto da mesma no status funcional e no risco de eventos futuros (por exemplo, exacerbações). O principal objetivo do tratamento da DPOC é de reduzir o risco e mortalidade ao prevenir e tratar exacerbações, prevenindo também a progressão da doença. Para além do tratamento farmacológico, estão preconizadas outras recomendações como por exemplo a redução/evicção da exposição aos principais fatores risco, nomeadamente o tabaco, atividade física regular e eventual inclusão em programas de reabilitação respiratória. Relativamente à terapêutica farmacológica, esta é usada para reduzir sintomas, reduzir a frequência e severidade das exacerbações. Para o efeito, estão disponíveis diversas classes de medicamentos, nomeadamente broncodilatadores de longa e curta duração e corticosteroides inalados (ICS). A presença de um número aumentado de células inflamatórias nas biópsias das vias aéreas, incluído neutrófilos, macrófagos e linfócitos T, nos pulmões dos fumadores (suscetíveis ao desenvolvimento da DPOC) parece envolver-se diretamente com o tecido alveolar, o que promove uma limitação do fluxo aéreo. Esta informação, em conjunto com o facto dos ICS serem eficazes no tratamento da asma, encorajou o uso dos ICS na DPOC. Atualmente sabe-se que os eosinófilos desempenham um papel muito importante. Daí o pensamento, relativamente ao uso de ICS na DPOC e a medição dos eosinófilos no sangue de modo a perceber que doentes beneficiam desta terapêutica. Em monoterapia, os ICS não parecem demonstrar qualquer tipo de benefício. Existe atividade sinérgica entre as duas classes de fármacos – ICSs e LABAs. Em doentes com DPOC moderada a grave e com exacerbações, um ICS combinado com um LABA é mais eficaz do que apenas um ICS em monoterapia. O uso de terapêutica dupla com LABA/ICS inevitavelmente evolui para terapêutica tripla com o passar do tempo, contudo esta modificação pode ocorrer através de diversas abordagens terapêuticas e mostra uma sobre utilização de terapêutica tripla que por vezes não segue as recomendações. O uso destes corticosteroides inalados não está preconizado em doentes com contagens de eosinófilos inferiores a 100 células por microlitro. O uso prolongado destes fármacos leva ao desenvolvimento de inúmeros efeitos adversos. Os resultados dos diferentes estudos que abordam a suspensão dos ICS são díspares no que toca à função pulmonar, sintomas e exacerbações. A utilização de ICSs na DPOC continua a ser um tema bastante debatido e que merece especial atenção.

Chronic obstructive pulmonary disease (COPD) is a common, preventable and treatable disease characterized by a continuous limitation of airflow caused by abnormalities of the respiratory or alveolar passages. The approach to the patient with COPD should take into account several elements in order to predict its impact on functional status and future event risk (e.g. exacerbations). The main objective of COPD treatment is to reduce risk and mortality by preventing and treating exacerbations, and also preventing disease progression. In addition to pharmacological treatment, other recommendations are also proposed, such as reducing/avoiding exposure to main risk factors, particularly tobacco, regular physical activity and possible inclusion in respiratory rehabilitation programs. Regarding pharmacological therapy, it is used to reduce symptoms, reduce the frequency and severity of exacerbations. For this purpose, several classes of drugs are available, including long- and short-acting bronchodilators, inhaled corticosteroids (ICS). The presence of an increased number of inflammatory cells in airway biopsies, including neutrophils, macrophages and T-lymphocytes, in the lungs of smokers (susceptible to developing COPD) appears to be directly involved with alveolar tissue, which promotes airflow limitation. This information, together with the fact that ICSs are effective in treating asthma, encouraged the use of ICSs in COPD. Currently, it is known that eosinophils play a very important role. Hence, the thinking, regarding the use of ICS in COPD and measuring eosinophils in blood in order to understand which patients benefit from this therapy. In monotherapy, ICSs do not seem to show any type of benefit. There is synergistic activity between the two classes of drugs - ICSs and LABAs. In patients with moderate to severe COPD and exacerbations, an ICS combined with a LABA is more effective than just an ICS in monotherapy. The use of dual therapy with LABA/ICS inevitably evolves into triple therapy over time, however, this modification can occur through various therapeutic approaches and shows an overuse of triple therapy that sometimes does not follow recommendations. The use of these inhaled corticosteroids is not recommended in patients with eosinophil counts lower than 100 cells per microliter. Prolonged use of these drugs leads to the development of numerous side effects. The results of the different studies that address the suspension of ICSs are disparate in terms of lung function, symptoms and exacerbations. The use of ICSs in COPD is still a matter of debate and the decision to use them should be individualized, based on the patient's specific characteristics and the results of the eosinophil count.