Please use this identifier to cite or link to this item: https://hdl.handle.net/10316/104048
Title: O Medo de Comer: Uma Análise do Comportamento Alimentar Restritivo Contemporâneo.
Other Titles: The Fear of Eating: An Analysis of Contemporary Restrictive Eating Behavior
Authors: Pereira, Vasco Mendes Azenha dos Santos
Orientador: Dias, Paula Cristina Barata
Keywords: Alimentação saudável; Comércio alimentar; Comunicação; Indústria alimentar; Ortorexia; Healthy eating; Food trade; Communication; Food industry; Orthorexia
Issue Date: 19-Oct-2022
Serial title, monograph or event: O Medo de Comer: Uma Análise do Comportamento Alimentar Restritivo Contemporâneo.
Place of publication or event: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Abstract: Civilizations, their peoples and cultures are modeled by eating habits: food preferences, what is acceptable to eat or not, food availability supplied through natural resources and market, social interaction, nutrition knowledge, trends, the art of gastronomy. For each one of us, members of a culture, food is also a way of expressing individuality, beliefs, values and ideologies. Individual expectations and the pressure they put on food models stimulates and reveals trends that will possibly be affirmed in society.In a contemporary developed world, the appeal to a certain lifestyle is effective, and the so-called healthier alternatives have become a key-expression and have transformed the way people eat. Growing information and alertness on healthy lifestyles, apparently with an immediate impact in each person’s enrichment, success and well-being, leads us to become our own nutritionists, sovereigns and controllers of our choices.Are we on the way to actually become healthier people, or simply letting ourselves fall into insubstantial appeals, ideologies and trends, which might unbalance the relationship between human beings and food as part of their culture?,Aren’t we rejecting identity, cultural and community aspects connected with a certain historically consolidated way of eating? Does this “revolution” in the way of eating, which privileges the sanitary dimension to the detriment of food tradition, effectively bring gains towards a long and healthier life based on a very good planned nutrition?In order to answer these questions, we sought, first of all, to describe and characterize the framing presented in the previous paragraphs. To do so, we dedicated ourselves to the observation of stores, some particular cases of displaying food products, identification of slogans in publications and an adequate reading of the bibliography on this very recent topic.We have also carried out a survey of data among potential food consumers according to the new standards of value focused on health. The obtained results made it possible to observe the phenomenon and characterize its impact according to the following data: gender, place of residence, level of education, income. It was possible to conclude that the female population shows higher levels of availability for the consumption of products explicitly presented as “healthier”; The place of residence did not prove to be significant in the choices for “healthier” products; whereas the educational level and income of each individual and/or household clearly influence the adherence to these new food products.We could also see that there is a growing choice for processed or labeled food products according to their nutritional characteristics; that these are valued and emphasized by food industry and trade that follow the demand or stimulate it through good advertising campaigns: stores have increased their range of lactose-free and gluten-free foods, creating specific ranges aimed at this type of demand.Although there are those who actually need it for medical and health reasons, today the consumption and availability of these foods far exceeds medical indications: searching for the healthiest products and the ones which promise longevity, more beauty, and more balance have become a generalized behavior, both from individuals and families hat have increased their consumption of modified products or of those with a more detailed labeling which describes them as health promoters.According to these patterns of consumption, we believe that food continues to be a mirror and a projection of consumers; current expectations and anxieties. Today, “eating well” has become to be identified with “eating healthy”, and this medicalized pattern of food is, to a large extent, adopted by food industry and trade, enticing consumers. At the same time, having in mind a diversified diet close to the natural state one realizes these “corrected” foods are themselves subject to modifications of dubious balance in order to create beautiful healthy young human beings.
