Hábitos Alimentares das Pessoas com Diabetes Mellitus Tipo 2 em Portugal

Abstract

Introdução: A diabetes mellitus é um problema mundial de saúde, com incidência crescente, responsável por elevadas taxas de morbilidade e mortalidade. Sendo a nutrição uma área de intervenção na prevenção e gestão desta doença, é fulcral promover a capacitação da população para a adoção de hábitos alimentares saudáveis. Ainda que existam alguns estudos nesta área, não se conhecem os principais erros nos hábitos alimentares das pessoas com diabetes em Portugal. Objetivo: Identificar os principais erros nos hábitos alimentares das pessoas com diabetes mellitus tipo 2 em Portugal e avaliar a sua relação com variáveis sociodemográficas. Métodos: Estudo transversal multicêntrico, em amostra de conveniência de pessoas com diabetes mellitus tipo 2 seguidas em unidades de Cuidados de Saúde Primários. Aplicação do UK Diabetes and Diet Questionnaire (UKDDQ) – traduzido e adaptado, de julho a outubro de 2022. Análise estatística descritiva e inferencial, com recurso à correlação de Spearman e teste U de Mann-Whitney. Resultados: Amostra de 550 indivíduos, 52,2% do sexo feminino, 68,3% com 65 anos ou mais, 55,8 % com nível de escolaridade igual ou inferior ao 1º ciclo de ensino básico, 24,7% com insuficiência económica e tempo desde diagnóstico médio de 10,60 ± 8,13 anos. Apenas 36,2% da amostra obteve um score UKDDQ considerado saudável. Menos de 50% obteve scores saudáveis para os itens “arroz ou massa ricos em fibras”, “pão integral”, “manteiga, margarina e óleos vegetais” e “vegetais e leguminosas”. Somente 8,9% da amostra obteve score saudável para o consumo fibras. Cerca de 70,4% obteve score saudável no consumo de açúcares livres e 54,7% no consumo de ácidos gordos saturados. Verificou-se a existência de uma correlação com significado estatístico positiva fraca entre o score UKDDQ e idade (ρ=0,201, p<0,001) com escolha mais frequente de alimentos saudáveis com o aumentar da idade. O género feminino reportou hábitos alimentares mais saudáveis, particularmente no consumo de fibras e ácidos gordos saturados. Discussão e Conclusão: Ainda que o UKDDQ careça de validação formal para a população portuguesa e que a amostra tenha dispersão geográfica limitada, pela sua representatividade para a prevalência da diabetes mellitus em Portugal, foi possível concluir que o potencial efeito positivo de uma alimentação saudável não é usufruído pela maioria das pessoas. Individualizaram-se grupos de alimentos cujos consumos devem ser enfatizados ou desencorajados, particularmente, a necessidade de incentivar o consumo de alimentos ricos em fibra. Ações educacionais dirigidas devem ter especial foco em pessoas mais jovens e/ou do sexo masculino.

Introduction: Diabetes mellitus is a global health issue with increasing incidence, responsible for high morbidity and mortality rates. As nutrition is a cornerstone of its prevention and management, it is essential to enable patients to adopt healthy eating habits. Previous studies have not yet documented the main errors in the eating habits of Portuguese people with type 2 diabetes mellitus. Objectives: To identify the main errors in the eating habits of people living with type 2 diabetes mellitus in Portugal and to evaluate its relations with sociodemographic variables. Methods: Cross-sectional multicentric study in a convenience sample of people with type 2 diabetes mellitus in Primary Health Care units. The UK Diabetes and Diet Questionnaire (UKDDQ) – translated and adapted, was applied from July to October 2022. Descriptive and inferential statistical analyses, entailing Spearman’s correlation and Mann-Whitney U test, were conducted. Results: Of the 550 patients, 52,2% were female, 68,3% were 65 years or over, 55,8 % with an education level up to fourth grade, 24,7% with economic insufficiency and the mean time since diagnosis was 10,60 ± 8,13 years. Only 36,2% of the sample had a healthy UKDDQ score. Less than 50% of the sample had healthy scores for the items “high-fiber rice or pasta”, “high-fiber bread”, “butter, margarine and vegetable oils” and “vegetables and pulses”. Only 8,9% of the sample had a healthy consumption of fiber. About 70,4% reported healthy scores for the consumption of "high-added-sugar foods" and 54,7% for "high-saturated fat". A statistically significant weak positive correlation was found between the UKDDQ score and age (ρ=0,201, p<0,001) with a more frequent choice of healthy foods with increasing age. The female gender reported healthier habits, particularly in the consumption of “high-saturated fat” and “high-fiber foods”. Discussion/Conclusion: Even though the UKDDQ lacks formal validation for the Portuguese population and the sample has limited geographical dispersion, due to the representativity of the sample for the prevalence of diabetes mellitus in Portugal, it was possible to conclude that most people do not take advantage of the potential benefits from healthy eating habits. The main food groups whose consumption should be empathized or discouraged were individualized, particularly the need to encourage the consumption of high-fiber foods. Targeted educational actions must focus especially on younger and/or male patients.