Saber e poder: uma escola que queria ser cidade

Abstract

Para melhor compreender como um projeto de arquitetura articula um saber sobre a cidade e de como este se articula em poder, proponho interpretar o projeto de um edifício escolar em Portugal, de 1960, com o seu contexto alargado. O projeto em causa é a escola primária da Quinta do Cedro, concebida pelo arquiteto Fernando Távora, com Augusto Amaral e Alberto Neves, entre 1957 e 1958 para a cidade de Vila Nova de Gaia. E surgiu de um plano nacional de construção escolar, iniciado em 1940 e promovido pela ditadura encabeçada por Oliveira Salazar. Para identifcar a passagem de saber em poder sobre a cidade, no projeto, proponho capturar o seu processo através de três elementos: a urbanística educada aos autores do projeto; o processo de planeamento urbano no qual se veio a integrar; a estratégia e objectivos da política de obras públicas que lhe deu origem. Isto implicará perceber que conhecimentos de urbanismo estavam presentes, que contributo urbano se esperava do projeto para V.N. de Gaia, e como este praticou a política de construção escolar da ditadura. Desta forma tentarei capturar como um saber acerca da cidade se articulou com os seus possíveis campos de poder sobre esta. Numa altura em que vários arquitetos procuravam reescrever os compromissos da disciplina de arquitetura, revendo criticamente o legado modernista, Távora escreveu que esta escola praticava os princípios para “um novo caminho na Arquitectura Portuguesa.” Dado isto, as questões que debaterei são as seguintes: será que nestes princípios de projeto encontramos uma forma de pensamento acerca da organização de cidades? De que é feito esse pensamento sobre a cidade? Como se articula em poder sobre a cidade através do projeto de arquitetura?