Conhecimentos e perceção de estudantes de medicina portugueses sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez – Intenções na futura prática clínica

Abstract

Desde 2007, a interrupção da gravidez por opção da mulher (IVG) constitui entre 96 e 97% dos casos de interrupção da gravidez (IG). É necessário um número suficiente de profissionais para assegurar o acesso a serviços de aborto seguro. Pretende-se avaliar as perceções de estudantes de medicina sobre o ensino no âmbito da IVG, a aquisição de competências científicas e individuais e compreender quais os fatores que influenciam as intenções dos estudantes no envolvimento futuro na prestação de cuidados na área da IVG. Convidámos 920 estudantes de medicina do 1º, 5º e 6º ano da FMUC a completar um questionário online. Foram avaliadas a importância que os estudantes davam ao tema, as opiniões sobre o seu nível de conhecimentos e sobre o número de horas de ensino durante a faculdade (5º e 6ºano). Sondaram-se as intenções futuras na prestação de IVG. Fez-se uma análise comparativa entre o nível de conhecimentos dos estudantes do 1º ano e dos do 5º e 6º ano. As respostas foram alvo de análise estatística adequada.435 alunos responderam ao questionário. 56.1% considerou “Muito importante” o ensino sobre IVG na formação médica pré-graduada. A maioria do 5º e 6º ano considerou “Bom” o seu nível de conhecimentos sobre a lei portuguesa, a objeção de consciência e os riscos de uma IVG. Existiram diferenças estatisticamente significativas no nível de conhecimentos percecionado entre estudantes de diferentes anos, na maioria dos temas. Não existiram diferenças estatisticamente significativas na perceção do número de horas de ensino entre o 5º e 6º ano em nenhum dos temas pesquisados. Enquanto 60.5% dos estudantes pretende prestar IVG em todos os casos, 20.7% apenas o fará dependendo do motivo da mulher, 5.5% não pretende fazê-lo e 13.3% não soube dizer qual será a sua decisão. O género(p=0.009), a religião (p<0.001) e a faixa etária (p=0.036) relacionaram-se de forma estatisticamente significativa com a intenção futura dos estudantes, ao contrário do ano curricular (p=0.076) e da região de origem (p=0.719). Verificaram-se diferenças significativas na perceção do nível de conhecimentos sobre as técnicas, os principais riscos e os motivos para uma IVG entre as diferentes intenções. Recomenda-se a dinamização de estratégias formativas no âmbito da IG e mais estudos focados nos fatores que influenciam a objeção de consciência, de forma a garantir o acesso das mulheres portuguesas à IVG.

Since 2007, voluntary pregnancy interruption (VPI) represents 96 to 97% of all pregnancyinterruptions (PI). A sufficient number of professionals is required in order to ensure access to safeabortion services.We aim to evaluate the perception of medical students regarding VPI teaching and scientificand individual competence acquisition, as well as understanding which factors are influencing students'intentions upon their involvement in future VPI practices.920 FMUC medical students from the 1st, 5th and 6th-degree were invited to complete an onlinesurvey. It was evaluated the importance given to this subject, their opinions on their knowledge leveland on the amount of teaching hours during college (5th and 6th-degree). Their intentions on futureinvolvement in VPI care were asked. A comparative analysis of the amount of knowledge betweenstudents from the 1st and, 5th and 6th degree was carried out. The responses were then statisticallyevaluated.435 students have completed the survey. 56.1% rated VPI teaching during medical school asbeing "Very important". The great majority of the students from the 5th and 6th-degree measured theirknowledge on Portuguese law, conscientious objection and VPI risks as "Good". In the vast majority ofthe topics, there were significant statistical differences in the levels of knowledge perceived betweendifferent degree students. There were no significant statistical differences on the perception of theamount of teaching hours between the 5th and 6th degrees in any of the researched topics. While 60.5%of the inquired students have said to be performing VPI in all cases, 20.7% will only do it depending onwomen’s motive, 5.5% will not entirely do it and 13.3% still do not know what their future decision willbe. Gender (p=0.009), religion (p<0.001) and age group (p=0.036) were associated with future students'intentions, opposite to the year of study (p=0.076) and region of residence (p=0.719). It was verified thatthere were significant statistical differences on knowledge perception levels about VPI techniques, risks,and main reasons between different future intentions.A more dynamic learning strategy about topics regarding pregnancy interruption, as well asmore studies with focus on the factors that influence conscientious objection are suggested in order toguarantee equal VPI access to all Portuguese women.