Osteoporose: Influência do Estilo de Vida no Pré e Pós-Diagnóstico

Abstract

Introdução: A Osteoporose (OP) é a doença osteometabólica mais frequente do ser humano, sendo responsável pela diminuição da resistência óssea e por um risco aumentado de ocorrência de fraturas de fragilidade. Esta grave patologia, de etiologia multifatorial e com diversos fatores de risco associados, caracteriza-se por uma redução da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, tendendo a cursar silenciosamente, até que ocorra a sua manifestação clínica mais grave, a fratura osteoporótica. Apresentando elevada prevalência à escala mundial, a OP atinge maioritariamente mulheres pós-menopáusicas e idosos de ambos os sexos, além de estar associada a elevadas taxas de incapacidade e morbimortalidade, surgindo como um dramático problema de saúde pública, com consequências devastadoras a nível individual, familiar e social. A sua prevenção precoce é altamente recomendada, devendo ser encetada in utero e mantida durante todo o ciclo de vida. É crucial um diagnóstico atempado, a fim de se travar a progressão desta doença, que é ainda muito subdiagnosticada, subtratada e subestimada. Objetivos: Caracterização do perfil clínico e sociodemográfico da amostra e estudo da influência do estilo de vida quer no surgimento de OP, quer no período pós-diagnóstico. A identificação de fatores biológicos, sociais, económicos, comportamentais e/ou ambientais que poderão ter influenciado o aparecimento de OP, bem como a sua evolução no pós-diagnóstico, foi outro dos objetivos, além da promoção da literacia em saúde. Metodologia: Este estudo transversal decorreu na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados de Seia, através da realização de uma entrevista semiestruturada e da aplicação de 2 questionários a 383 pessoas com diagnóstico de OP, provenientes de zonas rurais, localizadas na Serra da Estrela (amostra significativa, não probabilística e de conveniência, constituída por 353 mulheres e 30 homens). Na ida à consulta de Medicina Geral e Familiar, os utentes foram convidados a participar no estudo, assinando o consentimento informado. Além da entrevista, foram avaliados o peso e a altura e promoveu-se a importância da saúde óssea e muscular. Os dados foram compilados e sujeitos a análise descritiva e estatística, com recurso ao teste qui-quadrado. Foram avaliadas as relações entre 4 eventos e diversas variáveis categóricas, relacionadas com atributos bio e sociodemográficos, estilo de vida e nível de literacia em saúde, no período pré e pós diagnóstico de OP, considerando-se estatisticamente significativos valores de p<0.05. Resultados: Para o evento “ocorrência de fratura de fragilidade”, foi estatisticamente significativa a relação com: idade; estado civil; n.º filhos; atividades ao ar livre (infância); soro de leite (adolescência); n.º fontes de informação sobre OP; quedas; limitações decorrentes da OP; mudanças no pós-diagnóstico; toma de analgésicos opiáceos, antidiabéticos orais e antianémicos. Para o evento “conceções de OP”, obteve-se o mesmo tipo de relação com: idade; estado civil; habilitações literárias; profissão; n.º fontes de informação sobre OP; anos de diagnóstico; exercício físico habitual; atividades ao ar livre; exposição solar; mudanças no pós-diagnóstico. Para o evento “resultado DXA”, houve relação estatisticamente significativa entre melhoria e as seguintes variáveis referentes ao pós-diagnóstico: consumo de laticínios; atividades ao ar livre; caminhar ≥ 10’ contínuos; exposição solar; mudanças na dieta. Para o evento “risco de fratura de fragilidade major a 10 anos”, houve relação estatisticamente significativa entre maior risco de fratura e as variáveis: sexo; idade; IMC; perda de altura; estado civil; habilitações literárias; conceção de OP; adesão terapêutica; medo do sol; proteções contra o sol; n.º horas/dia sentado; mudanças no pós-diagnóstico (calçado e adaptações em casa). Discussão/Conclusão: Através deste estudo, conclui-se que existe um vasto leque de fatores, uns de risco, outros protetores, associados à OP e fraturas de fragilidade. Os hábitos e comportamentos de cada indivíduo, bem como os recursos, a literacia, o contexto familiar, social, geográfico, económico e cultural em que se insere, têm enorme impacto na sua saúde óssea e muscular. Existe, assim, uma inequívoca influência do estilo de vida quer no surgimento de OP, quer na evolução da patologia no pós-diagnóstico. Só em sociedades onde o conhecimento e a informação de qualidade predominam e se encontram democraticamente disseminados, pode haver o planeamento e a ação de diversos atores, no sentido de se combater este flagelo. A prevenção é a chave para travar a perigosa teia que a OP tece, sendo crucial a sensibilização da população e o aumento da literacia em saúde.

