Encontro Terapêutico e Filosofia. Um Caminho Percorrido com Paul Ricœur

Abstract

A presente dissertação pretende fundamentar filosoficamente o encontro terapêutico, partindo da filosofia de Paul Riœur e partimos da noção de falibilidade, que encontramos em O Homem Falível, obra do filósofo que marca a fundação de uma antropologia da desproporção humana, em que a identidade narrativa é construída e reconstruída ao longo das experiências de vida da pessoa., que contraria a antropologia tradicional. Esta reflexão brotou da nossa própria vivência profissional, enquanto profissionais de Técnicas Não-Convencionais (TNC), em que assistimos muitas vezes a essa desproporção e à necessidade de uma reconfiguração narrativa da identidade à medida que é recuperado algum bem-estar e qualidade de vida, através da melhoria dos sintomas que eram causa de queixa, lamento e que levaram a pessoa a procurar este tipo de tratamento. Também o descontentamento narrado por algumas pessoas que procuram este tipo de abordagem terapêutica, acerca do atendimento muitas vezes desumanizado nos cuidados de saúde convencionais, levaram-nos por uma viagem pelas agora em voga éticas do cuidado, sempre de mãos dadas com Ricoœur e a sua “Petite Éthique”. No intuito de fundamentarmos a ideia segundo a qual a manutenção das capacidades humanas, nomeadamente a de agir, precisa do care, de uma ética de proximidade e de relação, embrenhamo-nos na nossa realidade das terapias não-convencionais, nomeadamente a da Medicina Tradicional Chinesa, tentado aplicar na nossa prática diária esta base antropológica, uma vez que não é só o corpo da pessoa que sofre limitações e se altera, mas também a sua rede pessoal, interpessoal. E consequentemente, toda a vida social.

The present dissertation intends to philosophically base the therapeutic encounter, starting from the philosophy of Paul Riœur and from his notion of fallibility, which we find in Fallible Man, which is expressed by the testimony in its ipseity, in which the narrative identity is constructed and reconstructed along with the person's life experiences. This reflection sprang from our own professional experience, as professionals in Non-Conventional Techniques, in which we often see this narrative reconfiguration of identity, as some well-being and quality of life is recovered, through the improvement of the symptoms that were the cause of complaints and groan that led the person to seek this type of treatment. Also, the discontent narrated by some people who seek this type of therapeutic approach, about the often dehumanized care in conventional health care, also took us on a journey through the now in vogue care ethics, always hand in hand with Ricoœur and his “Petite Éthique”. With the intention of substantiating that the maintenance of human capacities, namely the notion of act that needs care and an ethics of proximity and relationship, we immerse ourselves in our reality of Non-Conventional Therapies, namely Traditional Chinese Medicine, in a attempt to apply this anthropological basis in our daily practice, since it is not only the person's body that suffers limitations and changes, but also their personal and interpersonal network. And so, the whole of the social life.