Ingestão emocional e compulsiva no confinamento pela COVID-19: o papel da autocompaixão, do autocriticismo e do perfecionismo

Abstract

Introdução: A pandemia COVID-19 teve um impacto significativo nos comportamentos alimentares, particularmente nos adultos jovens. Este estudo procurou analisar a influência do confinamento de 15 de janeiro a 14 de março de 2021, em Portugal, na ingestão compulsiva, avaliando o papel do stresse percebido, do autocriticismo, da autocompaixão e do perfecionismo nestes comportamentos. Pretendeu-se igualmente analisar o papel moderador do autocriticismo e autocompaixão na relação entre a ingestão emocional e a ingestão compulsiva.Materiais e Métodos: 476 estudantes do ensino superior (71,2% do sexo feminino; dos 18 aos 47 anos de idade) responderam às versões portuguesas da Perceived Stress Scale, Binge Eating Scale, Emotional Eating Scale, Self-Compassion Scale – Short Version, Forms of Self-criticism and Self- reassuring Scale e Big Three Perfectionism Scale – Short Version. O coeficiente de correlação de Pearson e o modelo de regressão linear múltipla foram aplicados. Realizou-se uma análise de trajetórias para testar se a autocompaixão e o autocriticismo tinham um papel moderador no efeito da ingestão emocional nos comportamentos de ingestão compulsiva.Resultados: O modelo de regressão mostrou que o stresse percebido durante o confinamento (β = 0,17, p = 0,001) e o autocriticismo (β = 0,45, p < 0,001) explicaram 25% da variância dos comportamentos de ingestão compulsiva. Os resultados da análise de trajetórias demonstraram que a autocompaixão e o autocriticismo tiveram um efeito moderador na associação entre ingestão emocional e compulsiva, representando 52% dos comportamentos de ingestão compulsiva.Discussão: Como esperado, os resultados mostraram que o stresse percebido durante o confinamento e o autocriticismo estão associados a episódios de ingestão compulsiva. Na análise de trajetórias todas as variáveis evidenciaram um efeito direto na ingestão compulsiva. Adicionalmente, a autocompaixão e o autocriticismo mostraram um papel moderador na relação entre a ingestão emocional e a ingestão compulsiva. Estas conclusões sugerem que, o desenvolvimento de intervenções que promovam a autocompaixão e diminuam o autocriticismo em estudantes do ensino superior, podem atenuar a ocorrência de episódios de ingestão compulsiva já em curso, bem como atuar na prevenção do seu desenvolvimento.

Introduction: The COVID-19 pandemic had an important impact on eating behaviors, particularly in young adults. This study aims to explore the influence of Portugal’s 15th January to 14th March 2021 lockdown on binge eating, by evaluating the role of perceived stress, self-criticism, self-compassion and perfectionism on these behaviors. And by analyzing the moderator role of self-criticism and self- compassion in the relationship between emotional eating and binge eating.Materials and Methods: 476 college students (71.2% female; 18 to 47 years old) answered the Portuguese versions of the Perceived Stress Scale, Binge Eating Scale, Emotional Eating Scale, Self- Compassion Scale – Short Version, Forms of Self-criticism and Self-reassuring Scale and Big Three Perfectionism Scale – Short Version. Pearson correlation and linear multiple regression tests were performed. Path analysis was performed to test whether self-compassion and self-criticism moderated the effect of emotional eating on binge eating behaviors.Results: The regression model showed that perceived stress during lockdown (β = 0.17, p = 0.001) and self-criticism (β = 0.45, p < 0.001) explained 25% of binge eating behaviors variance. Path analysis results indicated that self-compassion and self-criticism had a moderator effect on the association between emotional and binge eating, accounting for 52% of binge eating behaviours.Discussion: As expected, the results showed that perceived stress during lockdown and self-criticism were associated to binge eating. In path analysis, all variables had a direct effect on binge eating. Additionally, self-compassion and self-criticism showed a moderator role in the relationship between emotional and binge eating. These findings suggest that developing interventions to promote self- compassion and reduce self-criticism in college students, might attenuate ongoing binge eating episodes, as well as prevent their development.