Impacto da pandemia COVID-19 na abordagem e prognóstico dos síndromes coronários agudos

Abstract

Introduction: On March 11, 2020, the World Health Organization declared the international outbreak of SARS-CoV-2 as a pandemic. Massive waves of infections have put unprecedented pressure on health services, and many appointments, surgeries, and other procedures unrelated to COVID-19 have been postponed or cancelled. Questions arose about the interference of the pandemic in the diagnosis and treatment of patients with diseases other than COVID-19. With time and the deepening of knowledge about this new disease, it was found that COVID-19 and cardiovascular diseases, particularly acute coronary syndrome, influence each other. The present study aimed to review, summarize, and systematize the available scientific literature on the impact of the pandemic, at national and international levels, on the admission, management, and prognosis of patients with acute coronary syndromes.Methods: The information was collected by searching in the PubMed online database (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov), using the keywords COVID-19, SARS-CoV-2, acute coronary syndrome, patient admissions, approach, disease management, and prognosis. Inclusion criteria were as follows: adult patients (age 18 years or older), patients with acute coronary syndrome with or without SARS-CoV-2 infection, and pandemic context.Results: Overall, studies report an average reduction of 30% in the number of admissions of patients with acute coronary syndrome, also greater system delay, clinical/electrocardiographic characteristics tending to be more severe, decrease in PCI performed, and relative increase in patients undergoing fibrinolysis, without significant differences in mortality. Also, the approach to patients had to be adapted, needing to use of personal protective equipment and carrying out SARS-CoV-2 RNA assay. Differential diagnosis in patients with acute coronary syndrome is of particular importance to make a correct diagnosis, and to timely institute the proper treatment. The essence of the treatment for these patients has not changed significantly beside the use of personal protective equipment and SARS-CoV-2 RNA assay.Discussion and conclusions: Although an increase in the incidence of acute coronary syndromes was expected, there has been a significant decrease in many countries. Several are reasons given, but fear of contagion seems to be the main one. Invasive reperfusion therapies were also less performed, with consequences for the prognosis of patients. However, the superiority of percutaneous coronary intervention over fibrinolysis is recognized, and the safety of the former has been demonstrated in the pandemic context. A proactive and vigilant attitude in the management of patients with acute coronary syndrome is crucial, especially during the COVID-19 pandemic, when the risk of underestimating patients with severe disease or delaying the institution of life-saving therapy is highest.

Introdução: A 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde declarou o surto internacional de SARS-CoV-2 como uma pandemia. As grandes vagas de infecções provocaram pressão sem precedentes sobre os serviços de saúde, e muitas consultas, cirurgias e outros procedimentos não relacionados com a COVID-19 foram adiados ou cancelados. Levantaram-se então questões sobre a interferência da pandemia no diagnóstico e tratamento dos doentes com doenças que não a COVID-19. Com o decorrer do tempo e o aprofundamento do conhecimento sobre esta nova doença, constatou-se que a COVID-19 e as doenças cardiovasculares, particularmente o síndrome coronário agudo, se influenciam mutuamente. O presente trabalho teve por objectivo rever, resumir e sistematizar a literatura científica disponível sobre o impacto da pandemia, a nível nacional e internacional, na admissão, abordagem e prognóstico dos doentes com síndromes coronários agudos.Materiais e métodos: A informação foi recolhida através da pesquisa de artigos publicados na base de dados online PubMed (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov), com recurso às palavras-chave COVID-19, SARS-CoV-2, acute coronary syndrome, patient admissions, approach, disease management, e prognosis. Os critérios de inclusão foram os seguintes: doentes adultos (idade igual ou superior a 18 anos), doentes com síndrome coronário agudo com ou sem infecção por SARS-CoV-2, e necessidade de contexto em pandemia.Resultados: Globalmente, os estudos reportam uma redução média de 30% no número de admissões de doentes com síndromes coronários agudos, maior atraso do sistema, características clínicas/electrocardiográficas tendencialmente mais graves, diminuição das ICPs realizadas e aumento relativo dos doentes submetidos a fibrinólise, sem diferenças significativas na mortalidade. Também a abordagem aos doentes teve de ser adaptada no que diz respeito ao uso de equipamento de protecção individual e realização de testes de pesquisa de RNA de SARS-CoV-2. O diagnóstico diferencial nos doentes com síndrome coronário agudo ganha particular importância por forma a realizar um diagnóstico correcto e um tratamento adequado e atempado. A essência do tratamento destes doentes não sofreu alterações significativas além do uso de equipamento de protecção individual e pesquisa de RNA de SARS-CoV-2.Discussão e conclusões: Apesar de se prever um aumento da incidência de síndromes coronários agudos, verificou-se uma diminuição significativa em muitos países. Vários são os motivos apontados, sendo o medo de contágio o que parece ser preponderante. Também foram realizadas menos terapêuticas de reperfusão invasivas, com consequências no prognóstico dos doentes. No entanto, reconhece-se a superioridade da intervenção coronária percutânea face à fibrinólise, e tem-se demonstrado a segurança da primeira em contexto pandémico. É crucial uma atitude proactiva e vigilante na abordagem dos doentes com síndrome coronário agudo, especialmente durante a pandemia por COVID-19, quando o risco de subestimação de doentes com doença grave ou de atraso na instituição de terapêutica modificadora de prognóstico é mais elevado.