Avaliação da reserva ovárica numa população de mulheres portadoras de mutações BRCA

Abstract

Introdução: As mutações nos genes BRCA estão associadas a uma maior predisposição para o desenvolvimento de cancro da mama e ovário. Tem sido sugerido que portadoras destas mutações podem apresentar uma reserva ovárica diminuída. Contudo, os resultados de diversos estudos são inconsistentes. O objetivo deste estudo foi avaliar a reserva ovárica e a resposta à estimulação ovárica controlada em mulheres jovens portadoras da mutação BRCA1 ou BRCA2, referenciadas para aconselhamento ou preservação da fertilidade.Métodos: Foi realizado um estudo retrospetivo através da análise dos processos clínicos de 10 doentes com diagnóstico de mutação BRCA, referenciadas ao Serviço de Medicina da Reprodução do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Foi realizada uma análise descritiva dos dados clínicos e demográficos, da reserva ovárica e da resposta à estimulação ovárica. A reserva ovárica foi determinada de acordo com os níveis de hormona anti mülleriana (HAM), da hormona estimuladora de folículos (FSH) e a contagem de folículos antrais (CFA). Resultados: Foram estudadas 10 mulheres, oito portadoras da mutação BRCA1, e duas da mutação BRCA2. Duas mulheres (25%) tiveram níveis séricos de HAM inferiores ao percentil 5 quando comparados com valores específicos para a idade, ambas portadoras da mutação BRCA1. A resposta à estimulação ovárica controlada foi subótima (número de ovócitos obtidos inferior a 10) em 60% das doentes que realizaram criopreservação de ovócitos, todas portadoras da mutação BRCA1. O número de ovócitos em metáfase II foi inferior a oito ovócitos em todas as doentes, tanto BRCA1 como BRCA2. Uma diminuição dos níveis de HAM superior a 80% foi verificada após tratamento do cancro da mama.Discussão: A reserva ovárica encontrou-se diminuída em 25% das mulheres estudadas e a maioria apresentou uma resposta subótima à estimulação ovárica controlada realizada no contexto de preservação da fertilidade. O número de ovócitos maduros foi igualmente inferior ao valor ótimo. As mulheres que realizaram tratamentos para o cancro da mama, após preservação de fertilidade, desenvolveram insuficiência ovárica prematura. Apesar da amostra ser pequena, estes resultados estão de acordo com vários estudos publicados e reforçam a importância do aconselhamento em relação à preservação da fertilidade. São necessários estudos adicionais para esclarecer o efeito destas mutações no potencial reprodutivo das portadoras.Conclusão: As portadoras de mutações BRCA devem ser aconselhadas em relação ao risco de diminuição do seu potencial reprodutivo e esclarecidas quanto às estratégias de preservação da fertilidade.

Introduction: Mutations in the BRCA genes are associated with an increased predisposition to the development of breast and ovarian cancer. It has been suggested that carriers of these mutations may have a decreased ovarian reserve. However, the results of several studies are inconsistent. The aim of this study was to evaluate the ovarian reserve and the response to controlled ovarian stimulation in young women carrying a BRCA1 or BRCA2 mutation, referred for counseling or fertility preservation.Methods: A retrospective study was conducted through the analysis of the clinical files of 10 patients diagnosed with BRCA mutation, referred to the Reproductive Medicine Service of the Hospital and University Center of Coimbra (CHUC). A descriptive analysis of the clinical and demographic data, the ovarian reserve and the response to ovarian stimulation was performed. The ovarian reserve was determined according to the levels of anti-Müllerian hormone (HAM), follicle stimulating hormone (FSH) and antral follicle count (CFA).Results: Ten women were studied, eight with the BRCA1 mutation and two with the BRCA2 mutation. Two women (25%) had serum HAM levels below the 5th percentile when compared to age-specific values, both with the BRCA1 mutation. The response to controlled ovarian stimulation was suboptimal (number of oocytes obtained less than 10) in 60% of patients who underwent oocyte cryopreservation, all carrying the BRCA1 mutation. The number of oocytes in metaphase II was less than eight oocytes in all patients, both BRCA1 and BRCA2. A decrease in HAM levels of more than 80% was seen after treatment for breast cancer.Discussion: Ovarian reserve was reduced in 25% of the women studied and the majority showed a suboptimal response to controlled ovarian stimulation performed in the context of fertility preservation. The number of mature oocytes was also less than the optimal value. Women who underwent breast cancer treatments, after fertility preservation, developed premature ovarian failure. Although based on a small sample, these results are in accordance with several published studies and reinforce the importance of counseling regarding fertility preservation. Additional studies are needed to clarify the effect of these mutations on the reproductive potential of carriers.Conclusion: Carriers of BRCA mutations should be informed about the risk of a decreased reproductive potential and counselled about fertility preservation strategies.