As civilizações, os seus povos e culturas são também modelados pela alimentação que praticam: gostos alimentares, definição cultural do que serve para comer ou não, oferta disponível a partir do que é proporcionado pelos recursos naturais e pelo comércio, formas de sociabilidade, saber teórico acerca da nutrição, modas, tendências, arte gastronómica. Mas a alimentação também constitui, para cada um de nós, membros de um modelo cultural, um modo de exprimir a individualidade, as crenças, valores e ideologias. Esta pressão das expectativas individuais sobre os modelos alimentares estimula e revela tendências que se afirmarão no coletivo social. No mundo desenvolvido contemporâneo, está bem vincado o apelo para os estilos de vida, com ênfase na transformação dos modos de comer para alternativas ditas mais saudáveis. A crescente informação e alerta acerca dos estilos de vida saudáveis, mais eficazes para a valorização pessoal, sucesso e bem-estar, levam a que cada um de nós se torne nutricionista de si próprio, soberano e controlador do que são as suas escolhas. Será que estamos a caminho de pessoas efetivamente mais saudáveis, ou estamos a deixar-nos conduzir por apelos não substanciais, ideologias e tendências, que, de si, desequilibram a relação do ser humano com o sistema alimentar enquanto parte da sua cultura; a dimensão identitária, cultural e comunitária de uma determinada forma de comer historicamente consolidada? Será que esta “revolução” no modo de comer, que privilegia a dimensão sanitária em detrimento da tradição alimentar traz, efetivamente, ganhos do ponto de vista dos objetivos a atingir, isto é a manutenção de uma vida longa em padrões saudáveis através de uma nutrição muito planeada?Para respondermos a estas questões, procurámos, em primeiro lugar, descrever e caraterizar a realidade que apresentamos nos parágrafos anteriores. Para isso, dedicámo-nos à observação de superfícies comerciais; casos particulares de exposição de produtos alimentares; identificação de slogans em publicações; leitura de bibliografia adequada a esta temática tão recente.Seguidamente, procedemos a um levantamento de dados entre os potenciais consumidores desta oferta alimentar de acordo com os novos padrões de valor centrados na saúde. Os resultados obtidos permitiram observar o fenómeno e caraterizar o seu impacto de acordo com fatores específicos: género; o local de residência; nível de educação; caraterização económica. Foi possível aferir que o género feminino apresenta níveis mais elevados de disponibilidade para o consumo de produtos explicitamente apresentados como “mais saudáveis”; o local de residência não se revelou significativo nas escolhas por produtos “mais saudáveis”; mas o nível educativo e a caraterização económica de cada indivíduo e/ou agregado familiar influenciam a adesão a estes novos produtos alimentares. Pudemos verificar que há uma crescente apetência por produtos alimentares transformados ou rotulados de acordo com as suas caraterísticas nutritivas; que estas são valorizadas e sublinhadas por uma indústria e um comércio alimentares que acompanham a procura ou a estimulam através de boas campanhas publicitárias: os supermercados aumentaram a sua gama nos alimentos sem lactose e sem glúten, criando gamas específicas direcionadas para este tipo de procura. Se há os que efetivamente necessitam por razões médicas e de saúde, hoje o consumo e a disponibilidade destes alimentos supera em muito a indicação médica: ir em busca do mais saudável, do que promete mais longevidade, mais beleza, mais equilíbrio; são comportamentos generalizados, primeiro de indivíduos, depois de famílias que ajustam o seu consumo aos produtos modificados ou apenas com rotulagem mais detalhada, que os descreve pelas suas qualidades enquanto promotores de saúde .Face a estes padrões de consumo, consideramos que a alimentação continua a ser um espelho e uma projeção das expectativas e das ansiedades atuais dos consumidores. Hoje, o “comer bem” começa a identificar-se com “comer saudável”, sendo que este padrão medicalizado do alimento está, em grande parte, cativado pela indústria e comércio alimentares, instigando a adesão dos consumidores. Paralelamente, estes alimentos “corrigidos” de modo a potenciarem os seres humanos enquanto saudáveis, jovens e belos são, eles próprios sujeitos a modificações de equilíbrio duvidoso, quando se tem em mente uma alimentação diversificada e próxima do estado natural.
Description: Dissertação de Mestrado em Alimentação: Fontes, Cultura e Sociedade apresentada à Faculdade de Letras
URI: https://hdl.handle.net/10316/104048
Rights: openAccess
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