FATORES QUE INFLUENCIAM A SATISFAÇÃO PROFISSIONAL EM MEDICINA GERAL E FAMILIAR

Abstract

INTRODUÇÃO: A avaliação multifatorial que os médicos de Medicina Geral e Familiar (MGF) fazem, em Portugal, do exercício da sua atividade profissional, deve ser realizada comparativamente com outros contextos e utilizando instrumentos adequados, sendo até agora escassa a sua investigação em Portugal.OBJETIVO: O objetivo geral consiste em conhecer como é avaliada a satisfação com o exercício da profissão por médicos de MGF, em aspetos de insatisfação e de satisfação, quanto a questões pessoais, competências especiais requeridas, organização do trabalho, relações médico-paciente, ensino e aprendizagem, equilíbrio pessoal e fatores de insatisfação.MÉTODOS: Estudo observacional transversal, após obtenção de parecer ético, pela aplicação de um questionário web especificamente construído, com 30 questões organizadas em 7 grupos, seis de satisfação e um de insatisfação e uma questão para avaliação da importância atribuída a cada um dos 7 grupos, após obtenção de parecer ético. O convite para resposta foi difundido por organizações específicas da MGF em Portugal nas suas redes on-line com médicos especialistas e médicos no Internato de Especialidade. Após atingido o tamanho da amostra calculado, foi realizada estatística descritiva e inferencial em função de género, idade e o grau na carreira médica.RESULTADOS: Amostra representativa de população com 343 inquiridos, 106 (30.9%) do género masculino, 105 internos da especialidade (30.6%) dos quais 79 (75.2%) do género feminino. Quanto à idade, o escalão 31-40 anos foi o mais representado com 140 pessoas (40.8%). Nos 6 grupos de fatores de satisfação a média obtida nas respostas foi de 3.29 num intervalo de classificação [1-4], sendo a média menor a do grupo G6 - Fatores p/ equilíbrio pessoal - com 2.13. No Grupo G7 - Fato- res de insatisfação, a média foi de 3.36, aqui com avaliação inversa. Com as pontuações das 30 questões de cada questionário e os pesos fornecidos por cada inquirido foi calculado um índice de satisfação através de soma pesada (escala 0-100%) verificando-se uma média global de 68.9% variando entre 32.2% e 92.1%.DISCUSSÃO: A verificação de que no grupo G7 (Fatores de insatisfação) a média global é de 3.36, significando insatisfação global relativamente elevada e de que no grupo G6 (Fatores p/ equilíbrio pessoal) a média global foi baixa, deve levar a questionamentos mesmo que o questionário tenha sido aplicado em plena Pandemia COVID19 e em época de reflexão sobre o que deve ser esperado do modelo público de prestação de cuidados em Medicina Geral e Familiar. As médias dos restantes Grupos, entre 3.31 e 3.72, revelam haver boa autossatisfação com o desempenho profissional.CONCLUSÃO: Os médicos de MGF gostam da sua profissão, mas não encontram nela o equilíbrio pessoal que desejariam, identificando fatores fortes de insatisfação como a carga de trabalho burocrático e o volume de trabalho exagerados, a pressão mental excessiva, salário inadequado ao esforço, e o não reconhecimento quer pela administração pública e privada, quer pelas restantes especialidades médicas, quer pela sociedade em geral.

INTRODUCTION: The multifactorial assessment that General Practice (GP) physicians make of the exercise of their professional activity, in Portugal, should be carried out comparatively to other contexts and using adequate instruments, and so far little research has been done in Portugal.OBJECTIVE: The overall objective is to know how satisfaction with the exercise of the profession is evaluated by GP physicians, in aspects of dissatisfaction and satisfaction, regarding personal issues, special skills required, work organization, doctor-patient relationships, teaching and learning, personal balance and dissatisfaction factors.METHODS: Cross-sectional observational study, after obtaining the ethical opinion, through the appli- cation of a specifically designed web questionnaire, with 30 questions organized into 7 groups, six of satisfaction and one of dissatisfaction and a question to assess the importance assigned to each of the 7 groups, after obtaining the ethical opinion. The invitation to answer was disseminated by specific organizations of GP practices in Portugal in their online networks with specialist physicians and physi- cians in the Specialty Internship. After reaching the calculated sample size, descriptive and inferential statistics were performed according to gender, age and medical career grade.RESULTS: Representative sample of the population with 343 respondents, 106 (30.9%) were male, 105 interns in the specialty (30.6%) of whom 79 (75.2%) were female. As for age, the 31-40 age bracket was the most represented with 140 people (40.8%). In the 6 groups of satisfaction factors, the average obtained in the answers was 3.29 in a classification interval [1-4], with the lowest average in Group G6 - Factors for personal balance - with 2.13. In Group G7 - Factors for Dissatisfaction, the average was 3.36, here with an inverse evaluation. With the scores of the 30 questions in each questionnaire and the weights provided by each respondent, a Satisfaction Index was calculated through a weighed sum (scale 0-100%), verifying an overall average of 68.9% ranging from 32.2% to 92.1%.DISCUSSION: The fact that in group G7 (Dissatisfaction factors) the global average was 3.36, meaning a relatively high global dissatisfaction, and that in group G6 (Factors for personal balance) the global average was low, should lead to questioning, even though the questionnaire was applied in the middle of the COVID19 Pandemic and in a time of reflection on what should be expected from the public model of care delivery in General Practice Medicine. The mean scores of the remaining groups, ranging from 3.31 to 3.72, revealed a good level of self-satisfaction with professional performance.CONCLUSION: GP doctors enjoy their profession, but do not find in it the personal balance they would like, identifying strong factors of dissatisfaction such as the excessive bureaucratic workload and work volume, excessive mental pressure, inadequate salary for the effort, and the lack of recognition by the public and private administration, by the other medical specialties, or by society in general.