Associações entre a Negligência Parental e a Solidão na Adolescência

Abstract

À ausência de cuidados eficientes para satisfazer as necessidades básicas requeridas ao desenvolvimento dos jovens, dá-se o nome de negligência parental. Este padrão de falhas para assegurar o bem-estar dos adolescentes parece estar muito relacionado com uma baixa qualidade da relação entre pais e filhos e interfere com o funcionamento psicológico e social dos adolescentes. A solidão na adolescência tem na sua base fatores familiares, como a ausência de um vínculo seguro aos pais, e afeta negativamente o bem-estar do adolescente, podendo gerar sofrimento. Este estudo visou analisar a relação entre a negligência parental percebida pelos jovens nas diferentes dimensões que a constituem e os níveis de solidão vividos na relação com os pais e pares, bem como o significado que o adolescente atribui à experiência de estar só.Participaram no estudo 334 adolescentes, de ambos os sexos e com idades compreendidas entre os 12 e os 17 anos (M = 15.07; DP = 1.391). O protocolo de investigação aplicado incluiu um questionário sociodemográfico, a Escala da Negligência Parental na Adolescência (MANS-PT) e o Questionário de Avaliação da Solidão. Os resultados revelaram que os adolescentes não tendem a percecionar os seus pais como negligentes, ainda que a mãe seja percebida como menos negligente do que o pai. Os adolescentes sentem maior solidão na relação com os pares do que com os pais, sendo os dois tipos de solidão mais acentuados nas raparigas. A negligência emocional, principalmente da mãe, é preditora da solidão na relação com os pais e com os pares e da afinidade à solitude. Os adolescentes que são privados de apoio emocional tornam-se menos confiantes e mais apreensivos relativamente às interações com outras pessoas, o que pode interferir com a formação e manutenção de relações futuras, havendo um risco acrescido de sentir solidão. Apesar da negligência parental apresentar valores baixos na amostra deste estudo, verificou-se que podem influenciar os níveis de solidão na adolescência, o que reforça a necessidade de realizar mais estudos que aprofundem o conhecimento sobre as implicações da negligência para o desenvolvimento dos adolescentes.

The absence of efficient care to meet the basic needs required for young people's development is called parental neglect. This pattern of failure to ensure the well-being of adolescents seems to be closely related to a low quality of the relationship between parents and children, who reveal themselves to be important figures to ensure the psychological and social functioning of adolescents. This study aimed to analyze the relationship between parental neglect perceived by adolescents in the different dimensions that constitute it and the levels of loneliness experienced in the relationship with parents and peers, as well as the meaning that adolescents give to the experience of being alone. A total of 334 adolescents, of both sexes and aged from 12 to 17 (M = 15.07; SD = 1.391), participated in the study. The research protocol applied included a sociodemographic questionnaire, the Adolescent Parental Neglect Scale (MANS-PT) and the Loneliness Assessment Questionnaire.The results revealed that adolescents do not tend to perceive their parents as neglectful, even though mothers are perceived to be less neglectful than fathers. Adolescents experience greater loneliness in relationships with peers than with parents, with both types of loneliness being more pronounced in girls. Emotional neglect, especially from mothers, is predictive of loneliness in relationships with parents and peers and of affinity for solitude.Adolescents who are deprived of emotional support become less confident and more apprehensive about interactions with other people, which can interfere with forming and maintaining future relationships, and there is an increased risk of experiencing loneliness. Although parental neglect showed low values in the sample of this study, it was found that they can influence the levels of loneliness in adolescence, which reinforces the need to conduct further studies that deepen the knowledge about the implications of neglect for the development of adolescents.