Discursos e protestos sindicais e sociais em contexto de austeridade: uma oportunidade perdida para a construção de territórios identitários comuns?

Abstract

Os últimos anos de austeridade constituíram uma oportunidade para que, em território nacional, as “velhas” organizações sindicais (com destaque para a CGTP e UGT) e os “novos” atores sociolaborais (como o FERVE, a rede MayDay, a Associação de Combate à Precariedade ou o Movimento dos Sem Emprego) organizassem respostas sociais conjuntas. Na verdade, foram múltiplas as razões para contestar (seja sob a forma de greves, seja sob a forma de protestos sociais mais amplos) a perda de direitos laborais e sociais: flexibilização do mercado de trabalho; enfraquecimento do papel dos sindicatos e da negociação coletiva; reforço de assimetrias no mercado de trabalho; forte diminuição do poder de compra das famílias; maior empobrecimento do setor produtivo; agravamento da incompatibilidade do trabalho com a vida pessoal e familiar. Em geral, o trabalho e a precariedade estiveram quase sempre presentes tanto na agenda das organizações sindicais, como na de outras organizações e movimentos sociolaborais. Porém, apesar da pressão para a “soma esforços” – no sentido de criar um “território identitário” de discursos e protestos comum – a construção de alianças sociais foi secundarizada. Neste texto alinham-se os discursos e práticas sindicais e sociais sobre a austeridade, de modo a evidenciar as dificuldades em contruir um território identitário comum.

The last years of austerity provided an opportunity (at the national level) for the building of organised joint social responses between the "old" trade unions (particularly the CGTP and UGT) and the "new" socio-occupational actors (such as FERVE, the MayDay network, the Association of Fighting the precariousness or the movement of the unemployed). In fact, there were multiple reasons to challenge (either in the form of strikes, whether in the form of broader social protests) the loss of labor and social rights: flexible labor market; weakening of the role of trade unions and collective bargaining; reinforcing inequalities in the labor market; sharp fall in household purchasing power; further impoverishment of the productive sector; worsening of labor incompatible with personal and family life. In general, work and precariousness were almost always present both on the agenda of trade unions, as in the other socio-occupational organizations and movements. However, despite the pressure to "sum efforts" - to create a common ground, a "territorial identity" of speeches and protests - building social alliances was sidelined. This text line up speeches and labor and social practices vis-à-vis austerity, in order to highlight the difficulties in build a common identity territory.