Obesidade e lnfertilidade feminina: consequências e fisiopatologia

Abstract

Cerca de 15% das mulheres a nível mundial são obesas. Trata-se dum fator de risco modificável que pode impactar negativamente a fertilidade feminina. As causas desta associação ainda não se encontram totalmente esclarecidas. Este trabalho pretende fazer uma revisão narrativa dos mecanismos fisiopatológicos e consequências que a obesidade acarreta na saúde reprodutiva das mulheres, fornecendo uma visão mais atualizada do tema como mote para a exploração de novos alvos terapêuticos.Para a sua elaboração foi realizada uma pesquisa da literatura disponível publicada nos últimos 10 anos na base de dados PubMed.De acordo com a evidência atual, o excesso de tecido adiposo gera um estado inflamatório crónico, com estabelecimento de lipotoxicidade e repercussões no eixo hipotálamo-hipófise-ovário. Isto conduz a alterações que vão desde a disfunção ovulatória até a menores taxas de implantação em obesas, com afeção tanto da conceção espontânea como com recurso a técnicas de Procriação Medicamente Assistida. A redução do peso corporal através da modificação do estilo de vida mostrou ser eficaz na restituição da regularidade menstrual, com sucessos reprodutivos evidentes. Se a perda de peso for insuficiente, a farmacoterapia é outra opção de tratamento, mas tem inúmeras contraindicações. Já a cirurgia bariátrica é reservada apenas para casos de obesidade grau II, se presentes comorbilidades associadas, ou grau III.Ainda não existem estudos com novas alternativas terapêuticas que atuem diretamente nos complexos mecanismos implicados na infertilidade em obesas. Assim, para além da elaboração num plano individualizado de perda de peso em obesas inférteis, deve promover-se a prevenção primária e secundária deste problema, com sensibilização das mulheres da população geral.

Worldwide about 15% of women are obese. It is a modifiable risk factor that can negatively impact female fertility. The causes of this association are not yet fully clarified.This work intends to make a narrative review of the pathophysiological mechanisms and consequences that obesity causes on women's reproductive health, providing a more up-to-date view of the topic as a motto for the exploration of new therapeutic targets.For its elaboration, a search of the available literature published in the last 10 years in the PubMed database was carried out.According to current evidence, excess adipose tissue generates a chronic inflammatory state, with the establishment of lipotoxicity and impairment of the hypothalamic-pituitary-ovarian axis. This leads to changes ranging from ovulatory dysfunction to lower implantation rates in obese women, with both spontaneous conception and medically assisted reproduction techniques being affected. Reducing body weight through lifestyle modification is effective in restoring menstrual regularity, with evident reproductive successes. If weight loss is insufficient, pharmacotherapy is another treatment option, but it has numerous contraindications. Bariatric surgery is reserved only for cases of grade II obesity if associated comorbidities are present, or grade III.There are still no studies with new therapeutic alternatives that act directly on the complex mechanisms involved in infertility in obese women. Thus, in addition to developing an individualized plan for weight loss in infertile obese women, primary and secondary prevention of this problem should be promoted, with the awareness of women in the general population.