Populismo, emoções, valores e o papel da família na ideologia política: Estudo das narrativas de pessoas com representação política de esquerda

Abstract

O populismo é estudado enquanto ideologia, estratégia, ou estilo que divide a sociedade em dois grupos antagónicos: o ‘povo puro’ versus a ‘elite corrupta’. Estudos sobre o populismo de direita e extrema-direita reportam a importância do estudo das emoções e dos valores no populismo, existindo, contudo, uma escassez de estudos sobre o populismo em partidos de esquerda. No processo de socialização política também o sistema familiar parece ter influência, ainda que empiricamente esta relação tenha sido pouco explorada. Deste modo, o presente estudo pretende compreender o papel das emoções, dos valores e da família nos partidos com assento parlamentar mais à esquerda e que têm caraterísticas coincidentes com as dos partidos populistas, através da análise das narrativas de pessoas ativas no sistema político. Para tal, foi realizada uma investigação qualitativa, com recurso a entrevistas semiestruturadas, a 10 indivíduos ativos no Bloco de Esquerda (BE) e no Partido Comunista Português (PCP). Os dados foram examinados recorrendo a uma análise temática da qual emergiram cinco categorias principais – Emoções, Valores, Motivações, Impacto/s e Família - e 36 subcategorias. De um modo geral, dos resultados obtidos destaca-se a emergência de emoções negativas, nomeadamente a Raiva, a Tristeza e a Desilusão, e a preponderância das emoções negativas ativas. Em termos de valores, foram identificados como predominantes o Universalismo e o Ideal Comunista. Além disso, a família parece ter influência no comportamento político, caso exista envolvimento político por parte de outros membros da família, assim como o envolvimento político parece influenciar a família. Observou-se ainda que o baixo nível socioeconómico da família parece contribuir para a procura de soluções nos partidos de esquerda. Em suma, este estudo permitiu identificar as emoções, os valores, as motivações, o/s impacto/s e o papel da família no envolvimento de pessoas ativas nos partidos políticos de esquerda em Portugal, traduzindo-se num ponto de partida para futuras investigações.

Populism is studied as an ideology, strategy or style that divides society in two antagonic groups: the ‘pure people’ versus the ‘corrupt elite’. Studies about right and extreme-right wing populism report the importance of the study of emotions and values in populism, as studies on populism of left-wing parties are scant. The family system seems to have influence on the political socialization of individuals, although this relation has not been well explored empirically. The present study aims to comprehend the role of emotions, values, and family in parties with a leftmost parliamentary seat that have coincident characteristics with populist parties, through narrative analysis of politically active people. A qualitative study was conducted, using semi-structured interviews, of 10 active people of Left Bloc (BE) and Portuguese Communist Party (PCP). The data were analyzed using a thematic analysis from which five categories – Emotions, Values, Motivations, Impact/s, and Family – and 36 subcategories emerged. Globally, from the results we highlight the emergence of negative emotions, such as Anger, Sadness and Disappointment, as well as the active negative emotions predominance. The predominant values are Universalism, and the Communist Ideal. Moreover, family seems to have influence in the political behavior if other members of the family are politically engaged, as well as political engagement seems to have influence in the family. Furthermore, family low socioeconomic statuses could lead to search for solutions in left parties. In summary, this study allowed us to identify the emotions, the values, the motivations, the impact/s, and the family role in the engagement of active people in left-wing political parties in Portugal, representing a starting point for future investigations.