Receios dos cuidadores na introdução de alimentos alergénicos perante história familiar ou pessoal de alergias

Abstract

Introdução: A diversificação alimentar é uma fase que suscita muita controvérsia e cujas orientações têm sofrido mudanças ao longo do tempo. A ESPGHAN defende o início da diversificação alimentar entre os 4 e os 6 meses de idade. Alternativamente ao paradigma que vigorou até recentemente, novos estudos sugerem que a introdução precoce de alimentos alergénicos, no início da diversificação alimentar, é segura e pode, inclusivamente, prevenir alergias futuras. O objetivo deste estudo é avaliar a existência de receios dos cuidadores nesta fase e perceber se a idade de introdução de alimentos alergénicos pode estar relacionada com a existência de antecedentes de alergias.Material e Métodos: Trata-se de um estudo transversal observacional e analítico. Decorreu na USF VitaSaurium, com aplicação de inquérito presencialmente e online, a cuidadores de utentes com idade > ou = 1 ano e < 4 anos. Para a análise estatística utilizou-se o programa SPSS (versão 28). O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética da ARS do Centro.Resultados: Obtiveram-se 89 respostas. 29,2% dos utentes têm antecedentes familiares de alergias e 4,5% antecedentes pessoais. A maior parte dos utentes iniciou a diversificação alimentar aos 6 meses (47,2%). Relativamente aos alimentos alergénicos, a maioria introduziu o glúten até aos 6 meses de idade (48,3%), o ovo e o peixe entre os 7 e 11 meses (46,1% e 48,3%, respetivamente). Não se evidenciaram associações estatisticamente significativas entre a idade de introdução destes alimentos e antecedentes familiares ou pessoais de alergias. A maioria dos utentes com história familiar de alergias não introduziu o amendoim na dieta da criança até à data de preenchimento do inquérito. Verificou-se uma associação estatisticamente significativa entre os antecedentes familiares de alergias e a idade de introdução do kiwi (p=0,036), em que a maioria utentes que não introduziram o kiwi ou que apenas o introduziram depois dos 23 meses eram utentes com antecedentes familiares de alergias. 23 cuidadores (25,8%) referiram ter tido receio na introdução algum alimento. O receio mais abordado foi reação alérgica. 18 cuidadores referiram ter adiado a introdução de algum alimento. Não se observaram associações estatisticamente significativas entre os receios ou o adiamento de algum alimento e a existência de antecedentes familiares ou pessoais de alergias.Conclusão: Não se verificaram diferenças entre a existência de receios em cuidadores de crianças com ou sem antecedentes de alergias. Porém, observou-se que, de uma forma geral, os cuidadores continuam a adiar a introdução de alimentos alergénicos.

Introduction: The complementary feeding stage usually generates controversy and its guidelines have evolved throughout time. ESPGHAN states that the complementary feeding process should begin between 4 and 6 months old. Alternatively to the current paradigm, new studies suggest that prematurely introducing allergenic foods, in the beginning stages of complementary feeding, is safe and can possibly prevent future allergies. The goal of this study is to assess the existence of fears of caregivers at this stage and whether the age of introduction of allergenic foods is related to the existence of a prior history of allergies.Material and Methods: This is an observational and analytical cross-sectional study. It took place at USF VitaSaurium, with the application of a survey in person and online, to caregivers of users aged > or = 1 year and < 4 years. The SPSS program (version 28) was used for the statistical analysis. The study was approved by the Ethics Committee of the ARS Center.Results: 89 responses were obtained. 29.2% of users were found to have a family history of allergies and 4.5% had a personal history. Most users (47,2%) started complementary feeding at 6 months old. Regarding allergenic foods, the majority (48,3%) introduced gluten up to 6 months, and eggs and fish between 7 and 11 months (46,1% and 48,3%, respectively). There were no statistically significant associations found between the age at which these foods were introduced and family or personal history of allergies. Most users with a family history of allergies had not yet introduced peanuts into their child's diet at the time the survey was completed. There was a statistically significant association between a family history of allergies and the age at which kiwi was introduced (p=0,036), in which most users who did not introduce kiwi or who only introduced it after 23 months were users with a family history of allergies. 23 caregivers (25,8%) reported being afraid to introduce selected foods. The most addressed fear was an allergic reaction. 18 caregivers reported having postponed the introduction of selected foods. No statistically significant associations were observed between fears or postponement of introducing foods and the existence of a family or personal history of allergies.Conclusion: There were no significant variances found in the existence of fears of caregivers in children with or without a family history of allergies. However, it was observed that, in general, caregivers continue to postpone the introduction of allergenic foods.