Linhas de fuga do Antropoceno: ontologias não-modernas e os antípodas da Razão

Abstract

Este artigo experimental parte da atual controversa do Antropoceno para pensar alternativas à racionalidade moderna ocidental, sublinhando a necessidade do desenvolvimento de ontologias não-modernas para fazer face à atual crise climática e ambiental. Recorre-se a uma série de exemplos heterogéneos – desde práticas contemplativas, estados alterados de consciência a modelos planetários – para refletir acerca da ligação entre humanos, sistemas terrestres e os seus corpos. Estes exemplos são encarados enquanto alegorias que nos colocam frente a frente ao caráter disruptivo do Antropoceno, contrastando com as ontologias dominantes da modernidade ocidental. O artigo visa levar a cabo um exercício performativo e provocatório para produzir formas alternativas de “reagir” ao Antropoceno para além da cognição e da representação, combinando diferentes registos epistemológicos e disciplinares – por vezes nos limites da linguagem académica convencional – que são entendidos enquanto linhas de fuga, lançando assim o mote para este número da e-cadernos CES.

This experimental article departs from the current controversy of the Anthropocene to reflect on alternatives to modern Western rationality, highlighting the need to develop non-modern ontologies to face the current climate and environmental crisis. A series of heterogeneous examples are used – from contemplative practices, altered states of consciousness to planetary models – to reflect on the connection between humans, terrestrial systems and their bodies. These examples are seen as allegories that put us face to face with the disruptive character of the Anthropocene, contrasting with the dominant ontologies of Western modernity. The article aims to carry out a performative and provocative exercise to produce alternative ways of “reacting” to the Anthropocene beyond cognition and representation, combining different epistemological and disciplinary registers – sometimes within the limits of conventional academic language – that are understood as lines of escape, thus launching the motto for this issue of e-cadernos CES.