Síndrome depressivo em idade geriátrica - barreiras e gestão do diagnóstico em cuidados de saúde primários

Abstract

Introduction: Depression is the most prevalent mental illness, with well-defined diagnostic criteria. In geriatric age, the clinical presentation may be atypical and hampered by the stigmatization of mental illness, experiences, beliefs and comorbidities. This study’s primary objective is to identify barriers to the diagnosis and treatment of depression in geriatric age in General Practioners (GPs). As secondary objectives: to list physicians' attitudes, beliefs/perceptions regarding this pathology and to understand which variables influence the type of barriers identified.Methods: Cross-sectional observational study, for which a questionnaire was designed for specialist doctors and residents of Family Medicine (FM). In the questionnaire, sociodemographic data, degree of specialization in FM, regional health administration in which they work, unit’s typology, specific professional experience with the geriatric population, training in geriatrics and mental health were collected. Using Likert scales, data were collected, such as: attitudes and perceptions about depression in geriatric age, identification of barriers to adequate diagnosis and treatment and identification of needs that may to be addressed. The form was disseminated through GPs’ mailing lists and online groups. Descriptive and inferential statistics and qualitative analysis by content analysis of the results were performed.Results: A total of 426 valid responses were obtained. Most of the participants were specialists with more than 10 years of professional experience, female and working in Family Health Units type B distributed throughout the country. Regarding previous training in Mental Health and Geriatrics, 148 (34.7%) and 112 (26.3%) of the respondents said they had training in these areas, respectively. The reduced consultation time and comorbidities in the elderly with depression were the main barriers pointed out by clinicians. The most important needs were more consultation time and psychiatric consultations within the scope of Primary Health Care (PHC). The degree of specialization was the biggest determinant in the identification of barriers and necessary guidelines in the management of this pathology.Discussion: To our knowledge, this is the first study in PHC, in Portugal, to address this issue, creating a basis for multidisciplinary programs that help to overcome the identified barriers, supporting and giving confidence to the elderly patient and family in the building capacity of the disease’s management and the reduction of stigma associated with it. Some limitations were identified, namely response and selection biases, since people who were more motivated for the topic answered the questionnaire and were more likely to use computers.

Introdução: A depressão constitui-se a doença mental mais prevalente, com critérios de diagnóstico bem definidos. Em idade geriátrica, a apresentação clínica pode ser atípica e dificultada pela estigmatização da doença mental, pelas vivências, crenças e comorbilidades. O objetivo primário deste estudo foi identificar as barreiras ao diagnóstico e tratamento da depressão em idade geriátrica em Medicina Geral e Familiar (MGF). E os objetivos secundários foram elencar atitudes, crenças/perceções dos médicos relativamente a esta patologia e perceber que variáveis influenciam o tipo de barreiras identificadas.Métodos: Estudo transversal, para o qual foi elaborado um questionário, destinado a médicos especialistas e internos de MGF. Foram recolhidos dados sociodemográficos, grau de especialização em MGF, ARS em que exerce funções, tipologia de unidade, experiência profissional especifica com população geriátrica, formação em Geriatria e em Saúde Mental. Utilizando escalas de Likert recolheram-se dados sobre: atitudes e perceções sobre a depressão em idade geriátrica, identificação de barreiras ao diagnóstico e tratamento adequados e identificação de necessidades às quais é preciso dar resposta. O formulário foi divulgado através de mailling lists e grupos online de que fazem parte médicos de MGF a nível nacional. Foi feita estatística descritiva, inferencial e análise qualitativa por análise de conteúdo dos resultados. Resultados: Obteve-se um total de 426 respostas válidas. A maioria eram especialistas com experiência profissional superior a 10 anos, do sexo feminino e trabalhavam em Unidades de Saúde Familiar tipo B distribuídas por todo o país. Relativamente à formação prévia em Saúde Mental e Geriatria, 148 (34,7%) e 112 (26,3%) dos inquiridos afirmaram ter formação nestas áreas, respetivamente. O tempo reduzido de consulta e as comorbilidades no idoso revelaram-se as principais barreiras apontadas. Já as necessidades e orientações consideradas mais importantes foram mais tempo de consulta e consultas de psiquiatria no âmbito dos Cuidados de Saúde Primários (CSP). O grau de especialização foi o maior determinante na identifcação das barreiras e orientações necessárias na gestão desta patologia.Discussão: Segundo o nosso conhecimento, este é o primeiro estudo em CSP, em Portugal, a abordar esta temática, criando uma base para programas multidisciplinares que ajudem a ultrapassar as barreiras identificadas, apoiando e dando confiança ao doente idoso e família na capacitação da gestão da doença e redução de estigmas a ela associados. Identificaram-se algumas limitações, nomeadamente vieses de resposta e de seleção, uma vez que responderam ao questionário pessoas mais motivadas para o tema e com maior facilidade com meios informáticos.