Introduction: Osteoporosis (OP) is the most common osteometabolic disease in humans, being responsible for the decrease in bone strength and an increased risk of fragility fractures. This serious pathology, of multifactorial etiology and with several associated risk factors, is characterized by a reduction in bone mass and deterioration of the microarchitecture of bone tissue, tending to progress silently, until its most serious clinical manifestation occurs: the osteoporotic fracture. Presenting a high prevalence on a global scale, OP affects mostly postmenopausal women and elderly people of both sexes, in addition to being associated with high rates of disability and morbidity and mortality, emerging as a dramatic public health problem, with devastating consequences at individual, family and social levels. Early prevention is highly recommended and should be started in utero and maintained throughout the life cycle. A timely diagnosis is crucial to halt the progression of this disease, which is still largely underdiagnosed, undertreated and underestimated. Objectives: Characterization of the clinical and sociodemographic profile of the sample and to study the influence of lifestyle both on the emergence of OP and in the post-diagnosis period. The identification of biological, social, economic, behavioral and/or environmental factors that may have influenced the appearance of OP, as well as its post-diagnosis evolution, was another objective, in addition to promoting health literacy. Methodology: This cross-sectional study took place at Personalized Health Care Unit of Seia, through a semi-structured interview and the application of 2 questionnaires to 383 people diagnosed with OP, from rural areas, located in Serra da Estrela (significant, non-probabilistic and convenience sample, consisting of 353 women and 30 men). When going to General Practice consultation, users were invited to participate in the study, signing the informed consent. In addition to the interview, weight and height were assessed and the importance of bone and muscle health was promoted. The data were compiled and subjected to descriptive and statistical analysis, using the chi-square test. The relationships between 4 events and several categorical variables, related to bio and socio-demographic attributes, lifestyle and level of health literacy, in the pre- and post-diagnosis period of OP were evaluated, considering values of p<0.05 to be statistically significant. Results: For the event “occurrence of fragility fracture”, the relationship was statistically significant with: age; marital status; number of children; outdoor activities (childhood); whey (adolescence); number of sources of information about OP; falls; limitations arising from the OP; post-diagnosis changes; taking opioid analgesics, oral antidiabetics and antianemics. For the “OP conceptions” event, the same type of relationship was obtained with: age; marital status; literary abilities; profession; number of sources of information about OP; years since diagnosis; habitual physical exercise; outdoor activities; sun exposure; post-diagnosis changes. For the “DXA result” event, there was a statistically significant relationship between improvement and the following variables relating to post-diagnosis: dairy consumption; outdoor activities; walk ≥ 10’ continuously; sun exposure; dietary changes. For the event “10-year risk of major fragility fracture”, there was a statistically significant relationship between a higher risk of fracture and the variables: sex; age; BMI; loss of height; marital status; literary abilities; conception of OP; therapeutic adherence; fear of the sun; sun protection; number of hours sitting per day; post-diagnosis changes (footwear and adaptations at home). Discussion/Conclusion: Through this study, it is concluded that there is a wide range of factors, some of risk and others of protection, associated with OP and fragility fractures. The habits and behaviors of each individual, as well as resources, literacy and family, social, geographic, economic and cultural context in which they live, have a huge impact on their bone and muscle health. There is, therefore, an unequivocal influence of lifestyle both on the emergence of OP and on the evolution of the pathology in the post-diagnosis. Only in societies where knowledge and quality information predominate and are democratically disseminated, can there be planning and action by different actors, to combat this scourge. Prevention is the key to stopping the dangerous web that OP weaves, raising public awareness and increasing health literacy is crucial.