Neurodesenvolvimento na Era Digital

Abstract

Introdução: A ubiquidade dos dispositivos digitais na atualidade torna relevante conhecer o impacto dos ecrãs no desenvolvimento cerebral e, consequentemente, no neurodesenvolvimento e no comportamento das crianças e adolescentes. O objetivo deste trabalho foi abordar as principais evidências a respeito da relação entre os ecrãs e as diferentes áreas do neurodesenvolvimento nestas faixas etárias, após uma ampla revisão da literatura.Métodos: Foi realizada uma revisão narrativa da literatura através de uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados PubMed e Embase, utilizando termos relativos ao tema. Foram incluídos artigos publicados no período entre 1992 e 2023, tendo sido selecionados 120 artigos.Resultados: O maior tempo de ecrã e o conteúdo desadequado podem afetar negativamente neurodesenvolvimento, nomeadamente a linguagem, comportamento, interação social e funções executivas. As crianças com perturbação do espetro do autismo, perturbação de hiperatividade e défice de atenção e prematuras são as mais vulneráveis. O controlo do tempo de ecrã e a seleção de conteúdo adequado à idade são duas das medidas mais importantes, permitindo diminuir o efeito deletério dos dispositivos digitais.Conclusão: Os resultados são tendencialmente contra o uso de ecrãs, sobretudo na ausência de controlo parental. Por conseguinte, os pais devem estar informados do potencial impacto dos ecrãs no neurodesenvolvimento e deve haver um investimento no controlo e certificação de programas e aplicações com conteúdo apropriado para as diferentes faixas etárias, com o objetivo de atenuar as consequências negativas da exposição aos ecrãs.

Introduction: The ubiquity of digital devices nowadays makes it relevant to know the impact of screens on brain development and, consequently, on the neurodevelopment and behavior of children and adolescents. The aim of this study was to address the main evidence regarding the relationship between screens and the different areas of neurodevelopment in this age groups, after an extensive literature review.Methods: A narrative review of the literature was carried out through bibliographic research in the Pubmed and Embase databases, using terms related to the theme. Studies published between 1992 and 2023 were included, with a total of 120 studies selected.Results: Longer screen time and inappropriate content can negatively affect neurodevelopment, namely language, behavior, social interaction, and executive functions. Children with autism spectrum disorder, attention deficit hyperactivity disorder and premature infants are the most vulnerable. Screen time control and the selection of age-appropriate content are two of the most important measures, making it possible to reduce the deleterious effect of digital devices.Conclusion: The results are biased against the use of digital devices, especially in the absence of parental control. Therefore, parents must be aware of the potential impact of screens on neurodevelopment and there must be an investment in the control and certification of programs and applications with appropriate content for different age groups, with the aim of mitigating the negative effects of screen exposure.