Fatores Preditivos para a Persistência de Alergia ao Ovo em Crianças Portuguesas

Abstract

Introdução: A alergia ao ovo constitui uma das principais alergias alimentares em crianças. As suas manifestações são múltiplas, podendo envolver simultaneamente vários sistemas de órgãos. Atualmente, a melhor forma de gerir esta condição é através da evicção deste alimento, tarefa nem sempre fácil, obrigando a um cuidado redobrado na procura ativa de vestígios de ovo nos diferentes alimentos. Por outro lado, a evicção total de ovo na alimentação pode conduzir a dietas desajustadas, dado este ser uma fonte importante de proteínas e outros nutrientes. Assim, a alergia ao ovo impacta de forma elevada criança e familiares. Foi objetivo deste estudo caracterizar esta alergia alimentar numa amostra de crianças e identificar fatores preditivos para a sua persistência.Material e Métodos: Estudo retrospetivo, no qual se procedeu à análise dos processos clínicos eletrónicos de crianças com diagnóstico de alergia IgE mediada ao ovo, seguidas na consulta de alergologia do Serviço de Pediatria do Ambulatório do Hospital Pediátrico de Coimbra entre 2017 e 2021. A partir desta consulta obtiveram-se dados relevantes ao estudo. Estes foram tratados recorrendo ao programa IBM® SPSS® v28. Recorreu-se a análise de sobrevivência usando gráficos de Kaplan-Meier por forma a concluir acerca da história natural desta condição, e ao teste Log-rank e regressão de Cox para concluir acerca de possíveis fatores preditores para a persistência da alergia ao ovo. Resultados: Estudaram-se 57 crianças com diagnóstico de alergia ao ovo IgE mediada. A idade mediana à observação foi de 6 anos, e 63,2% eram do sexo masculino. Sintomas cutâneos foram a primeira manifestação mais comum (45,6%), e 38,6% das crianças apresentou anafilaxia como primeira manifestação. No momento da recolha de dados, 57,9% das crianças não havia adquirido, ainda, tolerância. Asma e sensibilização a aeroalergénios associaram-se a uma resolução mais tardia da alergia (HR 0,26; IC95% [0,10; 0,66], p = 0,005 e HR 0,39; IC95% [0,16; 0,93], p = 0,034, respetivamente).Conclusões: O tempo mediano estimado para que as crianças estudadas adquiram tolerância foi de 8,7 anos após diagnóstico. Diagnóstico concomitante de asma e sensibilização a aeroalergénios foram os fatores encontrados que mais provavelmente poderão estar associados a uma persistência da alergia em estudo.

Introduction: Egg allergy is one of the main food allergies in children. Its manifestations are multiple and may involve several organ systems simultaneously. The best way to manage this condition is to avoid this food, which is not always easy and requires extra attention when it comes to actively looking for traces of eggs in different foods. On the other hand, complete avoidance of eggs in diet can lead to maladjusted diets, as they are an important source of protein and other nutrients. In this way, egg allergy has a high impact on the child and their family. The aim of this study was to characterize this type of food allergy in a sample of children and identify predictive factors for its persistence.Material and Methods: Retrospective study, in which the electronic clinical files of children with a diagnosis of IgE-mediated egg allergy followed in the allergology consultation of the Ambulatory Pediatrics service of the Hospital Pediátrico de Coimbra from 2017 to 2021 were analysed. From this query, data relevant to the study was obtained and processed using the IBM® SPSS® v28 program. Survival analysis was performed with Kaplan-Meier graphs to draw conclusions about the natural history of this condition and a Log-rank test as well as the Cox regression were used to conclude about possible predictive factors for the persistence of egg allergy.Results: Fifty-seven children diagnosed with IgE-mediated egg allergy were studied. The median age at observation was 6 years and 63.2% were male. Cutaneous symptoms were the most common first manifestation (45.6%) and 38.6% of the children presented anaphylaxis as the first manifestation. At the time of data collection, 57.9% of the children had not yet acquired tolerance. Asthma and sensitization to aeroallergens were associated with a later resolution of egg allergy (HR 0.26; CI95% [0.10; 0.66], p = 0.005 and HR 0.39; CI95% [0.16; 0.93], p = 0.034, respectively).Conclusions: The estimated median time for the studied children to acquire egg tolerance was 8.7 years after diagnosis. Concomitant diagnosis of asthma and sensitization to aeroallergens were found as the factors that are most likely associated with the persistence of the allergy under study.