A Importância da patologia óssea em antropologia forense: Especificidade de lesões ósseas em indivíduos com cancro e outras causas de morte pertencentes à Coleção de Esqueletos Identificados da Universidade de Coimbra

Abstract

Uma das problemáticas no campo da identificação de patologias ósseas na Antropologia forense reside na escassez de estudos com uma abordagem quantitativa e assente no cálculo de especificidade de lesões. O objetivo principal da presente investigação visou contribuir para a temática de alterações ósseas comummente encontradas em neoplasias, estudando a especificidade de um conjunto de lesões em indivíduos sem cancro. Para tal, foi criada uma amostra constituída por 67 indivíduos (34 homens e 33 mulheres; idades à morte entre os 10 e os 96 anos), pertencentes à Coleção de Esqueletos Identificados da Universidade de Coimbra (CEI), cujos registos de causa de morte não indicavam a existência de neoplasias malignas. Estes indivíduos estavam distribuídos por quatro grandes grupos de causas de morte: doenças infeciosas (n=24;35,8%), respiratórias (n=15;22,4%), circulatórias (n=13;19,4%) e outras condições (n=15;22,4%). Este estudo focou-se na observação macroscópica do padrão de distribuição, natureza, entre outros aspetos de um conjunto de lesões proliferativas e destrutivas. Tendo-se, também, procedido à comparação com os dados obtidos por Marques (2018).Lesões osteolíticas focais (16,4%) e formação de novo osso sob a forma de woven/misto (16,4%) foram as mais frequentes na amostra, enquanto casos de perda/colapso ósseo (6,0%) e de alargamento ósseo (4,5%) tiveram prevalência inferior. Não foram observadas reações espiculares, osteolíticas difusas (moth-eaten/permeativas) nem destruição cortical- esta última considerada no presente estudo e na escassa literatura existente como podendo ser exclusiva de neoplasias. Apenas se encontrou um caso de porosidade coalescente, que não era esperado, tendo em conta toda a literatura existente sobre neoplasias. Os testes estatísticos não revelaram diferenças significativas entre o sexo (p=0,305) e a idade à morte (p=0,512), sendo a causa de morte (i.e. cancro e não cancro) (p<0,001) a grande influenciadora no número de lesões observadas, na frequência e na especificidade de cada lesão. Recorreu-se, ainda, a métodos complementares (i.e. radiografia e papeletas hospitalares), que permitiram esclarecer dúvidas relativas a lesões presentes nos indivíduos em estudo.A comparação da frequência das lesões em duas amostras com causas de morte por neoplasias e outras patologias demonstrou quão ambígua é a especificidade de lesões ósseas e quão necessário é ter em conta aspetos mais característicos das lesões, como a sua forma e padrão de distribuição. Devido à escassez de estudos sobre lesões como a destruição cortical e porosidade coalescente/dispersa, é fundamental que estudos futuros se foquem nessas três alterações ósseas para compreender se a sua prevalência apenas está associada a doença metastática óssea.

One of the problems in the field of identifying bone pathologies in Forensic Anthropology dwells in the lack of studies with a quantitative approach and based on the calculation of lesion specificity. The main goal of this research aimed to contribute to the theme of bone alterations commonly found in neoplasms, by studying the specificity of a group of lesions in individuals without cancer. For such, it was created a sample consisting of 67 individuals (34 men and 33 women; age at death between 10 and 96 years), from the Coleção de Esqueletos Identificados da Universidade de Coimbra (CEI), whose death records did not indicate the existence of malignant neoplasms. This individuals were distributed by four main cause of death groups: infectious diseases (n=24;35,8%), respiratory diseases (n=15;22,4%), circulatory diseases (n=13;19,4%) and other pathological conditions (n=15;22,4%). This study focused on the macroscopic observation of the distribution pattern, typology and others aspects of a group of proliferative and osteolytic lesions. A comparison was also made with the data obtained by Marques (2018). Focal osteolytic lesions (16,4%) and woven/mix new bone formation (16,4%) were the most frequent in the sample, while cases of bone loss/collapse (6,0%) and bone enlargement (4,5%) had lower prevalence. Spiculated reactions, diffuse osteolytic (moth-eaten/permeative) and cortical destruction weren´t observed- the latter considered in the present study and in the scarce existing literature to be exclusive of neoplasms. Only one case of coalescent porosity was found, that was not expected, taking into account all the existing literature on neoplasms. Statistical tests did not reveal significant differences between sex (p=0,305) and age at death (p=0,512), with cause of death (cancer and not cancer) (p<0,001) being the major influence in the number of lesions observed, frequency and specificity of each lesion. Complementary methods (radiology and hospital records) were, also, used and allowed clarifying doubts related to the lesions present in the individuals under study. The comparison of the frequency of lesions in two samples with causes of death from neoplasms and other pathologies demonstrated how ambiguous is the specificity of bone lesions and how necessary it is to take into account more characteristics aspects of bone lesions, as its shape and pattern of distribution. Due to the scarcity of studies on lesions, such as cortical destruction and coalescent/disperse porosity, its essential that future studies focus on these three bone lesions to understand whether its prevalence is only associated with metastatic bone disease.