Alergia ao peixe em idade pediátrica - uma revisão.

Abstract

A alergia alimentar (AA) constitui um importante problema de saúde, sobretudo nos países desenvolvidos. Nos últimos anos, tem-se assistido a um aumento do consumo de peixe, que se reflete num aumento dos casos reportados de alergia ao peixe. A prevalência exata desta doença é difícil de determinar, sobretudo pela diversidade de critérios usados no diagnóstico, pela variabilidade de peixes disponíveis e do consumo deste alimento entre regiões geográficas. No entanto, estima-se que possa afetar até 7% das crianças em determinadas regiões do globo, sendo mais frequente em países onde o consumo de peixe é mais elevado.A alergia ao peixe pode ou não ser mediada pela imunoglobulina E (IgE). Na maior parte dos casos, a resposta imunológica é IgE-mediada e a exposição ao alergénio pode ocorrer através da ingestão, inalação ou contacto da pele com o alergénio em causa. As manifestações clínicas típicas abrangem vários órgãos e sistemas, nomeadamente a pele, com urticária e angioedema, o trato gastrointestinal, com dor abdominal, diarreia e vómitos, e o trato respiratório, com asma e rinite. Os casos mais graves podem conduzir a um choque anafilático. Nas reações não IgE-mediadas, a apresentação clínica mais frequente, associada ao consumo de peixe, é a síndrome de enterocolite induzida por proteínas (food protein-induced enterocolitis syndrome – FPIES). O alergénio major do peixe é a parvalbumina. No entanto, já foram identificados outros alergénios, menos frequentes, envolvidos nesta patologia.O diagnóstico desta entidade baseia-se na colheita de uma história clínica completa e na realização de testes in vivo e/ou in vitro. O método de eleição é a prova de provocação oral duplamente cega controlada por placebo (double-blind, placebo-controlled challenge - DBPCFC). Contudo, por ser um teste mais dispendioso e com riscos associados, a sua aplicação reserva-se a casos específicos.O único tratamento recomendado para a alergia ao peixe é a evicção deste alimento ad aeternum, pelo que estão a ser desenvolvidas novas abordagens terapêuticas, com base na imunomodelação, constituindo um futuro promissor para estes doentes.Com este trabalho, pretende-se fazer uma revisão da literatura existente no que diz respeito à alergia ao peixe em idade pediátrica, nomeadamente da forma IgE mediada. Serão abordados tópicos como: a epidemiologia e prevalência, os alergénios envolvidos, as manifestações clínicas, os mecanismos fisiopatológicos, a história natural e tratamento.

Food allergy is an important health problem, particularly in developed countries. In recent years, there has been an increase in fish consumption, which reflects in a growing number of reported cases of fish allergy. The exact prevalence of this disease is difficult to determine, mainly due to the diversity of criteria used in diagnosis and the variability of fish availability and consumption among different geographic regions. However, it is estimated that it may affect up to 7% of children in certain regions of the world, being more frequent in countries where fish consumption is higher.Fish allergy can be either mediated or not mediated by immunoglobulin E (IgE). However, in most cases, the immune response is IgE-mediated and exposure to the allergen can occur through ingestion, inhalation, or skin contact with the allergen. The clinical manifestations of fish allergy involve multiple organs and systems, including the skin (hives and angioedema), the gastrointestinal tract (abdominal pain, diarrhea, and vomiting) and the respiratory tract (asthma and rhinitis). Severe cases of fish allergy can lead to anaphylactic shock. On the other hand, non-IgE-mediated reactions associated with fish consumption usually present as food protein-induced enterocolitis syndrome (FPIES) and are less frequent than IgE-mediated allergy.The main allergen in fish is parvalbumin. However, other less common allergens have also been identified in this condition.The diagnosis of fish allergy relies on a detailed medical history and in vivo and/or in vitro tests, with the double-blind, placebo-controlled food challenge being the gold standard method. Nevertheless, due to its high cost and potential risks, its application is reserved for specific cases.The only recommended treatment for fish allergy is complete avoidance of fish for life. However, promising new therapeutic approaches based on immunomodulation are currently being developed. These treatments offer hope for the future of patients with this condition. This review article aims to provide an overview of the literature on fish allergy in pediatric patients, with a focus on the IgE-mediated form. Topics such as the prevalence and epidemiology of fish allergy, the specific allergens involved, clinical manifestations, underlying pathophysiological mechanisms, natural history and treatment options available will be addressed.