Medicina da Corrida: O Estado da Arte numa Revisão Narrativa

Abstract

A popularidade e prevalência da corrida aumentaram nos últimos anos a par com a evolução dos comportamentos e cuidados individuais com a saúde, surgindo a necessidade de compreender melhor este exercício físico/desporto. Esta revisão narrativa permite essa compreensão, através da avaliação da evidência para determinar os benefícios, malefícios e especificidades pertinentes da corrida. Entre os benefícios encontrados, salienta-se a redução da mortalidade. A melhoria da saúde mental é outro efeito positivo, sublinhando-se a diminuição das prevalências de depressão, ansiedade e stress. Adicionalmente, parece despoletar sensação de prazer e melhorar a autoestima, bem-estar psicológico e humor. Outros benefícios são o aumento da densidade mineral óssea e redução do risco de osteopenia da coluna em comparação com outros desportos. Quanto aos malefícios, as lesões músculo-esqueléticas têm uma elevada prevalência e incidência, pelo que o presente artigo aborda o diagnóstico e gestão das mais comuns (tendinopatia de Aquiles, síndrome de stress tibial medial, síndrome de dor patelo-femoral, fasciite plantar, entorse do tornozelo e síndrome da banda iliotibial). Os malefícios estendem-se ainda ao sistema cardiovascular, principalmente em indivíduos com preparação inadequada, e à saúde mental, em atletas que praticam corrida em níveis extremos. Os principais fatores de risco para as lesões identificados são: lesões prévias; longas distâncias de treino semanais; repouso insuficiente após corridas de longa distância; calçado inapropriado; alterações da mecânica da marcha, sendo a principal a pronação do pé; pavimentos duros e irregulares; fraqueza de certos grupos musculares; e outras características anatómicas intrínsecas. Do ponto de vista preventivo, a intervenção nos fatores modificáveis passa por repouso e planos de treino adequados, utilização de calçado sem demasiado desgaste e adaptado a cada indivíduo, e correções da marcha. Por fim, a hidratação e dose de corrida ideais são especificidades importantes a conhecer na intervenção clínica em corredores. A hidratação é mais crítica na corrida de elevada duração e intensidade e em climas mais quentes. A ingestão de hidratos de carbono e eletrólitos suplementares pode ser vantajosa. Quanto à dose de corrida, a evidência atual não permite identificar uma dose máxima.

The increased popularity and prevalence of running in recent years alongside the evolution of individual health behaviours and care, has led to a growing need to better understand this physical exercise/sport. This narrative review provides that understanding by evaluating the evidence to determine the benefits, harms, and pertinent specifics of running. The review highlights the reduction in mortality as one of the key benefits of running, as well as the improvement in mental health, including a decrease in depression, anxiety, and stress. In addition, it seems to trigger feelings of pleasure and improve self-esteem, psychological well-being, and mood. Other benefits are increased bone mineral density and reduced risk of osteopenia of the spine compared to other sports. When it comes to harms, musculoskeletal injuries have a high prevalence and incidence, so this article addresses the diagnosis and management of the most common ones (Achilles tendinopathy, medial tibial stress syndrome, patellofemoral pain syndrome, plantar fasciitis, ankle sprain and iliotibial band syndrome). The harms also extend to the cardiovascular system, especially in individuals with inadequate preparation, and to mental health, in athletes who run at extreme levels. The main risk factors for injuries identified are: previous injuries; long weekly training distances; lack of rest after long-distance running; inappropriate footwear; changes in gait mechanics, the main one being pronation of the foot; hard and uneven flooring; weakness of certain muscle groups; and other intrinsic anatomical characteristics. From a preventive point of view, intervention in modifiable factors involves adequate rest and training plans, use of individually adapted footwear that is not too worn and gait corrections. Finally, the ideal running dose and hydration are important specifics to be aware of in the clinical intervention in runners. Hydration is most critical in high duration, high intensity running and in warmer climates. Supplemental carbohydrate and electrolyte intake may be advantageous. As for the running dose, current evidence does not allow us to identify a maximum dose.