DISTRESS E ESTRATÉGIAS DE COPING NOS ESTUDANTES DE MEDICINA

Abstract

ABSTRACTIntroduction: Mental Health has been recognized as an increasingly pressing topic to be studied and discussed. Stress-generating events that medical students face when placed in a context that pressures increased productivity, can precipitate the onset of anxiety and depression. Coping helps to minimize the external or internal demands that the person is faced with. It’s what the individual does to deal with a situation that induces stress. Thus, it is important to know the impact of different coping strategies and the potential beneficial effects that a motivating intervention can have.Methods: Prospective cohort analytical study at two points in time, in a quasi-random sample, size representative of the population of students of the 3rd year of the master’s degree in Medicine of the Faculty of Medicine, University of Coimbra, of the 2020/2021 school year, in the second half of the academic year 2020/2021 and cumulatively in the two semesters. The applied questionnaire instrument consisted of an epidemiological survey, the Patient Health Questionnaire-4 (PHQ-4) and the Brief Coping Orientation to Problems Experienced (BRIEF- COPE).. Between the two applications, the students were given an informative and motivational intervention. The results of this questionnaire were compared with the results obtained by another one carried out in a similar way in the first semester.Results: In a sample of 115 3rd year students in February and 83 in May (2nd semester) there were no significant differences regarding depression, anxiety or distress by the PHQ-4 (p=0.789). There were statistically significant differences for male students, over the same time interval, regarding the BRIEF-COPE items, “use of emotional support” (p=0.045), which increased, and “humor” (p= 0.037), which decreased. It was found that there was a significant (p<0.05) and very weak positive correlation at the beginning of the semester between distress and the total BRIEF-COPE. Comparing the first semester with the second, there were statistically significant differences in the various levels of distress by PHQ-4 between the beginning of both semesters (p<0.001), being worse in the second semester. As for the BRIEF- COPE, there were differences in the female item ‘’religion’’ (p=0.022), having decreased from the first to the second. Joining the samples from both semesters, there were statistically significant differences in all items assessed by the PHQ-4, whether anxiety (p<0.001), depression (p=0.005) or distress (p<0.001), all with positive growth dynamics.Discussion: The differences that were found in terms of distress by the PHQ-4 between the beginning of the two semesters may have resulted from the intrinsic characteristics of the students, from the fact that students at the beginning of the first semester returned from summer vacation, which are longer than the holidays between the 1st and 2nd semesters and found themselves with lower levels of distress, from the different phases of the pandemic situation in Portugal, from a combination of the reasons presented before, or from any other reason. With the samples of both semesters put together, we verified that the items evaluated by the PHQ-4 worsened, and consequently that the intervention that was carried out did not have the intended results. It may have been because the students are already inserted in such a stressful context that a self-motivating intervention once a week is not enough?Conclusion: After the intervention, for the two semesters together, most coping strategies were used more, particularly ''Emotional support'', ''Active coping'' and ''Positive reinterpretation'' (∆ =+0.05). Students reduced the use of a few others, and items such as 'Humor', 'Religion' and 'Planning' had negative growth dynamics. The most used coping strategy is “Self-blame” with an average score of 4.04 at the end of the semester, considered in many studies as a dysfunctional strategy.This increase in the use of most coping strategies, contrary to what was initially thought, did not lead to a decrease in anxiety, depression or distress. Between the beginning and the end of the semesters, there were significant differences for anxiety (p<0.01), for depression (p=0.005) and distress (p<0.001), with positive growth dynamics. Among many possible justifications, it may be because the formative intervention is not enough to mitigate the growing stress generated by the medical course over a semester, making it urgent to find solutions to increase adherence to functional coping tactics with a consequent decrease in distress.

