As várias Faces da Vergonha: O Papel da Vergonha na Relação entre Experiências Precoces Adversas e Sintomatologia Internalizante e Externalizante em Adolescentes em Acolhimento Residencial

Abstract

A literatura tem sugerido uma associação significativa entre experiências precoces adversas e psicopatologia, a importância da vergonha e do coping com a vergonha nessa relação, e como a adolescência pode ser um período relevante para o desenvolvimento de vergonha e de psicopatologia. Contudo, existe uma lacuna no estudo dessas variáveis em adolescentes em acolhimento residencial. Assim, o presente estudo procurou analisar o papel da vergonha na associação entre experiências precoces adversas e sintomas internalizantes e externalizantes, em adolescentes em acolhimento residencial. A amostra foi composta por 52 rapazes e 68 raparigas (Midade = 15.78). Os participantes preencheram questionários de autorresposta que avaliavam todas estas variáveis. A associação mais elevada encontrada verificou-se entre as estratégias de Ataque ao Eu e Fuga com sintomas internalizantes. Nos modelos de mediação, o efeito das experiências precoces de submissão e de desvalorização nos sintomas internalizantes foi totalmente mediado pela vergonha e pelas estratégias de Fuga, enquanto o efeito das experiências precoces de desvalorização nos sintomas externalizantes foi totalmente mediado pela vergonha. Estes resultados reafirmam a vergonha como um mecanismo relevante na associação destas experiências com a psicopatologia internalizante e externalizante. A falta de efeitos significativos nos sintomas externalizantes abre o campo a investigação futura. Em termos de implicações clínicas, a vergonha pode ser um alvo importante no trabalho com adolescentes em acolhimento residencial com sintomatologia internalizante e externalizante.

Literature has suggested a significant association between adverse early experiences and psychopathology, the importance of shame and of shame coping strategies in this relationship, and how adolescence may be a relevant period for the development of shame and psychopathology. However, there is still a gap in the study of these variables in adolescents placed in residential care. Therefore, the present study aimed to analyze the role of shame and shame coping strategies in the association between adverse early experiences and internalizing and externalizing symptoms in adolescents in residential care. The sample consisted of 52 boys and 68 girls (Mage = 15.78). Participants completed a set of self-report questionnaires assessing all these variables. Findings demonstrated higher positive and significant associations between shame coping strategies of Attack Self and Withdrawal with internalizing symptoms. In the mediation models, the effect of submissiveness and unvalued early experiences on internalizing symptoms was totally mediated by shame and withdrawal, while the effect of unvalued experiences on externalizing symptoms was totally mediated by shame. These results reaffirm shame as a relevant mechanism in the association of adverse early experiences on both internalizing and externalizing symptoms, and the importance of strategies of coping with shame, namely withdrawal, in the understanding of internalizing symptoms. The lack of significant effects of shame coping strategies on externalizing symptoms, opens the field to further research. In terms of clinical implications, especially shame may be an important target in working with both internalizing and externalizing symptoms of adolescents in residential care.