Diabetes gestacional: o papel da microbiota intestinal e o potencial uso de probióticos

Abstract

Introdução: A diabetes gestacional é uma complicação obstétrica comum, com uma prevalência crescente e que está associada a inúmeras consequências a curto e longo prazo. Evidências recentes sugerem que a disbiose intestinal pode contribuir para a patogénese da doença, fundamentando o surgimento de novas abordagens de prevenção e tratamento baseadas na modulação da microbiota intestinal, nomeadamente através do uso de probióticos. Com esta revisão pretende-se elucidar as alterações da microbiota intestinal associadas à diabetes gestacional, a forma como estas contribuem para a fisiopatologia da doença, os mecanismos de ação dos probióticos e o seu o papel na prevenção e tratamento da diabetes gestacional. Metodologia: A pesquisa bibliográfica foi realizada nas bases de dados Pubmed, Scielo e Tripdatabase através dos termos: “gestational diabetes”, “pregnancy-induced diabetes”, “probiotics”, “microbiota”, “microbiome”, “microflora”, “flora”, “microbial”, “dysbiosis” e “dysbacteriosis”. Foram selecionados artigos publicados entre 2010 e 2020, que relacionassem a microbiota intestinal materna com a diabetes gestacional ou o uso de probióticos com a sua prevenção e tratamento. Discussão: A disbiose intestinal associada à diabetes gestacional caracteriza-se por um aumento da razão Firmicutes/Bacteroidetes, com uma maior abundância de bactérias gram-negativas e uma menor quantidade de bactérias gram-positivas produtoras de ácidos gordos de cadeia curta. Esta desregulação da microbiota intestinal pode contribuir para a fisiopatologia da doença através de mecanismos que envolvem a diminuição da secreção de incretinas e o aumento do estado inflamatório. A suplementação com probióticos pode ajudar na regulação da disbiose intestinal e proporcionar alterações potencialmente benéficas na homeostase da glicose, como o aumento da secreção de peptídeo semelhante ao glucagon 1, a alteração da expressão de genes envolvidos no metabolismo da glicose e a diminuição da inflamação e do stress oxidativo. Em mulheres grávidas, o uso de probióticos parece reduzir a resistência à insulina, no entanto o seu efeito na redução dos níveis de glicose plasmática é limitado. A incidência de diabetes gestacional ou a ocorrência da maioria dos desfechos maternos e neonatais adversos associados à doença não são significativamente diminuídos com o uso de probióticos. Conclusão: A disbiose intestinal presente em mulheres com diabetes gestacional pode contribuir para a patogénese da doença, contudo, os probióticos têm um papel limitado na sua prevenção e tratamento.

Introduction: Gestational diabetes is a common obstetric complication, with an increasing prevalence and associated with numerous short and long-term consequences. Recent evidence suggests that gut dysbiosis may contribute to the pathogenesis of the disease, supporting the emergence of new preventive and treatment approaches based on the modulation of the gut microbiota, namely through the use of probiotics. This review aims to elucidate the changes in the gut microbiota associated with gestational diabetes, their contribute to the pathophysiology of the disease, the mechanisms of action of probiotics and their role in the prevention and treatment of gestational diabetes. Methodology: The literature search was carried out in Pubmed, Scielo and Tripdatabase databases using the terms: “gestational diabetes”, “pregnancy-induced diabetes”, “probiotics”, “microbiota”, “microbiome”, “microflora”, “flora”, “microbial”, “dysbiosis” and “dysbacteriosis”. Articles published between 2010 and 2020 that related maternal gut microbiota with gestational diabetes or the use of probiotics with its prevention and treatment were selected. Discussion: Gut dysbiosis associated with gestational diabetes is characterized by an increase in the Firmicutes/Bacteroidetes ratio, with a greater abundance of gram-negative bacteria and a smaller amount of gram-positive bacteria producing short-chain fatty acids. This dysregulation of the gut microbiota may contribute to the pathophysiology of the disease through mechanisms that involve a decrease in incretin secretion and an increase in the inflammatory state. Supplementation with probiotics can help regulate gut dysbiosis and provide beneficial changes in glucose homeostasis, such as increased secretion of glucagon-like peptide 1, altered expression of genes involved in glucose metabolism, decreased inflammation and less oxidative stress. In pregnant women, the use of probiotics appears to reduce insulin resistance, however their effect on lowering plasma glucose levels is limited. The incidence of gestational diabetes or the occurrence of most adverse maternal and neonatal outcomes associated with the disease are not significantly reduced with the use of probiotics. Conclusion: Gut dysbiosis present in women with gestational diabetes may contribute to the pathogenesis of the disease, however, probiotics have a limited role in its prevention and treatment.