Introdução: A saúde mental tem vindo a ser reconhecida como tema a ser mais prementemente estudado e discutido. Acontecimentos geradores de stress que os estudantes de medicina enfrentam quando inseridos num contexto de pressão e produtividade crescentes, podem precipitar o aparecimento de ansiedade e depressão. O coping ajuda na minimização do stress causado pelas exigências externas ou internas com as quais a pessoa se confronta, ou seja, refere-se especificamente ao que o indivíduo faz para lidar com uma situação que lhe induz stress. Assim, é importante saber qual o impacto das diferentes estratégias de coping e os potenciais efeitos benéficos que uma intervenção motivadora pode ter.Materiais e métodos: Estudo analítico de coorte prospetivo em dois pontos no tempo, numa amostra quasi-aleatória, representativa da população de estudantes do 3o ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), no segundo semestre do ano letivo 2020/2021 e no ano letivo completo 2020/2021. Foi aplicado um instrumento constituído por um inquérito epidemiológico, o Patient Health Questionnaire–4 (PHQ-4) e o Brief Coping Orientation to Problems Experienced (BRIEF- COPE). Entre as duas aplicações foi feita uma intervenção informativa e motivacional aos alunos. Posteriormente, foram comparados os resultados deste questionário com os resultados obtidos por outro feito em moldes semelhantes no primeiro semestre.Resultados: Numa amostra de 115 alunos em fevereiro e 83 alunos em maio, não houve diferenças significativas quanto à depressão, ansiedade ou distress pelo PHQ-4 (p=0,789). No entanto, verificaram-se diferenças significativas para os alunos do sexo masculino, no mesmo intervalo de tempo, no que toca aos itens do BRIEF-COPE, “Utilização de suporte emocional” (p=0,045), que aumentou, e “Humor” (p=0,037), que diminuiu. Verificou-se uma correlação significativa (p<0,05) positiva muito fraca no início do semestre entre distress e o total do BRIEF-COPE. Comparando o primeiro com o segundo semestre, houve diferenças significativas nos vários níveis de distress pelo PHQ-4 entre o início de ambos os semestres (p<0,001), sendo piores no segundo. Quanto ao BRIEF-COPE, houve diferenças no sexo feminino no item ‘’Religião’’ (p=0,022), com diminuição do primeiro para o segundo semestre. Juntando as amostras de ambos os semestres, houve diferenças significativas em todos os itens avaliados pelo PHQ-4, seja ansiedade (p<0,001), depressão (p=0,005) ou distress (p<0,001), todos com dinâmicas de crescimento positivas entre o início e o fim do semestre.Discussão: As diferenças verificadas nos níveis de distress pelo PHQ-4 entre o início dos dois semestres tanto podem ter resultado de características intrínsecas dos alunos, do facto de, no início do primeiro semestre, terem voltado de férias de verão e por isso apresentarem níveis inferiores de distress, das diferentes fases da situação pandémica em Portugal, de uma combinação das opções anteriormente descritas, ou por alguma outra razão. Na união de ambos os semestres, verifica-se que os itens avaliados pelo PHQ-4 pioraram, ou seja, que a intervenção que foi feita não teve os resultados pretendidos. Poderá ser justificado pelo facto de os alunos estarem inseridos num contexto gerador de tanto stress, que uma intervenção auto-motivadora uma vez por semana não é suficiente?Conclusão: Avaliando os resultados da amostra dos dois semestres juntos, verifica-se que após a intervenção, as estratégias de coping foram, na sua maioria, mais utilizadas, particularmente o ‘’Suporte emocional’’, o ‘’Coping ativo’’ e a ‘’Reinterpretação positiva’’(∆=+0,05). Os alunos diminuíram a utilização de outras, e itens como ‘’Humor’’, “Religião’’ e “Planeamento” tiveram dinâmicas de crescimento negativas. A estratégia de coping mais usada é foi a “Auto-culpabilização”, com uma pontuação média de 4,04 no final do semestre, apesar de ser considerada em muitos estudos como uma estratégia disfuncional. Este aumento da utilização da maioria das estratégias de coping, ao contrário do que se pensava inicialmente, não levou a uma diminuição de ansiedade, depressão ou distress, antes pelo contrário. Entre o início e o fim dos semestres, houve diferenças significativas na ansiedade (p<0,01), depressão (p=0,005) e distress (p<0,001), com dinâmicas de crescimento positivas. Entre muitas possíveis justificações, acreditamos que tal pode dever-se ao facto da intervenção formativa não ser suficiente para mitigar o stress crescente gerado pelo curso de Medicina ao longo de um semestre, tornando-se urgente encontrar soluções para aumentar a adesão a táticas de coping funcionais com consequente diminuição do distress.