A centralidade da pandemia por COVID-19 e a estabilidade temporal do impacto psicológico em profissionais de enfermagem

Abstract

Introdução. O surgimento da pandemia por COVID-19 implicou a adoção de medidas que se traduziram em consequências na saúde mental da população. Estas consequências foram particularmente relevantes junto dos/as profissionais de enfermagem, em virtude dos desafios e condições de trabalho adversas a que estes foram sujeitos. Contudo, poucos estudos abordam as suas repercussões a médio prazo. Objetivo. Primeiro, comparar os níveis de centralidade do surgimento da pandemia por COVID-19 e de sintomas psicopatológicos na população geral e em profissionais de enfermagem; segundo, analisar a estabilidade temporal dos sintomas psicopatológicos em enfermeiros/as, num período de 6 meses. Métodos. Recolheu-se uma amostra de 338 participantes: 158 referentes à população geral e 180 enfermeiros/as a trabalhar em território nacional aquando do surgimento da pandemia por COVID-19. Foram administrados questionários de autorresposta nas variáveis em estudo. No tratamento estatístico dos dados foi utilizado o teste t de Student para amostras (in)dependentes e calculados coeficientes de correlação. Resultados. A análise comparativa entre as duas amostras revelou níveis superiores de centralidade do acontecimento e de stresse traumático e níveis inferiores de medo da COVID-19 nos/as profissionais de enfermagem comparativamente com a população geral. Após 6 meses, verificou-se um aumento da sintomatologia depressiva e ansiosa e uma diminuição do medo da COVID-19 nos/as profissionais de enfermagem. A sintomatologia de stresse traumático manteve-se estável. Conclusões. A compreensão das trajetórias de (in)adaptação nestes profissionais permitirá mitigar as consequências da pandemia, reduzir erros associados à prática profissional e promover medidas preventivas mais eficazes em situações de calamidade de saúde.

Introduction. The outbreak of the pandemic implied the adoption of measures that resulted in consequences for mental health. These consequences were particularly relevant for nursing professionals, due to the challenges and adverse working conditions they faced. However, few studies address its medium-term repercussions. Objective. First, to compare the levels of centrality of the outbreak of COVID-19 pandemic and the psychopathological symptoms in the general population and nursing professionals; second, to analyze their temporal stability, over a period of 6 months. Methodology. A sample of 338 participants was collected: 158 referring to the general population and 180 nurses working in national territory at the beginning of the COVID-19 pandemic. Self-report questionnaires were administered to the variables under study. In the statistical data analysis, the Student's t test was used for (in)dependent samples and correlation coefficients were calculated. Results. The comparative analysis between the two samples revealed higher levels of event centrality and traumatic stress and lower levels of fear of COVID-19 in nursing professionals comparing to general population. After 6 months, there was an increase in depressive and anxious symptoms and a decrease in fear of COVID-19 in nurses. The symptomatology of traumatic stress remained stable. Conclusions. Understanding the trajectories of (in)adaptation in nursing professionals will allow the mitigation of the consequences of the pandemic, reduce errors associated with professional practice and promote more effective and preventive measures in situations of health calamity.