Calprotectina fecal no transplante hepático em idade pediátrica

Abstract

Introdução: A calprotectina fecal (CF) é um importante marcador de doença inflamatória intestinal, e os seus níveis parecem não sofrer alterações por processos inflamatórios extraintestinais. No transplante hepático, o tipo de anastomose intestinal utilizada, a estase intestinal provocada pela dismotilidade, o sobrecrescimento bacteriano ou até a imunossupressão podem favorecer o desenvolvimento de um processo inflamatório. Este facto torna relevante a investigação dos níveis de CF nas crianças sujeitas a transplante hepático e a sua possível utilidade no diagnóstico de complicações digestivas associadas. O objetivo deste trabalho é avaliar a existência de correlação entre valores de CF e variáveis clínicas, analíticas e terapêuticas de modo a interpretar mecanismos fisiopatológicos subjacentes. Material e métodos: foram selecionados 23 indivíduos com idade inferior a 18 anos, submetidos a transplante hepático e com doseamento da CF. Foram analisadas variáveis demográficas, clínicas, analíticas, terapêuticas e os níveis de CF. A análise estatística dos dados foi realizada com recurso ao programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 24, com recurso a testes não-paramétricos.Resultados: Os 23 participantes tinham uma média de idade de 8,04 anos (DP=5,54). O valor CF encontrava-se elevado em todos os participantes, com um valor médio de 415,30mg/kg (DP=506,13). Não foram encontradas correlações estatisticamente significativas entre os sinais e sintomas gastrointestinais e a CF (p=0,507). No entanto, observou-se que a elevação dos valores de bilirrubina direta estão correlacionados positivamente com a elevação dos valores de CF (p=0,046), assim como os valores de bilirrubina total (p=0,041). Não foi encontrada associação entre os valores de CF e a terapêutica imunossupressora. Discussão/Conclusão: Embora não se tenham observado diferenças estatisticamente significativas no que diz respeito à correlação entre a CF e os sinais e sintomas gastrointestinais, verifica-se que a CF está positivamente relacionada com a elevação da bilirrubina direta e da bilirrubina total. Assim, mais investigação deve ser desenvolvida neste campo, de modo a tentar compreender os valores mais elevados de CF encontrados em doentes submetidos a transplante hepático e se este facto se associa efetivamente à presença de inflamação intestinal e/ou hepática.

Introduction: Fecal calprotectin (CF) is an important marker of inflammatory bowel disease, and its levels seams to remain unaltered in cases of extraintestinal inflammation. In patients who underwent liver transplant, the problem remains on the intestinal anastomosis, particularly with the Roux-in-Y, that leaves part of the intestine unused and consequently the stasis allows bacterial multiplication and leads to an inflammatory process. Thus, this justifies the search for a correlation between fecal calprotectin levels in children with liver transplant and the possibility of predicting gastrointestinal complications associated with the procedure. This study focusses on the assessment of this correlation, interpretation of the altered parameters and the understanding of its physiopathology. Material and methods: 23 individuals were selected, aged under 18 years old, that underwent liver transplant and fecal calprotectin measurement. Then the demographic, clinical, analytical and therapeutic variables and the CF values were assessed. The statistical analysis of data was conducted using the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) program, version 24 using non-parametric tests.Results: The 23 patients had a mean age of 8,04 years (DP = 5,54). The CF values were elevated in all children, with a mean value of 415,30mg/kg (DP=506,13). It was observed that the elevated levels of fecal calprotectin were associated with the increasing of the direct bilirubin levels (p=0,046) as well as with de total bilirubin levels (p=0,041). There were no statistical differences found between the CF levels and degree of immunosuppressive therapy used. Conclusion: Although there were no statistically significant differences between the fecal calprotectin levels and the gastrointestinal symptoms, it appears that the elevation of the fecal calprotectin levels is associated with increased levels of direct and total bilirubin. Thus, more research must be developed in this field, in order to understand the higher levels of CF found in patients with liver transplant and if that can relate with bowel and/or hepatic inflammation.